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terça-feira, 28 de dezembro de 2004

Um post e três temas

Esses dias em Baixios, onde estive muito próximo à natureza e a pessoas queridas, me fizeram refletir um pouco sobre vários temas. Escolhi três deles – Sedução, Abundância e Matar - , sobre os quais escrevo neste post 3 em 1.

E para os que não entenderam nada desse meu reaparecimento repentino no meio das minhas férias, digo que compromissos urgentes me obrigaram a voltar a Salvador para resolvê-los, mas está tudo ótimo. Voltei à capital só por hoje, mas amanhã retorno ao meu pequeno paraíso no litoral norte da Bahia (pertinho de Aracaju!!!!!) para passar o Reveillón. Se tudo acontecer como esperado, ainda devo postar algo antes de 2005. Namasté!

SOBRE SEDUÇÃO

Não engane-se, Leandro. Certamente não são elas as piranhas. Estas são mais esguias, têm extremidades avermelhadas e corpos cobertos de pequenas escamas-espelho que refletem a luz do sol. Com certeza, se fossem elas de fato, não estariam nadando a 20 cm do seu corpo. O orgulho que emana do poder que têm, concedido por mandíbulas de força inigualável e dentes afiadíssimos, não lhes permitiria tamanha humildade. Elas são difíceis e arredias, como tudo que é majestoso, Leandro. Tudo. E as piranhas não fogem à velha regra da dificuldade e do esforço. Até para nadar por entre piranhas exige-se esforço. Neste caso, não adianta apenas jogar-lhes comida. Flocos flutuantes e industrializados atraem apenas as fáceis e ordinárias tilápias. Estas sim, vêm famintas e, num descuido, podem ser capturadas por um jereré manuseado até por uma criança e ter suas gargantas cortadas em segundos. Já as piranhas não. Não é fácil seduzi-las com bolinhas flutuantes. As piranhas podem até se deixar seduzir. Mas isso vai requerer tempo, Leandro. Conquistar piranhas é difícil e leva tempo, como fazer um amigo.

***

Segunda-feira eu nadei entre os peixes do nosso rio de águas douradas – antes um brejo lamacento, habilmente transformado pela esperança e trabalho de minha mãe. O rio é infestado por piabinhas e peixinhos maiores que denominamos ‘she-ras’ – alcunha que não tem nenhuma relação com os super poderes da irmã do herói de Greyskull.

Trouxe-lhes comida industrializada em bolinhas que usamos para alimentar as tilápias em um lago artificial. Sentei no leito do rio e praticamente alimentei as piabas com as mãos. Olhava ao fundo e achava que os outros peixes maiores que não se arriscavam a ir à flor d’água – e conseqüentemente para mais próximo de mim – eram as piranhas que habitam o rio em pouca quantidade, sem oferecer perigo aos nadadores, mas não eram. Piranhas mesmo vi depois, num breve relance que deu para notar a diferença entre elas, as verdadeiras e arredias piranhas, e os peixes que eu admirara por alguns minutos acreditando serem as carnívoras nadadoras. E notei que quanto maiores, mais difíceis os peixes. Parecem ter consciência do tamanho e da quantidade maior de carne que podem oferecer. Será que os peixes mais deliciosos são os mais difíceis de ser pescados? Ou será que é o tamanho da nossa vontade de pescá-los que os torna deliciosos ao paladar quando conquistados, digo, pescados? Vá saber.

***

Já os cajus não. Estes te seduzem pelo brilho da casca que reluzem ao forte sol de verão em tons que vão do amarelo mais pálido ao laranja quase vermelho. Alguns, belíssimos, se colocam à altura das mãos, como que pedindo que uma arcada dentária inteira lhe fira as entranhas numa deliciosa mordida. Quem vê, exclama de alegria diante de tamanha beleza e, fácil e rapidamente, abocanha com as mãos a bela fruta. Mas quando a esmola é grande o cego desconfia – pura verdade. Fruta posta na boca, sente-se o amargor. Isso se não descobre-se antes que um buraco já havia sido feito por algum pássaro que, como nós, deixou-se seduzir pela beleza fácil da fruta. E até os experientes pássaros caem nas arapucas da sedução...

SOBRE ABUNDÂNCIA

Se alguém souber a resposta, me diga. As árvores estão carregadas de manga . É tamanha a quantidade que não tem quem dê conta. E o resultado inevitável são poças enormes de polpa da fruta nas sombras das mangueiras. Você come, doa, vende, e mesmo assim não parece capaz de evitar o desperdício. E o mesmo ocorre com os cajus.

Não duvido nem nunca duvidei da razão que há para tudo na vida, mas ainda não entendo esse ‘excesso de abundância’ na natureza. Na minha pobre e humilde visão de mundo, acho que as temporadas de frutas deveriam se espalhar ao longo dos meses do ano, dando-nos a possibilidade de consumi-las sem pressa nem desperdício. Mas a natureza escolhe uma época e, nela, descarrega a sua generosidade de uma só vez. Com certeza existe uma explicação. Alguém saberia responder?

SOBRE MATAR

No domingo resolvemos que queríamos pescar tilápias no lago artificial para comer no almoço. Pescar foi difícil, apesar das tilápias, como já disse, serem peixes fáceis de seduzir. Mas ainda mais difícil foi matá-las. E a árdua tarefa ficou para mim, que nessas horas abraço as novas e inéditas experiências no intuito de criar mais tópicos para o meu currículo. Minha mãe argumentou que é contra a morte demorada – aquela em que deixamos o pobre do peixe se debatendo até que lhe falte a energia vital e faleça. Concordando com ela, tratei de achar uma faca devidamente afiada e pensar no golpe que seria fatal - descoberta difícil para um marinheiro, ou melhor, pescador-assassino de primeira viagem. Resolvi, finalmente, que cortar-lhes a garganta seria o mais rápido e menos agonizante para nós dois: eu e o peixe-vítima. De posse da minha faca devidamente afiada para o assassinato, trouxe à memória o fato de que até Jesus matou milhares de peixes. Essa foi a forma que achei para encontrar as desculpas e forças que precisava para cortar a garganta do peixe que estrebuchava logo ali à minha frente.

Digo-lhes amigos: doeu. E doeu nos dois: na vítima e no algoz quase vítima que era eu. Foi um gesto de coragem e crueldade. E é doloroso ter que juntar esses dois sentimentos num só ato. Fiz questão de comer cada parte de cada peixe que matei. O alívio da minha fome ajudaria a apaziguar os males que o ‘peixecídio’ causara à minha consciência. E como bom Cristão e pescador que sou, depois do almoço dormi em paz. E com mais algumas gramas de proteínas no bucho.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2004

Depois eu volto...

