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sábado, 3 de março de 2007

[jogos aquáticos]

Moram em um paralelepípedo reto-retângulo, com a face superior removível. É por aí que lhes dou comida. São coloridos e não param nunca. Nem quando dormem, param de bater as barbatanas miúdas, mas grandes o suficiente para manter-lhes o equilíbrio. Vivem em um ecossistema equilibrado. Troco um terço da água a cada semana, acrescentando de volta a água que sai da torneira mesmo. Comem quantas vezes eu lhes der comida. São coloridos e parecem felizes. E aí está a minha angústia. Eles parecem, apenas, não sei se são.

Adepto que sou à liberdade, e coração-mole que tenho ao ver seres em jaula, um dia chocou-me ouvir que o que faço com os peixes é o mesmo: aprisiono-lhes, tiro-lhes a chance de nadar com suas próprias barbatanas, a bem dizer. Como ter aquários e peixes é uma atividade que cultivo desde criança, na minha inocência e espontaneidade infantis nunca me julguei por isso. Parecia-me – e, por vezes, ainda me parece – que um aquário é um rio recriado, e que a transparência dos vidros, o obstáculo invisível à frente do peixe, nada se assemelha a jaulas. Mas o fato é que peixes não reclamam, e parecem satisfeitos – principalmente comendo a ração de vinte reais que lanço direto em suas bocas. Por não reclamarem, por não chorarem um choro alto e vazio no meio da noite, por viverem tão instintivamente, reconhecendo-me pela manhã, hora em que ligo a luz e artificialmente lhes entrego o dia e o desjejum, é que me angustio. Se gritassem e reclamassem a realização do seu destino livre – como fazem os pássaros engaiolados – talvez, num alívio, já os tivesse libertado. Mas não: a inocência e o instinto deles, a aceitação de tudo aquilo, me aprisona e me divide entre o prazer egoísta de tê-los e a possível dura hipótese de ter de devolvê-los a um córrego qualquer. Eles me negam a resposta e, por sua vez, me aprisionam, paralisado, na minha própria dúvida.

(Se estou, de fato, em um ato egoísta, vendo um rio à minha frente, é bem verdade que é a minha imaginação de ser livre que cria o rio. Desse lado, tudo parece er mais fácil. Os peixes, solitários naquele mundo estranhamente emoldurado, já desistiram de se debater nas paredes invisíveis. Meio como nós, aprisionados muitas vezes em jaulas discretas, imperceptíveis a olhos nus: debatemos-nos daqui e dali, e sequer sabemos que estamos presos. Passo às vezes horas olhando para eles, e nessas horas me liberto de tal maneira, que é como se eu, aceitando a falsa liberdade de um aquário, entrasse ali, ignorasse a água que pára exatamente na superfície que não existe, formando uma parede, e batesse barbatanas pequenas, respirasse como respira um ser aquático, me deixasse enganar por entre tanto liquido, tanta vida, como já me lembro ter feito há muitos anos, quando tudo para mim começou.)