<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d8639429\x26blogName\x3dDi%C3%A1rio+Evolutivo\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dTAN\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://evoluirefluir.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_BR\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://evoluirefluir.blogspot.com/\x26vt\x3d-7690663095198134269', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>







terça-feira, 31 de maio de 2005

Vôo: o passo que falta


O quanto de intensidade nos é permitido, ou o quanto de intensidade nos permitimos no dia-a-dia? Será que, de fato, sabemos ou nos damos conta da intensidade que há na vida, dos caminhos que percorremos e de suas flores, às vezes minúsculas, mas com tanta beleza? Qual o tamanho da parte de nós que vive o agora, que vence o medo, que anda de olhos fechados em um precipício, que abraça com vontade quem gosta, que segura na mão tocando todos os poros possíveis, todas as entranhas? Quantas entranhas temos tocado, quanto desse sumo tem nos alimentado? Que medo é esse, meu Deus, que corta na superfície, que restringe, que poda?

Não conheço, obviamente, toda a intensidade da vida, e por isso tenho uma vaga impressão de tempo perdido. Não desperdiçado, mas perdido no sentido de pouco usado. É o medo. Saí de moto e fechei os olhos. Eu, que sempre tive medo de motos, de motoqueiros irresponsáveis, eu, logo eu, tão frágil nessa carne e nesses ossos de gente que se fere fácil. Soltei os ferros, olhei para a chuva, deixei o colírio dos céus inundar meus olhos na esperança de que aquela droga me desse nova visão; foi transe, foi encontro, foi insight. E nasceu o embrião desse post, porque a droga líquida que caiu do céu me fez rever a cena, me fez tocar uma realidade e me dar conta de que ela sempre existiu.

A outra cena é a da cachoeira logo ali, pedindo o pulo. Água negra, água escura de tanto mistério e matéria orgânica – ela sempre esteve ali, sempre de passagem, mas a água, uma só, esta continua – chamava-me e eu recusei, não poria em risco a minha vida, pois um pulo dali seria arriscado demais. Intensidade sem precedentes, intensidade final para esta vida. Preferi olhar do alto, escura que é a água da Chapada, cheia de vida que é. Minha intensidade era essa visão, ser intenso era, ali, captar-lhe a matéria orgânica dissolvida e entrar no mistério que se formaria, diante dos meus olhos, se eu resolvesse, num pulo, embrenhar-me da vida que corria naquele jorro.

(Viver intensamente requer uma companhia à altura para os iniciados na arte das intensidades. Como somos todos iniciantes, iniciados, todos estamos a um passo do fim. Esse passo que falta para o reinício ou início suave de tudo é mais extenso, mais curto, não sei. Isso é tudo o que sei: que o que falta é um passo, só um passo enfim, por fim, ao fim.)

segunda-feira, 30 de maio de 2005

Vou voltando devagar...

Não se chega de uma viagem intensa dessas e escreve-se apenas um post, ou um post corrido no meio de uma manhã lotada de segunda-feira. Depois de uma viagem dessas, respira-se, reflete-se, catam-se todos os papéis jogados nas mochilas da caminhada (com pedaços inacabados de sensações que precisavam ir para o papel), baixam-se as fotos, colhem-se os momentos mais especiais - por um motivo ou por outro - e, aí sim, escreve-se um post, ou dois, ou três.
Estou de volta. Da cintura para baixo, arrasado (como doem as pernas e os glúteos). Da cintura para cima, mais vivo que nunca.
Namasté.

quarta-feira, 25 de maio de 2005

Com licença, vou ali.