É isso aí, gente boa... tô me mandando pra o Litoral Norte, vou ficar com a minha família e com o meu amor, vou comemorar o Natal e nem sei se volto aqui para o Ano Novo.... ficam aqui os meus votos de Paz e muito Amor para todos vocês nesses últimos dias de 2004 e no ano que entra!!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

Luzes, som e paz


Para quem achava que Salvador era uma cidade onde reinavam somente o Axé e o Carnaval, aqui vai o relato do meu dia, que prova que a minha cidade é eclética a ponto de ter um dos Natais mais lindos do Brasil. E estou sendo bairrista mesmo, mas sou um bairrista moderado - inclusive, acabei de ver na TV a decoração de Fortaleza que está maravilhosa também. É que o Pelourinho está um verdadeiro presépio, gente. E nessas horas não consigo não ser superlativo. Vocês podem conferir nas fotos, não preciso descrever o que vi, mas tenho que dividir com vocês o que senti.

Fui de ônibus porque sabia que o Centro estaria um inferno. Andando na Rua Chile, em direção ao Elevador, já se avistam luzes. O Elevador está iluminado com várias cores, que se alternam num colorido belíssimo. Do alto da praça, onde está a sorveteria Cubana, na saída superior do Elevador, avista-se o Mercado Modelo, com uma iluminação renovada, o que lhe valoriza o porte de casarão. Ando em direção ao Pelourinho e, antes de chegar, me deparo com as belas luzes da Praça da Sé, onde um palco armado abriga crianças cantoras. Ao fundo do palco, o Monumento da Cruz Caída, revelando a Baía de Todos os Santos. Muitas famílias vêm ao local. O som é envolvente, parece vir dos céus. Até os carrinhos de pipoca se enfeitaram para a festa. Pessoas fazem fila para entrar na exposição de Santeiros e para visitar o Presépio Virtual, onde nem fiz questão de entrar: eu já estava dentro do próprio presépio. Meninas vestidas de Estrela Dalva posam comigo para uma foto. Não consigo parar de fotografar. Chego ao Terreiro de Jesus, a 'ante-sala' do Pelô. De lá avisto o Cruzeiro de São Francisco, e a praça que o abriga iluminada como nunca esteve antes. O vento no local é forte, mas vento forte na Bahia é como uma brisa nos lugares onde o clima é menos ameno. As cores das luzes, as pessoas tirando fotos, tudo aquilo chama para um clima de paz interior, de reencontro consigo mesmo - via muitos baianos tirando fotos, o que é ótimo, pois precisamos amar a nossa cidade e nos orgulhar dela para aprendermos a respeitá-la mais.

Começa o ponto alto da festa. Pontualmente, às 20h, entram as crianças que participam do Coral da Cidade do Salvador. Algumas se alojam nas janelas que circundam o palco, outras ocupam o próprio palco e em segundos abrem a noite com músicas que vão desde o cancioneiro local, passando por baladas de Roberto Carlos, até as músicas clássicas do Natal. A apresentação envolveu performances teatrais, textos e imagens projetadas em um telão que remetiam às culturas baiana e brasileira. Tentativa feliz de fazer um Natal mais local, mais com a cara da Bahia e do Brasil. Eu me emocionei e chorei três vezes, principalmente na última música, o Hino do Sr. Do Bonfim, que emociona todo e qualquer cidadão que mora em Salvador e é baiano de coração.

O espetáculo é inesquecível, quem mora aqui não pode perder; quem vem esse ano não pode deixar de ver. Quem não veio ainda a Salvador nessa época tem de vir. Fica aqui a dica.

Feliz Natal e Namasté.

Publico aqui apenas essa foto, mas no Fotoblog tem mais. É só clicar aqui. E pra saber mais sobre o Natal no Pelô, clique aqui.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

Pré- Natal


(Este é um post especial de Natal. Decidi, nesse caso, que, de fato, imagens falam mais que palavras. Portanto, não deixem de dar uma olhada em TODAS as fotos aqui e lá no meu fotoblog)
Nessa época do ano, nosso grupo de amigos se reúne numa festinha que apelidamos de pré-Natal, por motivos óbvios. Nos juntamos e sempre trocamos presentes, não num amigo secreto com sorteios, mas aquele em que um pode roubar o presente do outro... se não deu pra entender, só vindo pra cá no próximo ano; é difícil de explicar aqui.
Bem, esse ano eu fiquei com um sapinho, que de tão invejado pelo meu amigo Leosinho, decidi dá-lo de presente a ele ao final da festa - voltei sem lembrancinha pra casa, mas fiz um pobre amigo feliz. Este ano comemoramos no Bar da Ponta (Trapiche Adelaide), um bar, para os que não conhecem, montado num pier sobre a Baía de Todos os Santos. O lugar é favorecido pela bela vista da Baía e também do Elevador Lacerda, que muda de cor a cada 30 segundos, criando um belíssimo espetáculo - veja foto abaixo. Para ver mais fotos, e o layout especial de Natal do fotoblog, clique aqui .

Ritoca roubando o sapo de Juli - EU acabei ficando com o sapinho mais concorrido do pré-Natal.

Liga das Libelulas Loucas (LLL)


Momento descontração Ritinha e Vinis.


Vista linda do Elevador Lacerda do Bar da Ponta - Pré Natal 2004


Leosinho, eu, Vinis e Valter - Pré-Natal 2004 - Bar da Ponta, Salvador-BA

Renata, Marco, Leosinho e eu - Pré-Natal 2004 - Bar da Ponta, Salvador-BA

Leosinho, Valter e eu - Pré-Natal 2004 - Bar da Ponta, Salvador-BA

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

Encaixotado


Ufa, ufa, ufa. Mais ufas: ufa, ufa, ufa. Quase tive um colapso, mas acho que acabou a minha mudança. É incrível como um apartamento daquele tamanho - minúsculo - pode caber tanta tralha. Estou no processo desde sábado, e mesmo assim não consigo terminar a mudança. Acabou. Quer dizer, ainda falta uma mesinha lá, algumas roupinhas acolá, mas no mais, acho que acabou. Não! Ainda falta arrumar tudo aqui, no meu novo lar. Mas não: arrumo depois, não pretendo ficar aqui por mais que dois meses, não justificaria colocar tudo nos seus devidos lugares agora, para daqui a o quê, sessenta, setenta dias ter de colocar tudo de novo nas caixas?

