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quinta-feira, 30 de junho de 2005

A menina da cor do vento

(para minha irmã Érica)

Ela abriu o portão, só um centímetro do portão, deixando uma brechinha para ver o que se passava no mundo lá fora. Pôs um olho, depois outro, viu, reviu, espiou. Eram as pessoas passando, era um cachorro fazendo xixi, era um menino soltando pipa, era o sonho de se ver lá fora, cabelos ao vento, risos soltos, nada para fazer, nada com que se preocupar. Ela via ela mesma lá, no olhar daquela menina com cabelos iguais ao dela, no sorriso daquela outra menina de dentes branquinhos como o dela, ela se via no sol que brilhava lá fora, no vento que soprava – porque por mais que ventasse no quintal da sua casa, o vento lá de fora é sempre mais forte, mais fresco, e traz sempre uma novidade.

E a menina, apesar de espiar o mundo apenas por uma brecha, adorava novidades: as novidades que vêm nas revistas, as novidades que pipocam na telinha na hora da novela, as novidades que sua irmã mais velha lhe conta quando chega em casa à noite. Ela adora o mundo lá fora. Só que a menina tem medo: para ela, abrir o portão mais um pouquinho pode ser uma ameaça. De repente, o cachorro que brinca com o osso pra lá e pra cá pode lhe dar uma dentada bem no meio da batata, ou a menina que sorri lendo um livro de estórias pode olhar para ela e abrir os dentes, chamando para uma conversa, ou o menino que empina uma arraia pode pedir um copo d’água, porque soltar pipa ao sol dá uma sede danada. De repente, o vento pode soprar mais forte lhe desconcertando os cabelos, ou o sol pode abrir aquele sorriso de desenho de criança. Na cabeça da menina passavam mil possibilidades. Possibilidades temerosas, gritantes, assustadoras.

Por isso tudo, a menina, quando ia dormir, sonhava em ser invisível, sonhava que tinha um chá que a mãe lhe dava antes de dormir e ela saia pela rua, cantarolando, pulando, brincando, sorrindo de doer a barriga. A menina sonhava com aquele mundo depois do muro, com tela gigante, sem moldura, que se abria aos seus olhos depois que ela escancarava o portão pesado de madeira da porta da sua casa. Ela passeava alegre, porque sabia que ninguém a enxergava, ninguém ria dela – mas também ninguém ria para ela, a menina veio aprender depois -, ninguém nem reparava se ela era assim ou assado, se ela falava certo ou errado, se ela andava torto ou em linha reta, se ela comprava sorvete de chocolate ou de morango, se ela chorava de alegria ou de tristeza, se ela era azul, amarela ou verde, não importava, porque a cor dela era a cor do vento, a cor que ninguém vê.

E, no seu sonho, a menina começou a notar que as pessoas eram iguais a ela: umas eram assim e outras eram assado, umas eram pretas, outras brancas, umas bem magras, outras gordinhas, umas adoravam sorvete de chocolate, outras preferiam morango, umas preferiam correr a andar, outras andavam tão devagar que dava até raiva. Descobriu que o sol fazia suar a testa de todo mundo, viu que tem gente alta e baixa, gente triste e alegre, ônibus cheio e vazio, pipa que sobe e pipa que nem consegue balançar ao vento. A menina da cor do vento viu que tem menino solto na rua, menino que a mãe prende com força no braço, descobriu que tem outras meninas iguais a ela, mas descobriu também que era muito chato ver gente igual a ela, ou igual a tudo que ela já tinha visto. Ela descobriu que a vida lá fora era a maior tela de televisão que poderia existir, viu que tinha uma novela passando lá fora, viu que, de tão diferentes, as pessoas eram personagens interessantíssimos, viu que o vento, toda vez que soprava, criava um penteado novo na cabeça da moça em pé à sua frente, e deu uma vontade danada na menina: ela queria entrar na telona, participar da novela, deixar o vento mudar seu penteado muitas vezes e deixar que o sol queimasse a sua pele, deixando-a vermelhinha de vez em quando.

Mas a menina, no seu sonho, não sabia como mudar de cor. Tentou entrar em uma lata de tinta, pulou três vezes pra trás e três vezes pra frente, tentou se beliscar e sair do sonho, tentou tomar bastante água para dissolver o chá, tentou de tudo, mas a cor dela continuava a cor do vento... Ninguém via a menina, logo agora que a menina decidiu que queria ser vista, que queria fazer parte da tela gigante, que queria comprar o maior sorvete de chocolate do mundo e sair pela rua lambendo e se lambuzando toda. Ninguém mais via a menina, logo agora que ela queria pular de um lado pra outro, andar torto, bater papo com a menina do livro de estórias, pegar ônibus cheio, suar a testa. Logo agora que a menina queria se jogar no mar e furar onda, ela era da cor do vento.

A menina andou pela rua, vagou, vagou. Uma lágrima lhe escorreu as bochechas rosadas, e de tão distraída e triste que estava, nem viu que um menino se aproximou dela.

- Aceita uma? Tem de todas as cores, mas a minha favorita é a vermelha, de morango. Nunca deixo ninguém escolher essa, mas você parece tão triste, que eu até te dou uma das vermelhas.

A menina riu e pegou não uma, mas duas jujubas. Comeu uma, depois a outra, o gostinho de morango na sua boca. Só então a menina viu que o menino já não estava mais lá. Ficou apenas o gostinho do morango lhe roçando o paladar. A menina abriu mais um sorriso quando viu seus braços, suas pernas, sua barriga... Ela estava ali, não mais da cor do vento, mas da cor mais linda do mundo, que era a dela.

A menina pensou em acordar, sair debaixo do edredon, de dentro da casa de muro alto e portão pesado, de dentro dela mesma, a menina pensou em sair. Pensou em rir bem alto para um estranho na rua, pular fogueira de São João, beijar com força o pai, a mãe e o irmão, dizer que descobriu o segredo, descobriu que era bom existir lá fora também, que lá fora é uma tela imensa, com gente de todo tipo, personagens de uma história que a menina queria pular dentro e ser feliz.

E foi assim que ela fez. Ainda com gosto de jujuba de morango na boca, ela pulou da cama, agarrou o melhor vestido, deixou pra depois o beijo no pai, na mãe e no irmão e saiu por aí.

quarta-feira, 29 de junho de 2005

De dentro

Estar em mim mesmo, no auge de mim mesmo, no cerne de mim mesmo. Estar dentro de mim, tocando em minhas vísceras em sangue, estar sobre os meus passos, vendo as minhas pernas e o meu riso. Estar aqui, agora, estar só, mas não estar só, estar vendo esta sombra que está aqui do lado de fora, mas é o que está dentro, o reflexo, o cume, o alto. Estar de olhos fechados e ver azul, dourado e rosa, ver as cores que saem de dentro de mim, que estão dentro de mim, que perpassam esse meu contorno externo, esse contorno externo que há em mim, mas não mostro, nem eu mesmo sei como é, um contorno interno, mas externo, a demonstração de quem sou. Estar com meus pés no chão, o chão que eu piso e que está sempre aí, mas que por vezes sei que me falta, mas esta sempre aí, esse chão que eu piso de pés descalços, de pés calçados, calcados, de pés queimados pela neve ou pela areia quente da duna. Estar aqui é estar guardando, vendo, exibindo, observando, é estar atento, olhos fechados e abertos para dentro, olhos que saem da órbita para alcançar o coletivo que vejo fora, mas está dentro de mim, esses olhos que não cansam de pedir um sonho mais azul, um cheiro mais harmônico para meu olfato, um som mais puro para esses ouvidos. Estar aqui, é igual a estar dentro, fora, por dentro, por fora, azul, brilhante, em paz, no agora.