Com a licença de vocês, vou me retirar. Não deixarei de escrever o blog, obviamente - não teria a coragem de pôr de lado uma das melhores coisas que já tive a chance de fazer na vida. Retiro-me fisicamente e por um tempo controlado, determinado (minha restrita liberdade ainda me impede de sumir indeterminadamente). Sei que nosso contato é virtual e por isso a minha ausência física não deveria se fazer notar nessa situação. Pois bem, no meu caso é possível sim, porque o lugar para onde partirei hoje é isolado do mundo, virtualmente inacessível, fisica e geograficamente distante desse mundo de cabos e conexões. Estarei entre montanhas, sobre diamantes, sob céu estrelado. Não digo para onde exatamente eu vou, porque estar lá em segredo aumenta o prazer da viagem. Só lhes dou estas dicas e deixo que a imaginação de vocês navegue no mapa mundi...
Digo apenas que vou como forma de reagir a esta rotina estafante, esse ar que eu não sei se respiro ou se me respira, esta falta de borboletas voando sem rumo. Vou porque nunca mais vi uma orquídea, uma queda d'água que não fosse o meu chuveiro, uma mulher sequer lavando roupa na fonte, crianças vestidas de chita, céu de estrelas desavergonhadas, explicitamente nuas e brilhantes. Sinto falta do primitivo, por isso eu vou.
Ficam aqui essas palavras. Virtuais, eu sei, pouco primitivas, eu sei, mas a representação do Verbo, do início de tudo. É para rever e relembrar esse início que eu vou. Prometo contar (quase) tudo a vocês.
Namasté.

terça-feira, 24 de maio de 2005

O traç(t)ado do amor


O amor passa pelo caminho da amizade. Não posso conceber um casal que se ama mas não é amigo, não ri junto, não brinca de circo na cama com o lençol, não tem um apelido que irrita e outro carinhoso, não consegue ver no outro um confidente, um lenço, um receptáculo das alegrias e tristezas do seu dia. Falo isso porque, para mim, ter um amigo é sabê-lo para sempre - e não é isso que se quer quando se ama ? -, porque somente aqueles que pisam na bola feio e não sabem se comunicar direito perdem os amigos de verdade. Amizade dura mais que relação amorosa por que é realizada no caminho da liberdade e do respeito.

Não consigo conceber um relacionamento em que não há segredos participados, cumplicidades, medos revelados, coragens compartilhadas. Não consigo conceber um casal onde não há troca sem palavras pelo olhar apenas, consciência de que amor não detem, mas liberta, aceitação do diferente, vontade de estar junto, vontade de conhecer o mundo junto, de mostrar ao outro, por novos olhos, o que já se viu, o que já se tocou, o que já se sentiu. Não consigo conceber um relacionamento em que não existe respeito, em que a privacidade e o direito do outro não é respeitado, em que os gostos, os hábitos, a realização pessoal do parceiro são reprimidos ao invés de encorajados.

Não existe amor sem antes existir admiração mútua, troca de experiências, entendimento recíproco. Admirar é ver com os olhos bondosos da alma, porque não se admira apenas o belo, mas o esforço em tornar-se algo que se quer. Admira-se o caminho difícil que todos nós percorremos em busca do mínimo de auto-satisfação, autoconhecimento e consciência do quem nós somos.

O parceiro - o que reparte a cama - reparte também planos, projetos, sonhos - dos mais impossíveis sim, porque não? - reparte o bolo, dá a fatia mais deliciosa ao outro, e o entrega, admirando a escolha, a busca, o traçado que foi escolhido e que, com bom humor e leveza, pode tornar-se uma rua de mão dupla, belamente calçada de pedras lindas (confortáveis aos pés), rodeada de uma bela vista de horizontes sem fim (confortável à alma, que é eterna), povoada de pássaros livres (um alívio ao sonho de liberdade), com nuvens e sol abundante (certeza de água e de luz) e mãos dadas (certeza de que se tem ao lado uma fonte, um espelho, o que falta e que é a essência desenhada à nossa frente).