Uma vida encaixotada

O resultado é que a minha vida agora está devidamente compartimentalizada. Em caixas. Numa caixa roupinhas de inverno, em outra, talheres, em outra CDs, em outra 'revistinhas infantis'. Minha empregada tratou de colocar uma etiqueta em cada uma delas. O difícil é saber onde está, por exemplo, o cabo-que-conecta-o-vídeo-cassete-ao-som. Não tem uma caixa só de cabos, aí é inevitável ter de procurá-lo em TODAS as caixas sem etiquetas, ou como minha diarista preferiu nomear, 'coisas gerais de Leo'. Coisas gerais? Ah tá. Não quero nem pensar quando eu precisar encontrar aquele convite pra festa que eu decidi guardar de recordação, ou aquela minha camisa azul que nunca usei, ou aquela vela decorativa linda que esperei o ano inteirinho para acender no Natal.

Uma chave em 50 caixas

Mas há situações mais estressantes. No final de 2002, quando voltei para Salvador, a situação era MUITO pior, porque, além de ter de fazer a mudança, ainda se tratava de uma mudança de cidade. Ou seja: todas as caixas deveriam estar devidamente lacradas e com endereço de destinatário e remetente. Isso implicou em hoooooraaaas de trabalho. Minha diarista de lá que o diga. Ah sim, e lá ainda tinha um fato mais agravante: Tânia era analfabeta. Mal sabia escrever o próprio nome, quanto mais etiquetar caixas. Há, há, há. Mesmo se soubesse não me pouparia de um dos maiores sustos da minha vida. O post vai ficar longo, mas vou contar: passei quase uma semana etiquetando as caixas e, na véspera da minha partida, de carro, para Salvador, marcada impreterivelmente para as 5 da manhã, eu fui até a empresa de ônibus - numa viagem que durou uns 40 minutos - para levar as caixas que embarcariam no dia seguinte, de ônibus, para cá. Não precisa dizer o quanto eu estava exaurido de cansaço e o quanto foi bom ver todas aquelas caixinhas, devidamente batizadas com meu nome - de remetente e destinatário -, arrumadinhas no depósito da empresa de ônibus, prontas para embarcar. Voltei para casa aliviado, pronto para me concentrar no próximo passo: a viagem de volta a Salvador!!! Que excitante. Chego na porta do prédio. Já passavam das 18h. Vasculho TODOS os meus bolsos. Cadê a chave do carro, cadê a chave do apartamento? Já adivinharam? Pois é. Dentro de UMA das CINQÜENTA caixas. Tive um ataque de desespero, peguei um táxi - que me custou os olhos da cara - e chego na empresa de ônibus, tremendo nas bases, com medo de que as minha caixinhas já estivessem na estrada... junto com a chave. Quer desespero maior? O armazém já tava fechado, mas com um suborno de dez reais o mineirinho da porta me deixou entrar. E aí Deus foi bom comigo. Confiei na minha intuição e na quinta caixa encontrei as benditas chaves. Ufa, ufa, ufa. Mil ufas. E acabou dando tudo certo. Dois anos depois, olha eu aqui de novo no final de uma mudança.
***
Na foto, tirada hoje, no que - espero!! - foi o último carregamento da mudança, eu Gil (meu cunhado) e Júnior, meu amigo mais que querido que me deu uma força que vocês nem imaginam. Ah sim, ontem abri um Fotoblog pra ele e ele adoraria receber visitantes. Clique aqui e faça um amigo de Leo feliz!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Dos 4 Cantos - Natal!!!

Olá galera... Hoje, segunda-feira, é o meu dia de escrever no "Dos 4 Cantos". E o tema da semana é NATAL. Dê um clique aqui e boa semana para todos!

Namasté!

sábado, 18 de dezembro de 2004

Sorvete da Ribeira


Ontem tirei a tarde para visitar a Ribeira, na Península Itapagipense. A Ribeira é um bairro lindo, mal-tratado, diga-se de passagem e com bastante ênfase, mas que guarda um clima de cidade de interior, de cidade antiga, que tem um mar lindo, de águas calmas e um sorvete delicioso, que é obrigatório para quem visita a cidade - uma diversão garantida num domingo à tarde. Como agora estou passando uns dias na Cidade Baixa, com a minha mãe, as delícias da Ribeira estão mais acessíveis a mim. Com a minha nova câmera digital - estou muito chique! - não faltaram paisagens nem situações dignas de um clique - é que com este tipo de equipamento a gente simplesmente clica sem medo de errar, e a Ribeira é um daqueles lugares super fotogênicos. Para saber mais, leia o que escrevi logo abaixo, e clique aqui para ver mais fotos!

Saltos


Sentei sob a sombra de uma bela amendoeira que chorava lágrimas verdes que se escorriam no mar, olhei para os lados e via casinhas pobres, antigas, maltratadas pelo tempo e pela vida corrida e insensível de todos nós que com a pressa não lhes admiramos a beleza. Passei acariciando as suas paredes com a minha lente, elas se abriram em flor, ainda timidamente, sem entender muito por que aquelas lentes a enamoravam tanto.
Andei pela praia de areia fina, descobri que por aquelas bandas atracam búzios belíssimos, que crianças gritam de alegria quando estranhos se aproximam e que barquinhos são retirados pelos seus donos, com carinho, do mar - talvez para não cederem a uma tempestade ou às correntes marinhas, talvez por excesso de amor do barqueiro; não saberia dizer. Ao longe, um armazém inútil. Útil apenas aos que se enamoram e não podem pagar por um ninho de amor e destilam ali os seus desejos sem dúvidas mais aguçados pela brisa que emana do mar da Península.

Percorri a ponte que leva ao centro do mar e crianças pintoras jogavam-se em pulos extravagantes na água, numa familiaridade tão grande com tudo aquilo, que me assustava a cada salto gigantesco e a cada mergulho de horas. Uma delas quis me provar que conseguia ir até o fundo e trazer areia. Volta, depois que eu já a considerava morta, com um punhado de areia na mão. Estava provado, ela era dali, provavelmente crescera ali. Não se sentiam envergonhadas com a câmera. Como bons artistas e baianos que são, aumentavam a altura dos saltos, gracejavam sorrisos para a minha lente.

No céu um Boeing sobrevoava aquele mundo da Ribeira, chamando a lente para registrar o paradoxo. Do alto, sentado na poltrona daquele jato, um passageiro comum não poderia imaginar que aquelas formiguinhas quase invisíveis, lá embaixo, naquele triângulo irregular que é a Península, olharam para o alto naquele instante e, num salto de ingenuidade gritante, tentaram tocar o grande pássaro de aço que lhes sobrevoava a cabeça. Ergueram-se ávidos, emoldurados pelo céu de um azul distante, mas tudo que conseguiram foi ver o mar lá embaixo ainda mais longe e um arrepio de salto mortal inédito. Salto que busca o céu, mas que só revela o mar e, junto com ele, a humanidade de todos nós.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

Praça


Cheguei de Aracaju hoje pela tarde e já saí por aí pra estrear a minha nova câmera digital. Finalmente poderei registrar momentos e reativar o meu Fotoblog, que eu não estava dando muita atenção simplesmente porque me faltavam fotos - a óbvia matéria-prima para a existência de um FOTOblog. Então pois, quem clicar aqui vai ver mais fotos da Praça Nossa Senhora da Luz, na Pituba, em frente ao UEC, lugar onde ensino. Tenho o privilégio de ver, da minha sala de aula, além do belo mar azul da Bahia, essa praça, que fica ainda mais linda no Natal. Eu adoro decoração de Natal, e Salvador, nos últimos anos, tem ficado muito bonita nessa época. Ainda vou dar uma voltinha pelo Pelô para conferir e mostrar pra vocês aqui.