RAPIDINHAS

Recomecei a malhar hoje. Em 48 horas não vou poder nem me tocar direito.

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Me emociona profundamente a propaganda do Governo Federal sobre ‘dar um exemplo’. Já tava na hora de começar a educar esse povo.

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Visite esse site, se fala ou lê em inglês – se não vai procurar um professor! Cômico, surpreendente, inteligente, misterioso, emocionante, revelador. Tem todas as emoções e a possibilidade de descobrir segredos – e se identificar com alguns ou muitos deles.
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Viva São Pedro, e que ele mande tempo bom!

terça-feira, 28 de junho de 2005

Diário de Bordo continua...

Pois bem, paramos onde mesmo? Ah sim, no peixe de Fagner, ou no peixe que desejávamos ser frente a tamanho temporal. Teve a gente andando pela multidão atrás de amigos desaparecidos, teve a gente se encharcando, eu de boné, o outro de touca nova de abinha. Teve a vontade de encontrar logo o carro e deitar, na estréia, na nova cama, nos velhos travesseiros que, aprendi, sempre se levam nas viagens. No outro dia teve praia, quero ir pra um lugar sossegado, e eu pensando que era isso o que eu mais queria, dormir ao sol é a coisa mais gostosa, trago nevada de mangaba, porque lá em Aracaju a opção é nevada ou socada, sendo a primeira gelo amassado, triturado, feito neve, e a segunda a fruta socada mesmo com um machucador de temperos, uma delícia, e a gente se deliciou, porque a tarde começava a cair, o sol já fazia um percurso rumo ao chão e as fotos nessa hora são as melhores, e por falar em horas melhores, o sol baixou e veio a fome, fome de caranguejo, afinal estávamos na terra dos caranguejos, levanta e escolhe um que a gente mata agora. Marteladas aqui e ali, prova de querer-bem é dar a maior pata do caranguejo já sem a casca dura pra quem você quer dar mais e mais que isso por mais e mais tempo. Saciados, rumo ao carro, mais tarde teve jantar a luz de velas que eu mesmo fiz, não as velas mas o jantar, e a lembrança que para ser romântico basta acender uma vela, e teve logo depois de uma boa morgada na cama, que quase nos fez não mais levantar, quase caídos, mesmo assim fomos ver a queda de Hitler, mas quem já viu ver Hitler em plena noite de São João, mas o que vale é a diversidade e lá fomos nós e ficamos com o ditador, em um filme insuperável, magnífico, até as tantas da madrugada, mas depois teve coxinha de galinha gigante na orla nova que dizem ser a mais bonita do Brasil, e teve eu comendo camarão empanado e voltando pra casa saciado. Acorda com chuva e logo faltam idéias, dorme e acorda, é bom estar junto na chuva ou no sol, de tarde andar de bike pela orla mais bonita do Brasil, vá lá, e tirar fotos, depois ir comer mais caranguejo, essa é a cidade dos bichinhos que andam pra trás, mais mangaba em forma de neve pra dentro, mais risada pra fora, planos de sair a noite, mas, confesso, a preguiça foi mais forte, acorda no domingo, sempre ao som de Chico, dá uma faxina geral, limpo o banheiro e a cozinha e você o resto, o resto era a casa toda, mas tá bem assim, fazer o quê, você manda, e lá fui eu graxeirar como nos velhos tempos, casa limpa, tudo um cheiro só, nenhum vestígio à vista, e saímos pela estrada, vamos parar em Diogo, quero conhecer, chega lá, professora do mestrado, ligação de amiga dizendo que amigo já voltou de surpresa, comentam-se os fatos, andam-se pelas dunas, que praia longe, mas assim que é bom que garante a privacidade, uma barraca só, um peixe vermelho no dendê, muita fome, duas cocas, um coco. Fome morta, foto no crucifixo, mais andadas, mais duna branca, mais estrada, Salvador, realidade, o amanhã que era hoje, uma segunda, a essas horas já acabou. Ficaram a saudade e três pontinhos.

(bem na foto: eu crucificado)

segunda-feira, 27 de junho de 2005

Diário de Bordo

Foi primeiro Baixios, e lá mesmo teve a pamonha: tem gente que aprendeu a amarrar pamonha, eu não aprendi, só relembrei mesmo porque amarrar pamonha é igualzinho a andar de bicicleta, a gente retoma e, de repente, sabe de novo, depois da pamonha teve banho de rio e banho de folha - porque a gente é baiano e acredita no poder que vem do verde -, e ao mesmo tempo teve banho de cachoeira metade artificial, teve presentes em caixa azul e branca, presentes ainda eram as pétalas de rosas vermelhas na mesma caixa que continha também nós dois de costas diante de uma paisagem de água negra, teve também tanto gosto pelo local que a dúvida de prosseguir a viagem rumo à outra capital, aquela de que falei antes, pintou na cabeça, mas não: tínhamos de ir, a chave estava com a gente e o São João de lá promete, nos enfiamos no carro, agora devidamente segurado e de pneus novos e de limpadores de pára-brisa também novos e de ar-condicionado e de vidro que abre do lado do ilustre carona e pegamos a estrada onde avistamos, ao fim do dia, já no estado vizinho e minúsculo, esse céu grandioso - que nem sei como coube em Sergipe de tão grande - que não resisti e fotografei, mas desculpem por não ter conseguido lhe captar a milésima parte da sua beleza, era um céu que, de tão majestoso sobre mim, me deu tremedeiras e vontade de voar nele. Víamos os céus pairando sobre nossas cabeças, e tínhamos conversas sobre o poder do Agora, sobre essa coisa de evoluir, sobre esse estado em que nos encontramos e rejeitamos, mas o fato mesmo é que chegamos na cidade de Estância, já nesse estado vizinho de ‘t’ e ‘d’ palatares, e lá avistamos para cada casa uma fogueira e para cada pessoa uma bandeirola na rua estendida, pedimos informação a um velho chamado João, logo no seu dia, a informação. Ele, além de informar onde se podia comprar água mineral, informou também que essa fogueira aqui na porta eu acendo hoje porque me chamo João, e respeito o santo, e lhe tenho devoção, partimos pois rumo de novo à BR que nos aguardava cheia de carros, mas não sem antes parar no engarrafamento de um bate-pé de gente de lá, de viados cheios de alisantes e roupas apertadas, meninas vaidosas que se ajeitaram o ano todo para a festa, calçando tamancos que batiam no chão de pedra e faziam um barulho gostoso, mas difícil de saber de onde vinha. Mesmerizados e felizes diante de tudo aquilo que deveria datar de anos, seguimos então à BR, e depois de muitos caminhões, chegamos ao ponto onde queríamos tanto chegar, mas que temíamos não encontrar, e não é que em minutos a chave enfiava-se toda na porta e abríamos a porta do nosso ninho por alguns dias, na geladeira um sejam bem-vindos a casa é de vocês, nos jogamos na cama, mas não antes de ir ao super fazer o mercadinho – como eles mesmos falam lá – e comprar as coisas todas que gente come no café da manhã, mais um vinho tinto e mais umas cervejas e mais umas maçãs, para não esquecermos nunca de que pecar é bom. A noite acaba com Fagner cantando que queria ser um peixe e a gente lá embaixo querendo também ser peixes de tanto que chovia e do medo que tínhamos em, sendo humanos, de morrer afogados caso a tempestade não desse trégua.