Aqui, nessa estrada que vejo, somos nós mesmos em movimento incessante, a versão inacabada de nós, a luz que refletimos. Somos, nesse instante, o outro que em nós vive e com nossas mãos percorre o caminho descrito. As mãos que se encontram e se unem são mãos de um mesmo ser, unicidade que se define pela busca da compreensão e da aceitação. Nessa estrada, quanto mais eu for o que eu sou e você o que é, mais ela será longa, perfumada e cheia de montanhas de picos sem fim.

domingo, 22 de maio de 2005

Sunny


Um dia azul
Uma lua no céu.
(O pôr-do-sol da costa leste
É uma lua
que, poeta,
reluz no mar.)

sexta-feira, 20 de maio de 2005

Guia

Era um cego no meio da rua. Um cego de orgulhos inflados e desmedidos, um cego de verdade. Daqueles que nada vêem e que não aceitam uma mão de ajuda.
- O senhor por um acaso é policial?
- Não, senhor. Sou seu vizinho. - Sabia que era vizinho dele primeiro porque um cego, às dez da noite não poderia, sozinho, estar muito longe da sua casa. Segundo, porque um grupo de mendigos solidários tinham acabado de me dizer que ele morava no prédio ao lado.
- O senhor tem consciência de que está andando no meio da rua? - perguntei segundos depois de parar com a mão um carro de faróis altos que quase me deixaram cego e que estava prestes a atropelá-lo.
- Não. - virou à direita. Não tocava nele. Aprendi com Jatobá.
- Logo ali vem o passeio.
- Quem é o senhor? - insistiu.
- Seu vizinho. Moro logo ali. - não sei se 'ali' é uma referência muito boa para um cego - tem certeza de que não quer ajuda?
- Tenho.
Mas aquele senhor não me convenceu. Desconfiado, auto-suficiente, medroso. Acho estranho que ele não tenha sentido as pedras que, na rua, no meio da rua, ao tato que eu suponho ser mais aguçado nos cegos, eram maiores e mais arredondadas. Se eu fechasse os olhos sentiria a diferença e aquele homem, cujos olhos foram fechados definitiva e compulsoriamente pela vida, nada via com seus pés.
Queria terminar a noite sentindo-me útil, mas não foi possível. Quis aplacar a minha cegueira - a nossa cegueira - que remedia o dia-a-dia como anestesia em doses homeopáticas, mas suficientes para tornar macia a existência. Somos cegos parciais, cegos que só vêem o que lhes alcança a vontade. Pensei em Amélie Poulin e na forma com que ele descrevia paisagens para os cegos, sua vontade de mudar o mundo e fazer o bem. Frustrei-me, porque o moço não me deixou, duvidou de minha suposta bondade. Mas não vou negar aqui que o que eu queria mesmo era mentir pra ele, e descrever não o que eu via, mas o que eu queria ver. A minha intenção era cruel, admito.

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

(Descreverei paisagens para ti. Todo passo seu será também meu, cada sorriso seu, de uma coisa que nós dois vimos juntos. Na água gelada sentirei a tua pele arder, na pedra quente a fome morta, o vinho que já sei da tua voz que não custa os olhos da cara. Os teus olhos, eu bem sei, hoje, cego que és, não pagariam um copo de vinho sequer. A brisa sentiremos no instante em que ela toca a pele, a vista, no entanto, sentirei mais intensa quando descrevê-la para ti. Não quero que percas uma montanha, uma orquídea ao longe, um pássaro, um beija-flor. Teus olhos de lince serão os meus olhos. Se teus óculos não puderem ser remendados, é pela minha íris que eu quero que mire a tua frente. Nos dois olhos meus, nós dois. Me verás porque estarei sempre à distância permitida aos míopes, me verás bem pelos sentidos todos. Altos sentidos, sextos sentidos.
Nesse momento, antes da partida, o cego sou eu, eu que nada vi ainda - cego temporário - que só consegue imaginar pela tua voz o que me aguarda ali no canto onde as montanhas, enormes, se revelam aos que vêem com a alma. É com você que quero fechar os olhos e, cego, ouvir palavras desse lugar que me apresentas. É de você que quero que saiam os sentidos aguçados pela miopia que tornei momentaneamente irremediável com o peso dos meus pés.)

quarta-feira, 18 de maio de 2005

Siga-me


Estava a procura de alguém. A noite era escura, chuva por vir, quase ninguém na rua. Ele, pequeno, passos curtos, branco. Eu, em direção ao meu destino com a disposição que se tem depois de um dia inteiro de trabalho. A uma certa altura da rua o nosso caminho se cruzou. Comecei a sentir seus passos curtos me seguindo, não levei muito a sério: pelo tamanho, não me faria mal algum. No mínimo, seria um companheiro de jornada.