Encontro 'Caótica'


Hoje também foi dia de rever amigos antigos. Nos reunimos no Mariposa - creperia no Jardim Apipema - para papear e saber como andam as coisas depois de mais de dez anos que nos conhecemos. É claro que não faltaram assuntos e recordações dos anos maravilhosos que passamos juntos na Universidade Caótica do Salvador. Estiveram presentes Carol, Aline, Queleto, Lea, Cacá, Urbano, Mário, Adriano Papirão e eu, mais conhecido, para eles, como Leo Mel (isso daria um post) - faltou você, Lúcio Pertigas. E descobrimos, entre outras coisas, que já estamos velhos, que éramos idealistas - ou talvez ainda sejamos, só mudam os ideais -, que só eu não segui a área de Publicidade, etc.
Foi bom estar numa mesa onde todos têm mais de trinta, onde todos dividem lembranças e mais lembranças de um tempo que correu simultâneo para todos nós. Foi com essas pessoas que eu passei a ter prazer de freqüentar um grupo de amigos, e que de fato me senti 'incluído'. Talvez muitos deles só fiquem sabendo disso depois que lerem este post, mas é uma verdade. Até a universidade eu nunca tinha tido uma galera, apenas poucos amigos. A minha socialização se deu muito graças a essas pessoas queridas que hoje se sentavam àquela mesa, como há mais de dez anos faziamos, como talvez adolescentes que ainda somos, já fomos ou nunca mais seremos, alguns casados, alguns com filhos, outros com sobrinhos que são como fossem filhos, a maioria ainda em Salvador, outros fora até do Brasil, alguns com 'memória de elefante', outros - como eu - precisando generosamente ser lembrados dos momentos de alegria que passamos juntos, mas todos, sem exceção, ainda com sonhos irrealizados, com planos e esperanças na cabeça. Bom humor, sempre. Alegria, sempre. Trabalho, muito, e sempre. E vivos. E quem sabe em 2014 a gente não se encontre outra vez, já quarentões, com os sonhos renovados, mais lembranças, mais filhos, mais sobrinhos, mais amores e uma nova tonelada de esperanças?

(na foto, Aline, uma das mais queridas amigas, numa pose para o espelho no banheiro do Mariposa. Mais fotos do encontro em breve no Fotoblog.)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Últimas horas

E não tem nada melhor no mundo que tirar férias. E mesmo que sejam férias a poucas horas de distância de onde você mora. No final das contas, estar longe, mudar de paisagem, é sempre um alento, uma oportunidade de ver um mundo diferente, de dar a si mesmo diferentes olhos. Nunca retorna-se igual ao que se era antes, sempre haverá uma transformação, por mais sutil que seja. O chato mesmo é voltar, principalmente quando a viagem foi, digamos assim, tão proveitosa. Amanhã embarco de volta a Salvador e, como todo bom ser humano que esquece de viver o presente, dedico-me neste momento a torturar-me com o fim das horas que ainda tenho por aqui. O meu consolo é que voltarei mais vezes, com certeza.

Atualizações cinematográficas

(me darei ao luxo de fazer mais de um post hoje; encontrei um Cyber Café que cobra a bagatela de 2 'real' a hora)

Aqui em Aracaju cinema ainda é um programinha barato. Diferente de Salvador, cujo preço chega a 16 'real', aqui o máximo é 10. Inteira. Hoje, quarta-feira, é 7 . Deu pra me atualizar bastante. Vejam só:

Ontem vi "As Branquelas": comediazinha americana, legal para ir com uma boa companhia, que era o meu caso. Teve também a atuação excelente dos atores principais - que, desculpem-me os mais cinéfilos e atentos, nunca vi mais gordos.

Anteontem foi "Bridget Jones - No limite da razão" - outra comédia, mas agora com aquele 'leve' humor britânico. O filme é de Renné Zellweger. Não consigo ver aquele filme feito por qualquer outra atriz. Zel é carismática, inteligente, sensível ao papel. Se não curte humor britânico, mas curte uma boa atuação, imperdível.

Sábado fui ver "Os Incríveis". Esperava mais, diante de tanta exposição da mídia. Tinha gente dormindo no cinema na primeira hora do filme que, de fato, é muito cansativa. Mas como a-d-o-r-o super-heróis, o filme valeu, principalmente pelos últimos 20 minutos. Ia levar meu sobrinho para ver. Desisti. Não sei se ele agüentaria a primeira metade.

Hoje vou ver, de novo, "Má Educação". Tenho bons motivos: amei o filme, aqui é barato e tem uma pessoinha que ainda não assistiu. E como é sempre bom dividir as coisas boas da vida com quem a gente gosta...

terça-feira, 14 de dezembro de 2004

Duas coisinhas

Ainda em terras sergipanas. Só tenho duas coisinhas a dizer:

1. Aracaju nunca esteve tão bela;
2. Parece que está rolando uma festa de aniversário no meu peito.

No mais, veja mais fotos
aqui.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2004

Notícias de terras sergipanas

Mudar de ares é sempre um presente para a alma. E os ares de Aracaju são um pesente em especial. Tinham pelo menos 4 anos que não voltava aqui e estou surpreendido como a cidade cresceu, ganhou ares mais cosmopolitas, com prédios novos, cinemas legais, shoppings atraentes, mas continuou mantendo aquele aspecto aconchegante de cidade do interior. E eu tenho saído bastante, comido caranguejo e pastel - algumas das especialidades da terra -, conhecido gente prá lá de legal. E é isso. Estou num Cyber café e por isso nem posso escrever demais, mas achei que seria interessante deixá-los atualizados. Cliquem aqui para ver fotos da noite de sábado.
E como poderia esquecer? Hoje tem post meu lá no "Dos 4 cantos". Clique aqui. O tema essa semana é AMOR.

sábado, 11 de dezembro de 2004

Parada

Estou de f-é-r-i-a-s. Pelo menos do UEC, porque o mestrado me espera com milhões de coisas para escrever. Mas só saber que não tenho mais a obrigação diária das aulas, já trata-se de um alívio bem grande - não que não goste das minhas aulas, mas estar de férias é sempre ótimo.