Diário de bordo continua amanhã senão fica chato.

quarta-feira, 22 de junho de 2005

"Olha pro céu, meu amor..."

Apesar de apaixonado pelo carnaval, principalmente aqui em Salvador, onde cresci, vendo a festa nas ruas e a explosão de alegria e originalidade, eu não posso negar que São João, no meu coração, bate mais forte. Bate mais forte pela sensação de tradição, pela sensação de estar de volta às raízes que eu tanto prezo: raízes do Brasil e principalmente do Nordeste e, em um grau menor, mas muito mais importante, da minha família. Se o Natal é a festa-mãe da família, para mim o São João é a festa-pai. Não que eu tenha de passá-lo ao lado de meus familiares, mas, para mim, São João, apesar de ser uma tradição, uma herança européia transformada e adaptada pelos nossos ancestrais escravos, tem um frescor renovado, tem minha avó à beira do fogão pedindo ao meu avó para fazer a única coisa que ele sabe fazer na cozinha para ajudar nos preparativos da festa: cortar os cordõezinhos para amarrar a pamonha – e, diga-se de passagem, eu me sinto muito, muito orgulhoso por saber não só cortar os cordões, mas também amarrar uma pamonha como ninguém. Minha avó materna me ensinou a amarrar pamonha, e pretendo ensinar essa "arte" para os meus descendentes.

São João para mim tem, além do cheiro de pamonha misturado com pólvora, esse cheiro de tradição, de aconchego, de coisa simples, da roça, da terra. Sou averso às grandes festas de São João. Para mim, festa boa é aquela em que juntam-se amigos ao redor de uma fogueira, ouve-se Gonzagão – sim , ele nunca sai de moda – e assam-se milhos na fogueira, numa noite fresca regada a licor caseiro. Não falta mais nada se tiver tudo isso. Não precisa usar calcinha preta ou cueca branca, tomar mastruz com leite, chamar Calipso, ou beber limão com mel, e muito menos acarajé com não-sei-o-que-mais-lá. Esses excessos têm 'estragado' a festa no decorrer dos anos, deixando nostálgicos, como eu, cada vez mais refugiados.

Recuso-me a ouvir forró em uma época que não seja São João. Fazer isso, para mim, é igual a cantar ‘Noite Feliz’ em abril, por exemplo. Não sei de onde veio essa idéia de tornar o forró um ritmo para o ano todo, como fizeram com a lambada, só para citar uma dessas febres que já passaram. Aliás, eu sei sim: o comércio falou mais alto. Hoje eu ouvia a Metrópole FM e um cara, indignado, dizia que bastou Gonzagão morrer para esculhambarem a festa... em parte ele tem razão sim, infelizmente...

Se um dia o Nordeste se contagiar totalmente por esse forró meloso e não restar mais nem um cantinho no pé da serra, fale comigo, porque lá em Minas ainda tem alguns lugarzinhos onde a festa é como no meu, no seu sonho: fogueira, bandeirola, quadrilha de roupa de chita com os passos mais antigos e batidos – quase um carnaval de Olinda de tão tradicional – frio, quentão e gente simples.
Por incrível que pareça, o melhor São João que já passei na minha vida não foi um São João, mas um São Pedro e foi em Minas e não na Bahia.

Para vocês, nordestinos que me lêem, desejo um São João, não do jeito que eu gosto, mas do seu jeito, com quem você gosta e como você gosta. Para você, das outras partes do país onde sexta nem é feriado, só me resta fazer o convite e, se não puder aceitá-lo, ficam meus pêsames.

E Viva São João!!!!!
(Ausento-me por esses dias, porque baiano e nordestino arretado que sou, jamais ficarei na capital da Bahia nesta data, quando reinam a fumaça e a solidão. Vou para uma outra capital, menor e por isso mesmo mais animada. Na realidade, pouco importa para onde eu vou, mas com quem eu vou. É isso.)
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Na foto, São João Batista, mostrando um balão no céu.

terça-feira, 21 de junho de 2005

Balanços


Saldo de um dos aniversários mais legais dos últimos tempos:

- Todos esse presentes que vocês vêem aí, dados por pessoas queridas e mais outros presentes que não estão aqui comigo agora e por isso não pude tirar a foto (o celular foi dado a mim por mim mesmo.)
- três festinhas surpresas dos meus alunos, duas deliciosas tortas de chocolate.
- comemoração no Bar da Ponta ontem – poucos, poucas e boas.
- comemoração na casa de mainha no sábado, com luz de lampião e tudo mais.
- 35 scraps no Orkut
- 45 abraços apertados
- 15 mensagens no blog
- post de homenagem no Fotoblog de meu amigo Robson
- 4 cartões virtuais

- algumas várias ligações
- 15.000 sorrisos no rosto
- alguns vários SMS
- milhões de olhadas para o alto, em agradecimento
- alguns vários esquecidos, que, eu sei, sempre vibram por mim, não faz diferença alguma lembrarem do dia do meu aniversário – digo isso porque, eu mesmo, sou péssimo nessa coisa de lembrar datas.
- duas taças de vinho na cama, com direito a caretas para a câmera do novo celular e tudo mais (curiosos...).
- três pacotes de prova pra corrigir – sim, o UEC resolveu marcar o teste para o dia do meu aniversário.

Digam se não é uma delícia fazer aniversário?
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No mais, fica aqui o agradecimento a Deus, representado aqui pelo carinho de todos vocês. Um beijo especial a você, isso mesmo, você sabe que é você, você que merece o beijo mais especial de todos, todos os dias, você, meu melhor presente.