Meus passos eram longos e firmes, tinha de estar no meu destino em menos de dois minutos. Seus passos apertaram, e quando olhei para trás e meus olhos encontraram os dele, a amplitude dos passos do meu perseguidor aumentou de forma que, por um segundo, era eu que o seguia e não mais o contrário. O meu olhar revigorara as suas esperanças. “Finalmente um olhar em minha direção”, deve ter pensado, “esse aí parece apressado, mas deve ter um bom coração. Sou vira-lata, tenho fome e nada a perder.” O cãozinho continuava atrás de mim. Um passo meu, dez dele. Um olhar meu e eram então vinte passos e um sorriso de cão no rosto. Cheguei ao meu destino. Ele quis passar por entre as grades do portão. Eu disse que não. Ele obedeceu. Voltou à rua e eu, confesso, gostei da companhia. Ele não exigiu nada de mim, apenas me deu um sorriso de cão vira-lata. Não quis saber o meu nome, apenas viu em mim um companheiro possível. Não subiu comigo para o lugar proibido, porque a vida já devia ter ensinado que um não pode virar um grito que pode gerar uma pedra na cabeça. Admito que passei os minutos na academia pensando em como seria bom se aquele cão estivesse na porta me esperando. Leal, fiel, meu. Eu poderia dar-lhe um prato de comida e fazer um amigo, poderia até dar-lhe um banho morno e lhe dar um nome. Com o tempo, poderia adotá-lo. Fiz planos, confesso.

Desci a escadaria depois de 40 minutos. E os 40 minutos que passaram foram suficientes para ele perder a esperança, toda a esperança que depositara em mim. O vira-lata não estava mais lá, logo na hora em que eu estava mais inteiro ao pé da escada. Ainda olhei para os lados, gritei um nome qualquer, fiz outro caminho, mas não foi dessa vez: ele deve ter olhado muito para a escada, esperado a minha volta e virado, cabisbaixo, de volta à escuridão da noite em busca de novos pés com que pudesse seguir junto.

::::

(Sou abundante. Não sei ser pela metade, não sei pedir que me esperes na escada, quero que subas comigo. Não sei não ser inteiro, não demonstrar que adoro que me sigas os passos, que me fotografe em toda a minha extensão, que me escreva todo, que me entrelace com força e que me roube beijos, que me aqueça no frio e te afastes, distante, quando esquento todo e o suor me toma a pele. Não sei ser mais ou menos, um quarto, a terça parte. Não sei ser a metade da maçã, e aplacar metade da tua fome. Comigo, quero que sobrem restos no teu prato, quero fome quase-saciada, porque o que falta é a sobra de depois, a misteriosa falta, o segredo que abastece, a noite que não te ouvi, o sono que domina, a voz que acabou com a bateria. Fica aqui a minha outra metade, pois a primeira adormece, se refaz inteira. A abundância me exige, me distingue, me refaz. Sou meio-teu, dono da tua meia-fome, dono de todas as vezes em que lerás estas palavras, metade tuas, metade minhas. Passo a faca. Parta o pão. Metade meu, metade teu. Põe no prato a nossa refeição, e retira-te, deixando aqui o apetite que preciso para ingerir a metade tua que é inteira minha. )

terça-feira, 17 de maio de 2005

Improvisos

A vida se entende pelos improvisos. Nunca fui de planejar muito, e nesses anos que já começam a me doer as costas, tenho aprendido que foi nos momentos de improviso que o melhor de mim desabrochou.