Para comemorar, vou a Aracaju, hoje, numa missão especialíssima, ainda secreta, mas só posso adiantar que tem a ver com o coração. De quebra, vou conhecer Nanda, minha amiga - ainda - virtualíssima pessoalmente. E vamos tirar milhões de fotos que planejamos postar aqui durante a semana; isso se der tempo, diante de tantos planos que temos. Espero que não morram de inveja.

E férias me lembram de ócio, praia, sol, cheiro de Sundown, pôr-de-sol todos os dias da janela - porque sempre estou trabalhando durante esse horário - de namoro, de rede, de amigos, de festa, de Carnaval, de sal, suor, viagem, avião, ônibus, me lembram da minha infância, de Baixios, de vovó. Férias me lembram que é possível e necessário pausar, é humano precisar dormir sem hora de acordar, é humano querer sair do ninho, voar, voar até cansar e voltar reabastecido ao mundo real, onde tudo estará te esperando de novo para refazer o ciclo da vida, como o pulsar de um coração que, na sua diástole reabastece-se para o próximo segundo que bombeará sangue suficiente para manter a vida acontecendo.

Aos que ficam, um beijo no coração. Prometo atualizar sempre com as novidades. Não digo que não falharei um dia ou outro. Afinal... estou de férias!!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

Peitos

Recordar é viver. E como hoje eu estou gripado e precisando dormir, resolvi publicar este texto que é um dos meus favoritos, publicado no meu Fotoblog em 03/10/2004. Sei que muita gente que entra nesse diário não conhece, e sei que os que conhecem talvez gostassem de revê-lo. Namasté.

"É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe."
(Vinícius de Moraes)

Ela não sabe o que é Internet. Nunca ouviu falar em Ferrari. Caviar? Talvez até conheça, mas na sua língua é ova de peixe. Nunca esteve em Paris, nunca sentou a uma mesa chique, nunca associou aquele mau humor mensal à TPM. Nunca teve um celular, faz dez anos que falou pela primeira e talvez última vez ao telefone; não mexe em dinheiro, não distingue conforto de desconforto, não se pesa, não malha, nunca teve uma arma na cabeça. Rua asfaltada ela viu uma vez quando veio a Salvador. Achou que era um chão quente demais "não poderia morar aqui: não gosto de sapatos". Nunca foi a Minas, já ouviu falar de São Paulo porque alguns parentes moram lá, ignora o que é um CD, um edredon, mas faz uma colcha de retalhos como ninguém. Já comeu moqueca de peixe, camarões cozidos à moda baiana, beijus assadinhos na hora, bolos de milho tirado do quintal, mas nunca ouviu falar em iguarias. Não sabe o que é um chef. Já entrou no mangue com rede de arrasto, já acenou mais de mil vezes ao ver o marido partir para alto mar numa jangada. Mas não sabe o que é um iate e nunca pescou pra passar o tempo. Não entende como se pode morar num edifício, não sabe o que é viver nas alturas. Se nega veementemente a morar como uma galinha num poleiro. Não entende o que é veementemente, recíproco e simultâneo, e no entanto fala a língua que atrai os aratus, faz catado deles com as mãos, mas nunca se sentou em um bar com martelinho e tábua para comer caranguejo. Não sabe o que é cama king size, cama americana, colchões Ortobom ou travesseiro de penas de ganso. Mas sabe a delícia que é dormir numa esteira na porta de casa, ou numa rede pendurada entre os troncos de uma árvore. Nunca ouviu falar em preservação da natureza, em IBAMA, ONGs ou Greenpeace, mas nunca vi chegar uma siri fêmea na sua rede de arrasto pra ela não devolver imediatamente ao mar. Não sabe o que é música eletrônica, não conhece nem um DJ, mas já arrastou os pés noites de junho adentro ao som de Gonzagão. Nunca assistiu Tiros em Columbine, não sabe quem é George Bush, arma pra ela é no máximo uma espingardinha de chumbo que usou um dia pra caçar. Nunca leu um livro, sequer reconhece o seu nome escrito em um papel, mas já soube dar os conselhos mais sábios. Não sabe o que é política, quem é Lula ou FHC, ACM já ouviu falar, nunca votou, mas soube escolher uma vida de paz. Viveu uma vida simples, de pé no chão. Já a vi de mau humor, já a vi desesperada, brigando com os filhos e netos, mas a essência da sua vida eu consegui captar um dia. Nua como veio ao mundo, e sorrindo. Ela nem imagina que aquela máquina à sua frente captaria uma imagem, e que um louco qualquer um dia a colocaria em um Blog.

Meus amigos virtuais, meu orgulho. Apresentando hoje: Nanda.


O tempo urge, e por isso hoje a amiga virtual eleita é Nanda. Explico a pressa: é que amanhã eu a conhecerei pessoalmente, e ela deixará de ser uma amiga virtualíssima para ser uma amiga realíssima. É que Nanda, baiana, de Salvador, como eu, mora em Aracaju. E eu estou indo para Aracaju amanhã. Inevitavelmente, irei conhecê-la pessoalmente, o que desvalidaria o título desta série,caso não publicasse logo hoje este post.

Conheci essa figuraça incrível quando abri o meu Fotoblog, em outubro desse ano que termina. Foi paixão a primeira vista. Seu jeitinho de escrever cativante, engraçado, pra cima, e a sua indefectível risadinha a la Mamãe Noel - oh oh oh - me deixaram apaixonado. E depois veio a amizade de todos os dias: MSN, Orkut, comentários diários, e finalmente abrimos, com mais quatro amigos queridos, o nosso blog comunitário 'Dos 4 Cantos'. Isso selou a nossa amizade virtual, que pretendo agora transformar em real, lá em terras sergipanas, onde, eu sei, muitas coisas boas me aguardam.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

Conexões


"Eu escolho o melhor para você, mas, acima de tudo, escolho sua vontade para você. E essa é a medida mais certa do amor.

Quando Eu desejo para você o que você deseja para você, realmente o amo. Quando desejo para você o que Eu desejo para você, estou amando a Mim, através de você.

O amor não escolhe coisa alguma para si mesmo, apenas procura tornar possíveis as escolhas do ser amado"

(Neale Donald Walsh, in Conversando com Deus)

Há muito me convenci que a união entre duas pessoas não pode prescindir de quatro conexões fundamentais:

Conexão 1: mente. A conexão mental vê-se claramente no que falam um para o outro, no quanto entendem-se sem dificuldades, no quanto cada gesto de um passa a ser a previsão do gesto do outro.