Namasté... e agora é preparar os pé pro arrasta pé!

segunda-feira, 20 de junho de 2005

Fazer anos...

minha vida é breve
feito flor de lapela
leve
feito mala de novela
fugaz
feito tempo de rapaz
alegre
porque entregue
feliz
porque quis
ah
minha vida é demais
morrer por ela serei capaz
(nildão)
Se fazer anos é ficar mais experiente, mais velho, mais entendedor do que se passa nas mentes e corações, se fazer anos é aumentar em um grau a apuração do gosto, é aprender a olhar para todo mundo nos olhos, é sentir que deu um passo adiante no caminho da evolução, é sentir o mundo mais próximo, é ver uma flor e não pisá-la – posto que as flores ficam mais visíveis aos mais maduros –, se fazer anos é pensar em construir mais que destruir, é pensar em amar mais que odiar, é viver mais agora do que ontem ou amanhã, é amar cada vez mais, é melhorar hábitos alimentares, é preocupar-se tanto com o corpo quanto com a mente e as emoções de forma mais equilibrada, se fazer mais anos é tornar-se mais paciente, mais aberto a críticas, mais sortudo, mais cheio de poucos e verdadeiros amigos, se fazer anos é completar velhos ciclos e abrir novos, se é ter novas experiências, se é amar mais as crianças, aprender a apreciar detalhes, entender um pouco melhor as intricações da vida e o valor dos gestos, se é entender mais do que seu corpo é capaz e aprender, com isso, a respeitá-lo mais, se é doar-se com mais generosidade ao mundo e às pessoas, se é aprender a olhar o outro com mais compaixão e para si mesmo com mais humildade, se fazer anos é não apagar, mas acender velas, iluminando corações, estradas, quartos solitários, se fazer anos é aprender a viajar mais, a comer melhor, a despir-se inteiro, se é aprender a ouvir música melhor, se é encontrar e reencontrar livros, se é festejar com os amigos queridos, se é um relacionar-se com seu objeto de desejo e amor com mais profundidade e entendimento, treinando a incondicionalidade do amor verdadeiro, se é ganhar presente, se é lembrar daquele cheiro de pamonha cozida, de São João no ar, se é viver de novo mainha na beira do fogão mexendo a canjica, as bandeirolas penduradas ao ar ao som de Gonzagão na vitrola de antes e no CD player de hoje, ah se fazer anos é tudo isso, eu quero mais é apagar muitas velinhas sim, sempre. E no meu mais novo recorde, que é ter 31 anos, eu quero é agradecer o carinho da vida por mim, essa vida que chamo de Deus, que chamo de vocês, meus parceiros evolutivos, que tão pacientemente têm-me provido disso tudo e de tudo o mais que eu sempre desejei, desde o início dos inícios.

Por mim, hoje, não apague, mas acenda uma vela, uma luz no seu coração, e espalhe esse sentimento pelo mundo. Esse é o maior voto de felicidade que posso receber de você.

Muita paz, anos, anos de vida a todos nós, e muita, infinda, felicidade!

Namasté !
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A data do post é a hora exata em que nasci.
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Hoje estarei no Bar da Ponta a partir das 22h... quem quiser dar uma passadinha...

domingo, 19 de junho de 2005

Uma prévia, um sorriso de véspera.

sexta-feira, 17 de junho de 2005

As coisas

Inspirado em Naty.

HÁ 10 ANOS

1. Estava fazendo o projeto experimental na faculdade - último semestre!!
2. Acabara de passar no vestibular da Federal - Lingua Estrangeira
3. Já tinha ido à Europa, numa experiência incrível de 5 meses de mochila.

4. Estava entrando numa nova forma de vida, sendo eu mesmo.

HÁ 5 ANOS

1. Fui promovido na empresa.
2. Recebi uma proposta de morar em Itabuna, BA.

3. Comprei um gatinho, Ploc.
4. Li Saramago de cabo a rabo.
5. Seria o meu último ano morando com meus pais.
6. Comprei meu carro, que hoje precisa ser trocado.

HÁ 2 ANOS

1. Voltei de Belo Horizonte para Salvador.

2. Morava só.
3. Tinha um mundo de contas em atraso para pagar.
4. Comecei a repensar minha carreira e entrei no Mestrado.

HÁ 1 ANO

1. Estava no fim de um namoro.

2. Amava fazer pizza para os amigos.
3. Vivi um frio inédito em Salvador.
4. Morava com Nay.


ONTEM

1. Dei minha útima aula do semestre.

2. Saí para comemorar o final das aulas.
3. Caí num buraco enoooorme na Manoel Dias - estava a pé e quase quebro uma perna.

4. Tomei milkshake de Ovomaltine na Video Hobby.

HOJE

1. Resolvi pendengas mecânicas do meu carro.

2. Tentei pintar uma parede de azul.
3. Debulhei milho pra fazer pamonha.
4. Fui na Feira de São Joaquim - sempre uma grande experiência.


AMANHÃ EU VOU

1. Dormir até tarde devidamente agarrado.
2. Arrumar-me inteiro, porque meu niver tá aí.

3. Ver meus amigos queridos.
4. Beber roska e dormir agarrado outra vez.

CINCO COISAS SEM AS QUAIS NÃO POSSO VIVER

Uma basta: eu mesmo e a consciência de que eu deveria me bastar e que, apesar de precisar das pessoas para entender essa verdade, não posso depender de ninguém nem de nada para ser feliz.


QUATRO COISAS QUE EU COMPRARIA COM MIL DÓLARES

1. Muitos livros.

2. Uma câmera digital.
3. Duas passagens para um lugar lindo.

4. Subornaria alguém (a chefa) para poder ir acompanhado na viagem.

QUATRO MAUS HÁBITOS


1. Roer unha.

2. Deixar pra depois.
3. Acordar tarde.
4. Dormir tarde.

QUATRO PROGRAMAS DE TV


1. Jornal da Globo.

2. Roda Viva.
3. Sex and the city.
4. Provocações.

DUAS COISAS QUE ME ASSUSTAM

1. Violência urbana.
2. Gente que joga lixo pela janela do carro.
3. Decepção com velhos amigos.


DUAS COISAS QUE ESTOU VESTINDO NESTE MOMENTO

1. Perfume.

2. Cueca.


QUATRO DOS MEUS CANTORES FAVORITOS

1. Marisa Monte.

2. Chico Buarque.
3. Maria Bethânia.
4. Zizi Possi.

TRÊS COISAS QUE EU REALMENTE QUERO AGORA

1. Que quem eu espero chegue logo.

2. Sentir com força o Agora.
3. Que dê tudo certo mais tarde.

TRÊS LUGARES ONDE QUERO IR DE FÉRIAS

1. Bonito.
2. Floripa.
3. Rio (sempre!).

Politemático


A vida é multitemática. Não há para onde fugir, não há como artificializar a vida em posts diários e monotemáticos. A vida não é monocrômica ou monotemática. A vida é poli, não escolhe temas únicos, mas diversos. Por isso nem sempre dá para escrever só um post. E, em respeito à deliciosa variedade de temas na vida, hoje segue mais um post três em um. Namasté e boa sexta!
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Primeiro: o agora de lá e o daqui
(para Bubu)

O Agora não começa lá fora, mas dentro de mim. A percepção não parte desta onda que vejo quebrar ao longe, ou do vento que não vejo, mas sinto balançar as folhas daquela árvore centenária.