Vieram aulas perfeitamente planejadas, discursos detalhadamente ensinados, golpes milimetrados, dores previstas, socos pressentidos, vozes disfarçadas, mas veio junto a tudo isso a espontaneidade. Não tem jeito: ela sempre sobressai em mim. Não sou ator de seguir falas escritas. Não sei seguir roteiros sufocantes, ou marcações impostas. Sou livre na medida em que posso e que me permitem ser. A cada instante dou um passo à frente - o passo permitido - e no instante que o prossegue dou meio passo, desafiando uma autoridade qualquer, mas não deixo de arriscar uma nova pisada em chão virgem. Isso é meu, é o espontâneo, o não ensaiado, a rebeldia. É esse o meu lado sagrado, o mais respeitado, a parte minha que é mais etérea e por isso mesmo mais próxima de Deus. É no improviso que começo as minhas linhas, é pelo improviso que atesto a minha confiança nos desígnios do mundo, é pelo improviso que eu sei que não acabo e que lei nenhum me detem, ou detem quaisquer um de nós. É no improviso que me entrego, é por ele que pratico a minha irresponsabilidade calculada. É ele que preenche a lacuna da espera, do não-feito, do não-dito. É o improviso que faz rir, é ele a própria mão de Deus pondo a ordem no caos e mostrando que essa ordem é a prova maior da Sua existência.
Sou essa marcha de pés não ensaiados, a música sem letra escrita, a voz do repentista, o ator que esqueceu o texto, o professor sem caneta, o aluno sem idéias, o namorado de palavras de amor esgotadas, o motorista sem mapa, o piloto sem plano de vôo, o médico sem diagnóstico, a borboleta sem flor nem paisagem. Sou aquilo que não tem o que tem de ter, mas que se refaz com o que tem às mãos, pintando cores em tons de cinza com carvão colhido do chão, desenhando paisagens em muro velho, catando borboletas à sorte do vento. E, como o vento, é esse improviso que me leva até onde eu nem sei, que me faz etéreo, invisível, redemoinho e furacão.

domingo, 15 de maio de 2005

Against all odds


"Felicidade se encontra em horinhas de descuido" - Dia das Mães, Baixios, domingo passado. Eu e Ângelo, depois da chuva, provando que dia nublado nenhum pode afastar nossa alegria.

sábado, 14 de maio de 2005

Poucas e boas

Overheard in Salvador
"Não lavou nem uma cueca do cara e ainda levou pra casa 13 milhão."
(dono de uma barraca na Pituba - ele falava estas e outras perólas bem alto, para todo mundo ouvir. Bem baiano.)
:::
Esse quarto
em que vivo
Tá uma imundice - me disse.
:::
Minha inspiração essa semana se bloqueou. Não por falta de coisas para escrever aqui, mas por pura falta de VELOX. De alguma forma, inconscientemente, atrelei a minha inspiração à possibilidade de ter meu computador ligado em alta velocidade e não escrevi quase nada essa semana. Culpo a Telemar pela falta de palavras. Bem mais fácil assim. E a tempo: ainda estou com o acesso discado. A Telemar merece ser fechada.
:::
Semana lo-ta-da. Assumo que tenho pego mais trabalho do que posso, sanamente, realizar. A semana terminou, deu tudo certo e ficou a sensação que, na minha área, graças a Deus é difícil morrer de fome. Só fica na penúria quem quer, porque não faltam executivos querendo deslanchar no inglês.
:::
Um beijo mais que especial para minha amiga Rê. Amiga do coração mesmo e que, só há poucos dias, descobriu o Diário e tem lido sempre. Rê, vamos combinar aquele jantar mesmo, viu?