Conexão 2: emoção. No olhar está a emoção. A segunda conexão, também chamada conexão anímica, ou das almas, se revela no olhar que não se desvia num temor, mas que prolonga-se num sorriso e num breve fechar de olhos, produzindo instantâneos de mini sonhos.

Conexão 3: corpo. No entrelace e no calor dos corpos, no preenchimento de seus poros pelas extremidades do outro: ali se revela a terceira conexão, que é a mola propulsora das outras duas, a animação terrena, a energia vital, a que produz espasmos e arrepios e lança ao mundo a vibração da ânsia de união com o todo do outro.

Feitas as três conexões, parte-se rumo à quarta, a espiritual, que se revela no relacionar-se consigo mesmo, com o outro e com o mundo em si. A quarta conexão é a mais difícil de ser atingida, porque a ela se opõe o ego, materializado no medo. Para atingi-la, conta-se com o desprovimento total de si mesmo e com a incondicionalidade do amor e no desejo de ver no outro não a razão de sua própria felicidade, mas a felicidade por ela mesma, disponível e abundante a todos que se comprometem com o quarto passo, esse sim, o da fusão total, a do amor verdadeiro.

Meus amigos virtuais, meu orgulho. Apresentando hoje: Cassinha.

Voltarei em breve aos amigos que convivem comigo na esfera real, mas hoje inauguro mais uma série com amigos virtuais. A escolha de Cassinha como a primeira não segue nenhuma ordem de prioridade, confesso que fiz um sorteiozinho básico e o nome dela saiu primeiro (he, he, he). Cassinha um dia se revelou aqui no meu blog, a incluí no MSN e, à uma hora da manhã de um dia de semana, véspera de dia de branco, ela pipoca na minha tela com um astral super positivo, muito pra frente. Cassinha me 'segurou' e me encantou até quase três da manhã naquela noite e, desde então, junto com outros tantos queridos amigos virtuais que tenho graças ao Diário Evolutivo, temos conversado muito, trocado muitas idéias legais sobre a Espiritualidade e a vida. A coisa mais interessante dos blogs é que as pessoas que de fato visitam e ficam e lêem e comentam, são as que verdadeiramente curtem e sintonizam com você. Cassinha é uma dessas pessoas mais que queridas. Hoje ela me enviou um e-mail lindo. Cassinha, fica aqui o meu gesto de carinho, de felicidade e de alegria por poder estar compartilhando com você os momentos bons da vida.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2004

Dois brancos


E o fim do ano está chegando mesmo. Agora é inevitável. Desde sábado comecei a desejar Feliz Natal a todos que cruzam o meu caminho, hoje foi a primeira das várias confraternizações que eu devo ir nesse final de ano, as decorações de Natal já estão na cidade, e os que se deprimem com a data já começam a reclamar. E como reclamam. E é incrível como o Natal divide as pessoas, e como tem gente que se sente mal com a data. Compreensível, eu sei. É uma data em que a família se reúne, e muitas vezes isso traz recordações de pessoas que se foram, outros detestam a data por ser extremamente comercial, outras até porque é entediante mesmo - uma aluna minha me disse hoje que no São João, pelo menos, dança-se forró, e no Natal, dança-se o quê? Comentário típico de uma baiana. Eu, pessoalmente, adoro esta época. Mesmo porque eu acredito em Papai Noel, nas renas e tudo mais - e acredito mesmo, mas vou contar como e porque em outro post. Já coloquei até a meinha na porta de casa - e já ganhei o meu presente. Admito que só não me sinto melhor no Natal porque falta o frio. Esse negócio de Natal tropical nunca colou para mim, não consigo imaginar um coqueiro iluminado e com penduricalhos coloridos. Gostaria mesmo é de sair de casa com neve nos joelhos, ir ao campo e pegar a minha árvore de Natal - aliás abro um parêntese e pergunto quem sabe porque o pinheiro é a árvore de Natal por excelência e tradição; se souber e acertar, ganha um beijo natalino. Mas, como não sou de reclamar das maravilhas que tenho, contento-me com o calor (quase) insuportável de dezembro e rio pra me acabar com aquela decoração de Natal feita de espuma de vidro branca imitando os nossos irmãos do Hemisfério Norte. Já até tentaram uma decoração tropical - idéia interessante - mas não cola. Natal mesmo, no nosso imaginário, tem de ter neve .

- Não tem neve, Leo. Neve, não tem. Mas tem calor humano de sobra, tem amigos vindo e saindo de sua casa, tem Pré-Natal, tem beijo em quem a gente ama, beijo de quem a gente ama, tem panetone, peru, tem lembrança do amendoim coberto que vovó Mana fazia, tem presépio de mainha, tem presente, tem música alta na casa de Valter, tem Iarinha comprando 15 presentes iguais, tem amor no coração, tem shopping aberto 36 horas, tem gente gastando, não tem décimo terceiro (buááá), tem o menininho lá na manjedoura, tem a lembrança de um nascimento que mudou o curso de muitas vidas. Tem eu aprendendo a amar mais, tem um mundo mais povoado pela esperança. Tem, não se esqueça, Leo, tem o branco da PAZ, substituindo o branquinho que derrete da neve.

terça-feira, 7 de dezembro de 2004

Estrelas


Ontem, quando apareci por aqui para fazer o meu post, eu estava exaurido. O final de semana tinha sido daqueles, mas, como disse ontem, foi bom, muito bom mesmo. Cheio de surpresas boas, de encontros melhores ainda, mas o mais inusitado que aconteceu foi a minha ida ao show de Sandy e Júnior. Admito, amigos: gostei. A princípio, fui somente acompanhar uma pessoinha muito querida, mas acabou que eu me diverti. O talento dos dois é inegável, apesar do estilo de muitas músicas não estar entre os meus favoritos. Mas valeu a pena por alguns motivos extras, não necessariamente relacionados aos dois: em primeiro lugar, as crianças. Como elas são lindas, e como vibram e como sorriem no show; em segundo, os pais; quanta vontade de ver os filhos felizes, vibrando; para isso eles carregam no ombro, colocam pra cima, cantam junto, dançam junto, protegem. Cena linda de se ver. Em terceiro, os fogos de artifício. Está havendo um festival diário de fogos de artifício aqui em Salvador e eles deram a sorte da exibição acontecer exatamente durante o show. E não sei o que acontece comigo; sempre, invariavelmente, me emociono - e muito - com as apresentações. É como se eu visse milhões de estrelas cadentes ao mesmo tempo - se uma apenas me emociona, imagine o que milhões não fazem... E lá estava eu, de repente esquecido que o show estava rolando, e aplaudindo os fogos. Mas devo admitir que a combinação de música e efeitos pirotécnicos foi deslumbrante. Quando Sandy ouviu o início dos fogos, ainda perguntou se a gente queria que ela esperasse o fim da exibição para continuar o show. Como os fogos aconteciam atrás do palco, eles sequer imaginavam o quanto estava lindo tudo aquilo. Claro que o público escolheu pela continuação. Afinal, the show must go on...