O Agora começa em mim. É uma percepção pessoal e interna. É um deixar-se, um entregar-se ao instante. É um enraizamento com o mundo. É sentir-se uno e em êxtase. Estar no Agora não é estar em uma paisagem. É estar disposto a enfrentar o nada e unir-se ao tudo.

Posso ver a paz lá fora, mas percebê-la e experienciá-la mesmo só poderei se for capaz de formar uma ponte entre essa paz exterior esse silêncio que tento criar aqui dentro.

Não há paz verdadeira sem a ponte, sem a conexão, sem o circuito completo.

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Depois: a praça, de novo

Ontem tentei dar uma aula na praça – a mesma do post de terça-feira: ao vivo e em cores vivas, com flores e pássaros ao redor. Mas o sol bateu forte, um cara com cara de mau começou a nos rondar, e a aula ao ar livre – essa vontade nossa de mudar de paisagens – ficou adiada para o dia em que o sol não castigasse tanto e o medo fosse apenas uma vaga lembrança incapaz de nos acuar, em plena praça pública, as sete da manhã. (foto)

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Finalmente: minha idade cabalística

Os números são, alguns, a representação de uma crença, superstição, às vezes pessoal, às vezes de uma cultura inteira. Remetem a experiências, medos, possibilidades. 13, 7, 33, 69...

Bem, segunda estarei completando 31 anos e me bato há dias para entender o que de cabalístico ou de representativo existe nessa idade que vou carregar pelos próximos 365 dias. “31 é um número famoso. Não é a idade de Cristo, essa é 33. Não é nada? Como assim? Há uma referência perdida.” Pensei, pensei... e, pasmo, lembrei: 31 é Telemar.
Nada de cabalístico, nada de superstição. Apenas marketing bem feito e martelando no meu inconsciente.

quinta-feira, 16 de junho de 2005

Praça sem perigos

A praça para onde as meninas virgens (?) vão sem medo.
A praça que viado nenhum chega perto.
A praça onde não rola aquela onda de ‘ou dá ou desce’. Afinal, já desceu há muito.

Boa quinta. Sim, o Diário Evolutivo também tem seu dia de baixaria.

Praça do Pau Mole, Av. Vasco da Gama, Salvador- BA

quarta-feira, 15 de junho de 2005

Generosidade entre estranhos


Minha mãe sempre me manda entrar em um algum tipo de trabalho voluntário, ao que eu respondo que, para fazer caridade, eu não preciso de nenhum trabalho voluntário específico, dentro de um horário pré-determinado, em uma instituição igualmente pré-escolhida. Não preciso de regras, de tempo, de abdicar solenemente de um salário, cachê, recompensa. Posso muito bem exercer a caridade, ou ‘cidadania consciente’ - para os mais políticos -, no meu dia-a-dia.

Hoje, na minha aula, usei o filme “A corrente do bem” – link aqui para mais informações – para conversar com meus alunos sobre esse lance de ‘mudar o mundo’, ‘fazer o bem sem olhar a quem’, etc. O filme é lindo, emocionante, uma lição de fé na bondade das pessoas. E eu lembrei que é possível, sim, na nossa rotina diária, ser caridoso. Não temos de necessariamente estar dentro de um programa de voluntariado. Muitas vezes apenas uma palavra já salva, um olhar pode ressuscitar uma alma morta, um aperto de mão pode tirar uma pessoa de um poço escuro. E todos tiveram um ‘click’, um ‘insight’ naquele momento e lembraram das vezes que pararam de olhar para o próprio umbigo e para os próprios problemas e agiram, verdadeiramente, sem esperar nada em troca – d-e-s-p-r-e-t-e-n-s-i-o-s-a-m-e-n-t-e. Palavra grande. Difícil de pronunciar e de pôr em prática. Mas a chave para um mundo melhor, a senha para a paz que a gente pensa que está lá fora e depende dos políticos e da CPI, ou da prisão do tal do Jefferson, mas que, na realidade, está aqui, ó, dentro de nós, em pequenos gestos.

Fica aqui a pergunta que eu fiz aos meus alunos logo no início da discussão:

---- O que você pode fazer (ou deixar de fazer), dentro da sua área de estudo, de trabalho – pense em algo simples, para começar – para ajudar o na harmonia das coisas?

Namasté!

terça-feira, 14 de junho de 2005

Sobre aceitação e entrega

"Deixe que a Vida seja."
(Eckhart Tolle)
É a vida, Leandro, a vida é isso mesmo que você vê passando à sua frente. Tem uma praça, tem flores na praça, tem abelhas e beija-flores sobrevoando as rosas e as acácias - e aquelas outras flores cujo nome são ainda para ti um mistério pela tua ignorância botânica - , tem gente passando, umas vêem e outras sequer põem o olhar na direção das flores que ficam dali exalando seu cheiro e, ao vento, é como se sorrissem. Mas não é por isso, Leandro, que as flores deixam de ser.

Entenda, de lá do alto do prédio, encaixotado a 19º, que as flores não deixam de ser flores por não lhes reconhecerem o perfume. As flores, etéreas e não eternas como você, Leandro, se reproduzem do quase-nada e crescem em velocidades inimagináveis a ti. Por isso, para elas talvez os pés de um destes homens sem atenção e cheios de nós no pescoço, seja no sol, seja na chuva, sejam apenas mais um capítulo no seu destino de flor. Virá outro beija-flor, com bico transbordando de pólen, fertilizará uma outra flor, que fará outra, e mais outra, numa fábrica de perfumes na praça. São etéreas as flores, Leandro, e é daí que brota a sua natureza eterna. Portanto, não se preocupe: o jardim permanece, cresce, e seus olhos, isso eu te prometo: seus olhos não ficarão sem o prazer de vê-las.

Dorme teu sono em paz e, hoje apenas, experimenta não pedir a Deus sonhos cheios de jardins floridos. Os sonhos, eu repito, não serão mais necessários. Lembre-se que existem os beija-flores.