quinta-feira, 12 de maio de 2005

Posse

Estirava-se sobre o meu leito como se já fosse a sua casa, tomava posse dos meus dias, das minhas horas, dos meus costumes só meus, dos meus seres imaginários de estimação, punha a minha música - os meus gostos tocavam e vibravam no ar pela sua vontade -, pisava o meu chão deixando marcas, perfume inventado não havia, mas havia o rastro daquele cheiro que lhe emanava como nuvem ao redor, sabia das minhas horas, de quando o estômago pedia comida, sabia das escadas que subiam até mim e que eu, desavisado, descera em busca de um nada qualquer, sabia dos meus arquivos, nos meus livros punha seus dedos ávidos, buscava nos meus escritos o que me delatava, criava hipóteses sobre mim, escrevia teses inteiras sobre as minhas origens. Pegava as minhas mãos e, quirólogo, decifrava-lhes os sulcos, punha as cartas na mesa e apontava-me os símbolos. No céu, buscava a constelação de gêmeos e cria, inocente, que era aquele o meu limite. Abocanhou com fome feroz a hora certa da minha fome. A minha inspiração era sua, os meus dedos se sujavam agora apenas com o mel que eu punha à sua boca. Entrelaçou-se em mim sem piedade, tomando-me num susto que de susto não tinha nada porque havia a espera. Entrevou-se sobre a minha ausência, ria da minha aproximação e quanto mais próximo eu, mais eu decifrava aquele sorriso. Sabia que viera de um sonho, sabia que a sua origem era uma viagem. Sua origem era exata, atordoante. Atordoante, repito, de tão exata. Sabia dos meus segredos, das minhas alucinações noturnas, das minhas visitas proibidas ao mundo dos que sonham. O que sabia de mim era o que eu permitia e o que eu tentava esconder ou decifrar em mim mesmo. O passo à frente era o seu passo. Os binóculos que viam o que eu não via eram seus. A miopia era minha. A escuridão, nossa, mas de nós era eu o que não via nada à frente. Não acostumavam meus olhos àquela noite.

quarta-feira, 11 de maio de 2005

Desilusões


Das dez ilusões que criou
Ficaram no peito
Apenas

Restos de dor

E a Telemar insiste em me enrolar. Hoje é o ultimo dia do resto da minha paciência. Quase não escrevi nada esta semana por aqui. Se não fosse pela Telemar, talvez tivesse escrito algo, sim. Mas a realidade é que eu me envolvi em tantos projetos que não tenho tido tempo nem de me coçar direito.

A semana está me atropelando. E hoje já é quarta-feira. Dia de trabalhar non-stop.

Namasté!

segunda-feira, 9 de maio de 2005

A 300


A Telemar me enrolou. Disse que ia mandar um técnico na minha casa hoje e não cumpriu a promessa. Esquentei minha orelha no telefone celular hoje, durante alguns 40 minutos, e na hora agá em que o rapaz - pobre atendente, ouviu muito - ia me dar o número do protocolo que garantiria a visita do técnico amanhã à minha residência... a ligação caiu. Lei de Murphy. Agora é esperar o pessoal da Velox aparecer para me deixar conectado a 300 com o mundo virtual. Por enquanto, corro aqui, ainda na escola, para dar a vocês o ar da minha graça. Como eu achei que o técnico impreterivelmente iria hoje à minha casa, cancelei o UOL e estou sem nem acesso discado nem Velox; na tentativa de entrar na velocidade do mundo virtual, acabei voltando à Idade da Pedra.
No mais... só lhes digo isso: a vida tem me tratado muito bem e mesmo na Idade da Pedra, sinto-me irremediavelmente feliz.

sábado, 7 de maio de 2005

Ventres, dedos e seio.

Cheguei lá de dentro, do exato lugar de onde saem todos, e é pela minha afeição por ela que me comunico com o mundo. Foi do cordão que captei a essência dos gestos que fiz a frase, da expulsão da casa que saiu o choro.

Me deu casa quente, úmida, cheia de nutrientes, uma piscina natural cheia de regalias. Era lá dentro que eu me sentia seguro, hidratado. Lá dentro ainda não chorava. Não havia aquela luz que, junto ao tapa, me dava a vontade de chorar. Senti, junto com a luz daquela sala cheia de refletores o toque em seu peito, lembro vagamente de um sorriso e de flashes que disparavam. Era seu olhar.