Saldo da noite de domingo: positivíssimo. Estar ao lado de quem você gosta, rodeado da alegria contagiante das crianças, com um céu que não parava de brilhar, os agudos de Sandy, o Elevador Lacerda ao longe. O que mais esperar da vida?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

Verde ventre

Digo a vocês uma coisa: o final de semana me deixou exausto. Mas sabe aquele 'exausto' bom, aconchegante, aquele cansaço que deixa a vontade de fazer tudo de novo? Pois é, estou me sentido assim: cansado, feliz, saudoso. E por falar nisso, hoje é dia de post meu lá no nosso blog comunitário "Dos quatro cantos"- essa semana estaremos discutindo a ESPERANÇA. Por isso, caros amigos, hoje é lá.
Abaixo, a isca. Clique nela, e curta o restante do conto.

domingo, 5 de dezembro de 2004

Letra a letra

- Beije o N.
- Beije o A.
- Beije o M.
- Beije o A.
- Beije o S.
- Beije o T.
- Beije o E.

Beijou cada uma das letras, e consagrou com seus beijos a palavra nas minhas costas. Um fio de prazer percorria meus ossos a cada toque dos seus lábios, e os meus sentidos se retorciam como se soubessem que aqueles beijos eram os passos dados na construção de uma palavra sagrada.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Rainha

"...e do alto surgiu, num manto de luz, a Rainha dos Mundos, a mãe de todos
nós."

Rapidamente escureceu aquele dia em que a luz se fez tão presente. Nos olhos da moça se via agora apenas um resquício do brilho de um dia de verão. As nuvens cobriam a cidade e de dentro delas podiam-se ouvir os desejos, os trovões, os sussuros da tempestade. Abriu a mão como que vai agarrar uma bola que foi arremessada à distância, e esperou com elas abertas pela tempestade que traria uma explicação concreta para aquela escuridão súbita. Sentou-se no chão, ainda com a palma da mão direita voltada para o cinza escuro que lhe cobria a cabeça. Não sentia mais nada. Estava transbordando de esperança e, na espera da chuva que iria cair, pôde debruçar-se sobre seus sonhos. E, enquanto esperava, sentia uma brisa que era o prenúncio da tempestade; fechou os olhos com mais força ainda, como criança que finge estar dormindo, aguçando os seus outros sentidos. Era como se visse o cheiro, ouvisse o leve frescor da brisa, sentisse nos ouvidos o gosto de terra que aguarda um banho. Seus sentidos se confundiam, como se confundem num gozo. Ela amava a chuva; os dias de chuva eram para ela era como aconchego de colo de mãe, volta ao primeiro dia no berço, conforto de criança de manta branca cobrindo-lhe o corpo inteiro.

A chuva, de tímida, finalmente tornou-se uma senhora quase enraivecida, porque os pingos começavam a cair com a força desesperadora de uma tempestade, que ao tocar não só a mão, mas os outros geradores de sentido da moça, lhe afagavam com força de homem no cio o corpo inteiro. Abriu os braços, recostou-se na grama, agora úmida e macia como um colchão d'água. Abriu a boca insanamente, respirou a chuva, catou cada gota e sentiu-se abençoada por aquela água que vinha dos céus. Num gesto sagrado, engoliu a santa chuva, sentiu-se abençoada, virou os braços, pegou um espelho. Nele ela via um corpo molhado, cabelos escorridos, pingos que insistiam em não cair. E, de dentro dos olhos, um novo brilho, um sossego de tempestade interna, uma benção de nuvem carregada de vida. E a moça pegou nas suas mãos o seu vestido vermelho, fez dele o seu recosto e, num grito de liberdade, alardeou aos quatro mundos o seu gesto trovejante. Ela era agora a Rainha que veste rubro, nos seus olhos molhados viam-se duas espadas. E era aquele o dia, e agora ela entendia tudo, porque naquele quatro de dezembro reinava a Senhora das Tempestades, a Senhora que veste vermelho e que, num trovejo, muda o mundo.
Hoje comemora-se o dia de 'Santa Bárbara', ou 'Iansã', no candomblé. Essa é a minha homenagem à força que emana desta Senhora. Eparrêi!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

Sonhos numa bicicleta

“Preciso imediatamente do oposto, sua origem e sua essência. Preciso do original, para saber onde estou e para onde vou, de onde é que venho neste sonho de bicicleta ao vento e de música nova de Gil cantarolada com força de quem quer ser feliz.”

Acordei de manhã no meio desse sonho, em que andava de bicicleta e cantarolava uma nova música de Gilberto Gil. Não sei de onde este sonho veio, não sei para onde eu ia na minha bicicleta. Sei que acordei já com os pés no chão, ouvindo uma voz que me dizia: “Preciso imediatamente do oposto, sua origem e sua essência...”, tão clara aos meus ouvidos, como se estivesse insinuando um pedido para ser publicada aqui. Não é a primeira vez que acordo com vozes que me dizem coisas. Chamo-as de ‘vozes’, porque me faltam palavras para denominar o que ‘escuto’; mas elas estão mais próximas de um sentido que há entre o que seria uma ‘voz’ e um ‘sopro de inspiração’. Sendo o que forem, tendo a confiar nelas.
Tenho aprendido a interpretar sonhos – principalmente meus próprios – herdei isso de mainha, que sempre que pode me conta seus e as interpretações que dá a eles. E hoje eu faço isso muito bem. Mas é assim: tem sonhos que não querem ser decifrados, como esse da bicicleta. Aí a gente descobre que até os sonhos podem ter suas vergonhas e seus segredos...
***
Hoje tem dois posts! Comentem no de baixo.Valeu!