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(eu te digo uma verdade apenas, verdade dita um dia depois de dia cheio de iluminuras, verdade no seu sentido mais puro, posto que à luz plena de um dia de sol. A verdade que vem à tona, que roça os meus lábios, é A verdade, essa verdade que, eu sei, lês nos meus olhos, vês na minha pele, essa verdade que te perfuma o corpo inteiro e te seduz pelo brilho. A verdade, por ser única, é bela, é a própria beleza refeita pelos olhos, bocas, pés, cabelos, pele, cheiro e toque humanos. Por sermos humanos, percebemos a verdade através de um cristal, em diversas cores, mas translúcida, verdadeira, entregue. A entrega é uma verdade. O pólen em que eu acredito é uma verdade. Esse jardim de corações pendurados no nosso teto é uma verdade. Translúcida, simples, ligeira. Capta-se ela toda no instante que é o Agora. E isso tudo estás prestes a descobrir, por que tudo está imerso e codificado nesse livro que agora carregas contigo.)
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Visite meu novo espaço aqui.

domingo, 12 de junho de 2005

São Valentino


Já não sei mais por que nome te chamar, ou por quantas vezes terei de tocar-te nos lábios, ou no rosto cheio de óculos, ou no nariz de reflexo condicionado, ou nas costas cheias de pontinhos onde brinco, com água na boca, até sentir-me satisfeito na realização dessa vontade de interagir com você. Já comi a tua presença inteira, já fui longe, lá no fundo dos teus olhos, mas ao que tudo parece, essa viagem, por sua natureza, é a que não cansa, que não nos faz sucumbir à fatiga, é essa a viagem sem destino, sem traçado, sem meta. A viagem dos cegos cujos outros sentidos são obrigatoriamente mais desenvolvidos para que ele aprenda a explorar o outro na forma mais diversa. Hoje, com as solas dos teus pés sob as solas dos meus pés, senti o aconchego do toque inédito, e entendi mais uma vez de onde vem a natureza febril desta viagem e de onde vem esse quê de sem fim, de insaciabilidade.

Eu te quero assim: na minha cama, aos sonos, sonhando nos nossos lençóis, em cima de mim, por inteiro, cheio, vazio, vendo ou me reconhecendo aos poucos, te quero descendo a escada mais íngreme do mundo comigo te amparando aqui embaixo, te quero no despertador às sete da manhã, no cheiro bom da tua boca que vem juntar-se à minha segundos antes que adormeces e te tornas incomunicável. Te quero sério, astuto, inteligente. Te quero folheando as minhas páginas, os meus livros, gravando as minhas músicas, as nossas músicas, te quero meu aluno, me quero teu aluno, quero ouvir teu inglês brotando, sussurrado por mim aos teus ouvidos, repetido de mim pela tua boca, te quero amigo das flores no nosso banho, te quero igualmente cúmplice delas, te quero azul de fome, te quero saciado, te quero às quartas, aos sábados, ou qualquer outro dia em que nosso querer seja mais forte que o calendário. Te quero nesse abraço morno no meio da noite – queria que visses os hormônios dentro de mim, nessa hora – te quero em qualquer dia do ano, ainda mais hoje, nesse dia que eu vou te mostrar, sim, que existem coraçõezinhos no ar, que o cheiro, hoje, é outro, e se parece com o cheiro fresco daquela cachoeira cheia de luz no ar, te quero rindo do meu medo de altura, da coragem que me faltou para olhar para baixo, te quero crescendo nesse espiral de carinho, de vontade, de conversas soltas ao telefone e de falta de assunto quando me olhas, a um centímetro, na cama. Te quero com seus amigos, te quero só comigo, te quero com meus amigos, te quero só comigo, te quero como você se quer, te quero dentro do que sonhas para ti. Te quero como a minha companhia mais presente, a minha fonte de inspiração, meu caminho evolutivo, te quero do jeito que és agora e da forma que prometes ser no tempo que ainda virá. É assim que te quero, porque é assim que eu acredito que se pode querer.

sexta-feira, 10 de junho de 2005

Nossas irmãs, as baratas


A aventura dela pela sala dos professores durou segundos. Primeiro houve o grito, um pulo e... ploft: a pobre barata era uma defunta. Mortinha da Silva. Tenho a curiosidade de descobrir se a barata, morta ou viva, é um ser frio – falo da temperatura mesmo. Porque a gente fala em sangue de barata quando se refere às pessoas mais frias, calculistas. Por isso a curiosidade: será que a defunta, na hora exata em que tirei a foto, estava gélida ou quente? E a gosma que deixou na sandália do bravo colega assassino, era aquele o seu sangue? A essas perguntas jamais poderei responder, porque o meu instinto de sobrevivência não deixou que eu a tocasse. Nem de longe. O máximo que consegui foi bater uma foto e me inspirar para escrever isso.

A barata que faleceu hoje, cuja casca grossa e negra me fez concluir a sua idade e conseqüentemente o seu grau de experiência principalmente com relação aos humanos - que quando não gritam e fogem dela, atiram de longe pedras ou partem para cima com chinelos, tamancos, sapatos e afins - não deveria ter se arriscado tanto: aventurou-se por uma sala clara, de pisos igualmente claros, limpos, cheios de longas pernas humanas e corpos robustos sobre elas. As baratas estão certas em viver enclausuradas em seus buracos, esperando brechas. Baratas normais e cautelosas fazem isso, mas aquela de hoje precisou sair antes da brecha - que mais cedo ou mais tarde seria dada com o silêncio ou o apagar das luzes - e precisou se expor na pior hora, arriscou-se no mundo no momento menos oportuno. Certo que baratas não têm relógios ou noção de tempo; mas elas se guiam pelo barulho e pelo cheiro, e é por isso que cada vez eu entendo menos a aventura a que aquela barata se propunha àquela hora e em meio a tanto barulho e gritaria.

Quem terá sido a sua maior inimiga: a pressa ou a necessidade? Terá sido por amor ou por pura imprudência que ela se atirou praticamente aos pés do matador? Não pareceu aos meus olhos um gesto suicida, porque ela corria desesperadamente em diagonal, e via-se no seu correr que ela tinha claramente um objetivo, que era chegar ao outro lado. Foi exatamente o outro lado que a matou, foi a sua cegueira, a sua ansiedade. As baratas, como nós, precisam saber a hora exata de sair da toca se quiserem preservar a existência.

Vou dormir e rezar por mim e por você, baratas velhas, pré-históricas, promessas vivas de outras vidas, promessas andantes de outras encarnações. Podem vir as bombas, as guerras, as desilusões de amor, pode vir tudo, porque a única certeza que temos é que nós e as baratas – não essa que hoje morreu, aqui falo apenas das mais prudentes – ficaremos para ver as cinzas, o renascer de tudo, o reinício do ciclo. Atravessaremos várias salas. Algumas vezes com o percurso interrompido por uma chinelada, outras com a chegada ao lado oposto garantida pela sorte ou bondade de alguém, outras vezes colocaremos apenas um pé para fora e, prudentes, nos recolheremos antes mesmo do risco. Mas em todas as vezes seremos apenas baratas. Velhas. Pré-históricas. Medrosas, mas eternas.

quinta-feira, 9 de junho de 2005

Dia dos namorados: uma prévia

O dia dos namorados está chegando, e com ele mais uma festa onde compram-se presentes, consomem-se várias caixinhas de chocolate, muito champanhe - ou sidra para os que não estão podendo muito -, os motéis lotam e os namorados comemoram, felizes, já sonhando em comemorar o próximo ano... Eu, pessoalmente, sou fã das datas comemorativas. São todas comerciais, é bem certo, mas eu adoro todas elas. Mesmo porque não vejo nada de mal em consumir bem e de forma consciente. Toda economia precisa de movimentação, gás, força. O dia dos namorados gera empregos, cria renda. Quem pode, compra, quem não pode dá uma flor.