Me cortaram o umbigo e me colocaram num berço meio apertado, e desde já eu sabia que seu olhar me acompanhava, atento. O cordão se soltara, agora eram as mãos, e principalmente o olhar que me uniria a ela. E seus olhos não se desgrudavam dos meus. Eu, de olhar ainda tão pequeno, tão sem nada, e ao mesmo tempo tão absorto diante de tanta vida e tanto amor.

Como todo ser que nasce chorei forte. Mas tinha um cheiro que eu só tinha sentido de dentro. E um outro, que vinha no ar, que emanava de fora. Isso mesmo. O cheiro emanava de fora, não mais de dentro. Com as mãos pequenas abracei seu dedo e pus minha boca, instintivamente, num bico de toque suave. Não tinha mais porque chorar. O abraço no dedo me saciava a fome de amor e o toque no seio a fome física.

Ela me levou pa casa, me abasteceu de outras tantas coisas durante esses quase trinta e um anos. Me entendeu nas minhas manias mais estranhas, me deu de comer nas horas mais inapropriadas, me deu regalias, me fez sentir dor na sua frente para não sentir diante do mundo dos estranhos, fez daquela casa o simulacro da vida que um dia eu ia enfrentar. Me educou como mãe, como professora, como profeta, como artista, como ser humano inacabado e que falha.

Vieram os dias. Um após o outro. Eu, sem cordão pendendo do umbigo, sem peito para me matar a fome, hoje sou um homem feito. Carrego ainda a força daquela vida que me nutriu nos nove meses. Distribuo hoje, ao mundo, essa afeição que tive em abundância. É muita vida dentro de mim. Grávido, hoje, de um mundo inteiro. Sou um pouco mãe, filho e pai. Mas sou muito mais filho ainda, confesso. Porque não posso negar que às vezes o que me resta, depois de um dia cheio de choros, é o conforto desse ventre que ainda encontro, todos os dias, cheio de nutrientes espessos e um dedo bom que eu agarro com força e sei que dali vem uma força que não cessa e que aplaca não sei ao certo o que, mas me deixa seguro, em posição fetal, no escuro, escondido, livre do mundo e do peso dele sobre mim.

(O nome da minha mãe é Lia, mulher rica e esbelta, professora, como eu e, do alto dos seus 61 anos, ainda é capaz de limpar um rio lamacento e transformá-lo em lagoa de águas transparentes habitada por peixes lindos.)

quinta-feira, 5 de maio de 2005

A forma Leo

Ontem a minha amiga-leitora Pati deixou um recadinho dizendo que gosta de quando ‘eu escrevo assim’, referindo-se ao meu post de ontem, ‘Avestruzes’. Meu Deus, eu pensei, será que eu escrevo de formas e formas? Será que mudo alguma coisa, a não ser as palavras e o conteúdo? Será que mudo mesmo, mas não mudo, porque na realidade a própria mutação faz com que eu ignore a dinâmica das minhas mudanças? Espero que eu esteja mudando sim. Não para melhor, não para pior, mas mudando em direção a um Leo que acompanha o que lhe acontece, sustentando a sua autenticidade. Nesses dias não tem cabido falar de baianidade, como eu enjoei alguns de vocês nos posts de novembro de 2004. Cabe falar de outras coisas, de outros sentimentos – sei que ando muito introspectivo, essa tem sido uma necessidade minha. Eu não seria fiel a mim nem a ninguém mais se não me reorientasse, se negasse o vento que me leva, a direção que me guia, a vela que estendo na tempestade.

O exercício de fazer um blog – sim, esse é um exercício que fazemos juntos todos os dias – é uma arma interessantíssima contra a inconsciência. Não é à toa que chamo esses pedaços de papel sujos de tinta que reúno todos os dias neste espaço virtual de Diário Evolutivo. A evolução me interessa. Não quero o que pára, mas o movimento. Quero a ascendência que se alterna com quedas.
****
Falando em quedas, ainda hoje eu conversava sobre as quedas que acontecem constantemente no número de comentários nos blogs. Sei que não é só aqui, sei que é um fenômeno geral, sazonal, para o qual até hoje não consegui encontrar uma explicação... tem uma pessoa que diz que o blog dela começa a cair em comentários quando ela fica irritantemente feliz. Será? Eu tenho andado bastante feliz esses dias, com telefone confirmado e tudo (piadinha interna). Será isso?