Instantâneos de mim

  • Estes dias têm sido conturbados para mim, mas não para mim como vítima deles – meus amigos têm sido mais vítimas do que eu – mas tenho resistido com uma bravura que me surpreende. Agora entendo quando me diziam, ainda adolescente, que eu ainda não sabia nada da vida. Pois não sei mesmo. A cada dia as pessoas me surpreendem mais. Na hora vem o choque, mas depois, graças ao apoio que eu sei que tenho dos meus amigos na Espiritualidade e aqui mesmo no mundo físico, me fortaleço ainda mais.
  • Hoje a Ladra do Bem me ligou só para dizer que estava feliz – Ladra, você ligou na hora em que eu mais precisava ouvir isso do mundo, na hora exata em que a gente fraqueja e por segundos sucumbe à ilusão de que a bondade nas pessoas está se extinguindo – amiga, você foi a voz que me disse que não, com todas as letras e acentos, com os quais, aliás, nos preocupamos tanto (piadinha interna).
  • Estou à procura de apartamento, sei que já faz um tempo, mas os acontecimentos dos últimos dias me deram a força e objetividade que estava precisando para continuar a procura e dar um basta nesta fase da minha vida. Este lugar de onde lhes escrevo já deu o que tinha que dar. Agora, é vida nova. E está chegando a hora. Ainda é segredo, por isso não contem a ninguém, mas parece que encontrei um hoje, muito simpático por sinal.
  • “Eu sou Lindalva”. Esperei sedentamente por essa cena. Carol Dieckman finalmente pronunciou as três palavrinhas. Gravei a novela hoje, sim, saí de casa para o trabalho sem ter programado o vídeo cassete, mas voltei, programei o vídeo e coloquei para gravar – podem acreditar, sou noveleiro mesmo, meu dia precisa dessas banalidades. Acabei de assistir, e não pretendo desgravar. Se você perdeu, podemos negociar valores de aluguel da fita.
  • E agora o acarajé tem status de Patrimônio Histórico. Acarajé tombado; isso é novo pra mim. Tombado ou não, continua delicioso - quem acompanha este blog sabe o quanto eu prezo os bolinhos e quantas vezes o tabuleiro de uma baiana foi motivo para eu escrever aqui.
  • Estou muito feliz com a repercussão do nosso “Dos 4 Cantos”. Se você ainda não foi, tá perdendo, mas Blog não é igual a novela, dá pra ver os capítulos passados sempre – e capítulo de hoje então, é da minha amiga virtualíssima Nanda. Nem li ainda, mas tudo que vem dela é uma delícia de ler! É só clicar aqui.
  • E se você ainda não deu seu clique no site do Câncer da Mama, é só ler o o segundo post abaixo e clicar no link. NAMASTÉ!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2004

Dar-se

Vejam o e-mail que a Ladra do Bem me enviou:

Leo,

Quando vc tiver um tempo, vontade, desejo, inspiração e puder, gostaria que vc escrevesse sobre dois temas, pois gostaria muito de saber o que você pensa sobre o assunto. Um é sobre a CARIDADE....muitas pessoas acham que fazer caridade depende de época (Natal, por exemplo), outras acham que o simples fato de distribuir alimentos é caridade. Eu também acho, mas não acho que é só isso. Na verdade quando eu estou lá distribuindo a sopa, estou fazendo caridade sim, mas quem fez a maior caridade foi quem preparou a sopa. Acho ainda que quando fazemos caridade a alguém o maior beneficiado somos nós mesmos, os outros se beneficiam dela. A maior caridade é aquela que fazemos de coração, é parar para ouvir o outro, é vc dar atenção, carinho, ou seja, é você se doar. São assuntos complexos, eu sei...mas como o que vc escreve nos leva muito a reflexão...gostaria muito de saber o que vc pensa sobre.

Xeros - Ró

Ladra, você pede que eu fale aqui sobre caridade e você mesma já disse com muita sapiência muito que tem a ser dito. Só tenho a acrescentar, concordando com você em algumas coisas que eu considero fundamentais. Primeiro, que caridade de verdade é incondicional, é aquela que a gente faz e sente-se bem simplesmente por ter feito e não porque ‘favoreceu’ alguém ou fez alguém sorrir. Pode parecer egocêntrica ou até polêmica essa minha colocação, mas parto do seguinte pressuposto: só dá quem tem; o grande barato da caridade é que quando você dá, você descobre que tem pra dar. Isso te favorece na medida em que essa conscientização é um recado direto ao seu inconsciente do potencial que existe armazenado no seu ser. Obviamente que a caridade é uma via de mão dupla, a pessoa que recebe é gratificada, mas quem dá recebe muito mais. Recebe mais, porque o que vem em retorno é em forma de autoconhecimento, de entendimento das suas potencialidades. É o primeiro passo para a realização pessoal, cujo tripé se apóia na seguinte ordem: eu sou, eu faço, eu tenho (sou feliz, ajo como uma pessoa feliz e tenho, como conseqüência, as coisas que pessoas de fato felizes têm) e não eu tenho, eu faço, eu sou (tenho algo, ajo com felicidade e por isso sou feliz). Esse é o padrão que a maioria de nós acredita que funciona. Mas é o primeiro, e não o último, que de fato traz a felicidade e o bem-estar. E onde entra a caridade nisso tudo? No autoconhecimento. Quando você dá e descobre que já tem, você se descobre completo e feliz, e o último passo, que é o ‘ter’, já se completa num ciclo harmonioso.

Minha mãe sempre me diz que eu tenho de ser mais caridoso, dividir mais as coisas que eu tenho. Eu sempre respondo para ela que eu dou muito do que eu tenho - ela também, e todos nós - , mas não na forma de dinheiro ou de sopa, ou de roupas. Isso eu faço também- admito que tenho feito pouco - , e acredito que é necessário, principalmente porque estamos cercados de pobreza por todos os lados e temos de dividir. Eu não concordo apenas com o fato de que caridade seja só isso. Caridade também é um abraço que você dá num amigo que está precisando, é conter-se na hora de julgar o outro, é um comentário elogioso que você faz a um aluno com auto-estima lá embaixo, uma carona que você dá a uma pessoa na chuva, uma gentileza no trânsito. Isso também é caridade, é fácil de ser feita, é gratificante para você e para o outro. É a tal da gentileza, de que tanto falamos aqui.
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Muitas idéias deste post estão na série de livros "Conversando com Deus", de Neale Donald Walsh, leitura que recomendo.
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E por falar em caridade, dêem uma olhada no post logo abaixo.

Sua vez

Dei uma de Ladra do Bem e roubei este post do Psicólogo Neurótico. Espero que ele não se importe, pois trata-se de uma causa nobre. Leia e faça a caridade do dia.

O Site do Câncer de Mama está com problemas, pois não tem o número de acessos e cliques necessários para alcançar a cota que lhes permite oferecer 1 mamografia gratuita diariamente a mulheres desprivilegiadas.
Demora menos de um segundo para ir ao site e clicar NO BOTÃO COR-DE-ROSA, QUE DIZ "CAMPANHA DE MAMOGRAFIA DIGITAL GRATUITA". Não tem custo algum e pelo número diário de pessoas que clicam, os patrocinadores (Avon, Tupperware,...) oferecem exames gratuitos. Vamos visitar o site e clicar na doação, vamos também divulgar esse problema e o link do site nos nossos blogs, para que as mulheres que não podem pagar pelo exame não fiquem sem assistência!