O que não vale é se sentir o ser mais sozinho do mundo se não tiver uma costelinha para aquecer no dia, porque dia dos namorados é o dia de celebrar o amor entre amantes, mas também entre amigos. E dá para ter o dia dos namorados mais divertido do mundo na presença de bons amigos igualmente solteiros. Eu tenho um amigo, por exemplo, que vai para a fila dos motéis espionar a privacidade dos outros; tá certo que eu não concordo muito com essa forma de diversão, mas não deixa de ser uma maneira de tirar um bom sarro do dia.

Eu nunca fui pra porta de motel no dia doze do seis (nem sozinho nem acompanhado), mas me lembro muito bem do 12 de junho de 2003, uma quinta-feira, o último dia dos namorados que eu passei solteiro: a solidão bateu e eu decidi me refugiar em Lençóis. A noite do dia dos namorados tratei de exorcizar dentro de um ônibus indo rumo ao lugar que considero meu ‘cantinho no mundo’. Não avisei a ninguém, somente à minha mãe, e parti. Tive um final de semana silencioso, sozinho, mas descobri que a gente pode ser o nosso melhor namorado quando deixa de lado essa pressão que se cria ao redor dos que estão sós em uma data como essa. É o tipo do dia com uma aura de ‘felicidade irritante’ para os solteiros. Conheço gente que se desespera na semana que precede a data para arranjar alguém só para não ficar só no dia. Pode? Pode, sim. A solidão e o medo têm formas cruéis de te enlouquecer...

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A LITTLE INTERACTION:

Bem, não resisti e gostaria de fazer umas perguntinhas a você – imitando descaradamente esse garoto:

O que você acha do dia dos namorados? Estando solteiro, sente-se mal? Estando namorando, dá presentes, comemora, ou reage ao instinto capitalista e se finge de morto ou de alienígena que nunca ouviu falar na data?

terça-feira, 7 de junho de 2005

Minhas confidentes e amigas, as flores


Enquanto tomo banho, todos os dias, é esse o jardim que me espreita, são essas pequeninas e coloridas flores que limpam a minha alma enquanto a água que jorra da ducha limpa o meu corpo. Converso com elas todos os dias e, apesar de conhecê-las há menos de uma semana, já são minhas melhores amigas e – confesso, envergonhado – já conhecem segredos de amor que até meus melhores e mais íntimos amigos desconhecem. Elas não conhecem estes segredos apenas porque já foram testemunhas oculares de atos de amor diante dos seus olhos de flores: elas sabem deles porque eu converso com elas, e é a minha conversa, o meu cumprimento sonolento da manhã e o meu boa noite bocejado que as alimenta, que lhes fornece a seiva para a fotossíntese espiritual, que independe dessa luz física, mas da luz que jorra das palavras de quem elas considera dono. Flores sem dono – que defino aqui como as que moram em casas fechadas, porque as da natureza são de ninguém, daí a sua beleza inigualável – tendem a morrer murchas, com aquela sensação de vinho que vira vinagre sem antes ser apreciado pelo paladar. Morrem sem ter a sensação de ter embelezado e limpado uma alma aflita, sozinha, carente. Morrem, enfim, sem exercer a sua função de flor: embelezar, ávidas e coloridas, a vida.

Já moraram azaléias cor-de-rosa no meu canteiro, elas sabiam mil segredos meus, mas por força maior tive de deixá-las sós por mais de um mês. Apesar das mil e uma recomendações que fiz à moça que se encarregaria de regá-las e contar-lhes as novidades, chego à minha casa para encontrá-las mortas, sem vida, carentes de mim, como cão que sente falta do dono e morre, à míngua, de tanta saudade.

Essas rosas-meninas que lhes apresento hoje são minhas melhores amigas - sei que a foto, de tão ruim, não lhes capta nem minimamente a beleza que têm. Delas sei segredos, como aquele que a gente sabe, mas desconhece, pensa que poderia repetir, mas faltam palavras. Um segredo que não pode ser dito: é esse o segredo das flores.
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Meu flog está às moscas. Apareça aqui.

segunda-feira, 6 de junho de 2005

(entre parênteses)

E eu vou tomando posse
dessa terra fértil que é o seu corpo
pelas minhas dentadas sedentas e secas,
sem saliva,
que percorrem o seu pescoço
(eu, vampiro)
sua cabeça
(eu, docente)
seus mamilos
(eu, bebê faminto)
seu estômago,
(eu, descobridor das tuas fomes)

Meus dentes te arrancam suspiros
Que se mesclam com aquele som que toca há horas
Na nossa cabeça,
No laser perdido,
Na voz grave
Da cantora

Vou tomando posse desse som que expiras
(eu, teu maestro)
desse estremecer que parte dos teus poros
(eu, tua lã)
dessa paisagem que me pedes que descreva
(eu, teu guia)
desse riso solto sem razão nem porquê
(eu, tua comédia)

Tomo posse da tua alucinação
(eu, tua droga)
descrevo-a inteira para ti
(eu, teu poeta)
e esses meus braços, abertos,
(você, meu Cristo)
jogados na cama inteira
(você, minha espuma)
esperam os teus poros
(você: meu encontro)

sábado, 4 de junho de 2005

Batuque Divino

Só o bom soteropolitano vê e curte esse céu cinzento em plena tarde de sábado na cidade.
A Igreja do Bomfim está encoberta pela neblina rala que é a cortina de água – porque os pingos, espessos, vistos a uma distância como essa, formam uma cortina, uma lente que aumenta ou diminui a paisagem. Só sendo soteropolitano para entender que aqui faz frio sim, frio de baiano dengoso, mole, baiano de missão cumprida temporariamente com a vida, que fez tudo que tinha de ser feito durante a semana e agora, tudo o que quer, é ser acordado - no meio de uma tarde chuvosa de velas no quarto, companhia na cama, aromatizador exalando cheiro de capim santo, chuva batendo no telhado com a mesma força de sempre e o mesmo barulhinho que nina -, pela mãe-coruja-vencendo-preconceitos com chocolate quente e bolachinha no prato de louça.

Esse baiano friorento que se enrola todo, acha, e confessa a vocês, que numa tarde como estas, onde tudo é tão perfeito, desde os pés até o ar que respira, tudo em uma ordem assustadora, tudo mesmo, só pode ser Deus, lá de cima, mandando, com a sua Filha das Tempestades e a outra, do Amor, essas lágrimas pesadas, que fazem sinfonia no nosso telhado.
(É em teu sono que reside a minha espera. A minha paciência é testada pelo tanto que sonhas, pela força com que fechas os olhos querendo viajar pelo mundo onírico, mundo onde, eu sei, tudo é mais fácil, maleável e possível.
Sento-me a beira dessa cama que é nossa, dentro aqui do nosso ninho refeito, com cheiro de capim limão, e observo como giram os seus globos oculares. A cada giro é um minuto que passa, um segundo que se esvazia, um sonho que é sonhado. Agora sei porque dormes tanto. Não é possível sonhar em qualquer lugar. Os olhos só fecham e sonham naquele ponto exato onde o conforto emocional atinge o seu pico. Fico feliz, encantado até, com a sua escolha. É na nossa cama em que sonhas, é sob o nosso edredon que te aqueces nessa tarde cheia de água, barulhos confortantes e cheia de mim, aqui, zelando o teu sono.)

quinta-feira, 2 de junho de 2005

Paralelos


(a pedido dele, um paralelo...)

No Capão as pessoas olham nos olhos, sentem o seu calor e cumprimentam. Em Lençóis, a correria do turismo, a necessidade do encontro, a vontade de ir mais longe atrapalha os passo, insensibiliza, trai a si mesmo e a fonte do sustento. No Capão, as cachoeiras são mais distantes, mais virgens, medita-se a todo instante, encontra-se sálvia a poucos metros do que chamam de vila. Em Lençóis, percorrem-se montanhas para chegar até as sálvias. No Capão, já estamos nas montanhas, no alto, no isolado. O rústico é a palavra de ordem, não vale se não for orgânico, se não for do pé, se não for brotando do solo direto pra mesa. Em Lençóis, começam a surgir resquícios do não-ligo-mais-para-o-natural, quero-é-o-rápido, o-que-dá-retorno, o-que-não-só-sustenta-mas-dá-o-luxo. No Capão é mais frio, mas as pessoas são mais quentes. No Capão tem menos pousadas, mas as que tem parecem ter portas mais abertas, mais escancaradas. No Capão, os gatos deitam à rede comigo, deixam-se alisar, até dormem no conforto quente que apazigua o frio. Em Lençóis, os gatos fogem. No Capão tem Glória e seu amor por Teka, tem palestra com americano ligado em chacras, tem contradições sim, ah como tem, mas elas se harmonizam em um ponto qualquer do percurso, somem pelo excesso que há de harmonias. E em Lençóis, claro que ainda tem Jane e café da manhã delícia, tem o Ribeirão, que mesmo que tentem esconder dos que não querem guia, continua lá, cheio de água e com pedras cada vez mais lisas, escorregador cada vez mais perfeito.
Em Lençóis tem um passado meu, de há quinze anos atrás, tem filé a parmegiana no Grizante, tem o homem de um braço só que faz esculturas de areia em garrafinhas, tem a Prainha e eu ainda me vejo lá, lendo livros inteiros deitado à sombra daquela mesma árvore. Tem uma vida minha em Lençóis, tem a lembrança das minhas fugas de Salvador na sexta à noite– “que loucura ir pra Lençóis passar dois dias...”-, quando só minha mãe sabia do meu paradeiro, tem Matthias, tem Daniel, Ieda, eu de cabeça raspada pela primeira vez na vida, iniciando em Lençóis vida nova depois da correria do vestibular. Precisei viver 15 anos de Chapada para ir ao Capão e descobrir que Lençóis já foi assim um dia, como ele, e que eu queria muito, meu Deus, queria de verdade, que a civilização, este estado de espírito, nunca chegasse àquelas bandas.
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(Mas fazer o que se o que havia era apenas o que estava lá, aparentemente parado, estático, mas com uma movimentação interna perceptível apenas a olhos que quisessem parar com mais cuidado e arriscar-se a descobrir as entranhas daquele movimento?

Sentei-me diante das águas negras – negras de tanta matéria orgânica – e comecei a notar que a água, apesar de passar, era exatamente a mesma água do ciclo. Ela já havia passado por ali, arrastado pessoas, galhos, plantas, criado limos, limbos, alisado pedras. Era sempre a mesma água. A mesma imprudência, a mesma entrega, a mesma ousadia. A água que separada em goles na boca é transparente, mas que junto a mais água transforma-se em um buraco negro, misterioso. O mistério da água acaba quando, com mãos em concha, pegamos um pouco dela e observamos. Seu mistério acaba, quando, através dela, podemos ver, nas linhas e sulcos das palmas das mãos, os mistérios e os traçados da nossa própria vida. )

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Síndrome do Parisiense


- Vire à direita, agora à esquerda. Siga adiante. Agora por esse caminho. É mais seguro.

Acostumados que estamos com as sinalizações e placas no meio do caminho, indicando para onde devemos ou não devemos ir, perdemos a esperança da surpresa e optamos pelo mais certo, mais seguro, o concreto, o caminho onde não há pedras em falso ou cheias de limo. Esquecemos que uma cachoeira pode ser encontrada pelo barulho da água que jorra, que uma flor pode ser percebida de longe pelo cheiro que exala, que um olhar apaixonado pode ser sentido a cachoeiras de distância.

- Não preciso dos seus serviços, senhor. Gracias.

***

- Moço, o Ribeirão do Meio é pra lá ou pra cá? – perguntei ao rapaz, ainda dentro da cidade, apontando para a direita e para a esquerda.
- Quer um guia?
- Não preciso não. Pra que lado mesmo?
- Se não precisa de guia, meu amigo, então você mesmo se vira pra saber se é esquerda ou direita.

Estamos no centro de Lençóis, município da Chapada Diamantina, Bahia. E essa foi a primeira patada que levamos no local. A minha vontade foi de dizer a esse senhor que quem está precisando de um guia é ele. Um guia espiritual que lhe retire essa ganância do coração. Mas turista teimoso não é fácil. Descobrimos a direção certa e pé na estrada.
(...)

Andamos, andamos e andamos e chegamos, já em um lugar longe da cidade, em uma bifurcação, onde havia duas casas. Em uma delas, ninguém atendia – precisávamos nos certificar do caminho certo. Depois de quatro dias de aventura na Chapada, descer ou subir uma ladeira inutilmente é estressante. Vi um menino de mais ou menos dois anos em um velotrol, brincando no quintal de uma das casas.

- Ei menino! O Ribeirão do Meio é pra que lado? – admito que perdi a noção, querendo que ele soubesse a resposta.
- É pelo lado que a gente vai. – certíssimo o garoto. Não caberia indigná-lo.
- Seu pai tá aí?
- Tá no trabalho.
- E mamãe? Chama ela pra mim?

Educadíssimo e prestativo, o garoto foi chamar a mãe.

- Boa tarde, senhora... pra que lado fica o Ribeirão?
- Não vou te responder. Isso é um abuso.
- Como? A senhora não pode me dizer se é para lá ou para cá?
- Não.

E me deu as costas. Tive vontade de dizer a ela que não contamine o garotinho que tinha sido tão educado comigo - seria péssimo vê-lo crescer e se tornar um adulto como ela. Fiquei arrasado. Mas procurei entender a mulher: ela deve receber pelo menos umas dez visitas dessas por dia. Síndrome do parisiense, já ouviram falar? Turistofobia. Ou é isso, ou ela é mal-amada mesmo.

Mas como nada estraga um dia de luz e céu azul, encontramos o caminho e fomos felizes ralando a bunda no escorregador do Ribeirão.