quarta-feira, 4 de maio de 2005

Avestruzes


Coragem é lindo de ver. A gente sabe que uma pessoa é boa pela coragem que ela tem diante de si mesma. Geralmente, fracos, recuamos diante do medo de nos encontrarmos nus diante do que mais nos amedronta. Oprimidos pelo outro, que exige uma resposta, um gesto, um olhar, nos desviamos imediatamente para o buraco do avestruz que nos tornamos e lá, com a cabeça que não permite aos olhos a visão total do mundo, passamos as horas de perigo. Inertes, parados. Fugitivos de nós mesmos, adiando naquele gesto a nossa fortuna.
Os corajosos não: eles arriscam e saem da toca. Sem recuar, levantam a cabeça de avestruz e encaram, do alto, um novo horizonte. Eles não recuam, mas partem velozes, avestruzes livres que são. Saem vitoriosos pela própria ousadia. Ganham milhagens em viagens possíveis, planejam vôos imensos em línguas ignoradas, provocam um sorriso de alegria porque acendeu uma chama de luz no outro.
Eu, avestruz que sou, assumo que muitas vezes o buraco me parece a melhor e mais adequada saída, mas recuso-me e muitas vezes arrisco também o gesto do pescoço que, alto, vê um horizonte. No buraco que antes me escondia, ponho areias pesadas. Nada sei de planos de vôo, mas sei que, sendo avestruz, não quero menos que um vôo alto.
::::
O que vocês acham disso?
::::
Hoje tem dois posts!

Flashback


Sou o ladrão sem-vergonha
Dos seus beijos
A fronha
Que te ampara os bocejos

O riso que atiça
a sua pergunta curiosa
mas que esconde essa felicidade
que não quero

postiça

Mas móvel
Dinâmica
Presente nas suas paragens
Nas suas dúvidas expostas
No menu dos sonhos.

- Que desejas sonhar essa noite, senhor?

Diga que desejas
Um reinício suave
De palavras não-ditas
Mas aquecidas em noites sem sono

Depois da noite
Mal dormida
Mas bem dormida
Sou eu que estou aqui

A razão, a causa
A ausência da conseqüência
O que te esperava
O que te reencontrava

(Mas não era a mim que tanto esperavas

naquelas noites
em que as tuas pálpebras
sequer se tocaram?)

terça-feira, 3 de maio de 2005

Migalhas


alimento-me das migalhas que me ofereces.
essa dor que sinto
abastece a chama que me queima.

esses versos seriam de outro poeta
não fosse o teu mistério

****

Dessa luz que te irradia
Só conheço os fios tênues

Dessa rua por onde andas
Só meus passos que não vejo

Dessa flor que te enfeita
Só conheço cores névoas

Dessa lua que te cobre
Só decifro um raio breve

Desse sonho em que habitas
Só sinto um breve sopro

Nessa concha onde te escondes
Não vejo a onda que te faz peixe

Nessas flores que te enfeitam
Só vejo a cor que te enrubesce

Nessa casa onde moras
Só do barulho te tenho pistas

Nesses dias de forte chuva
Nem sinto a água que te toca a pele

Nesse olhar teu ao mundo
Só vês a mim através do espelho

De uma pedra que atiras
Vem pra mim a poeira instável

Desse tanto que te quero
Resta um peito transbordando

Desse muito que te espero
Faço um rio

E pra ti navego.

segunda-feira, 2 de maio de 2005

Querido diário,

Sexta-feira teve show de Alceu Valença e, parafraseando Tiago A., o show valeu cada centavo dos R$ 3,50 que gastei. Show excelente, companhia agradabilíssima, pós-show igualmente inspirador. Noite de sexta perfeita, por assim dizer. Sexta que precederia um sábado igualmente ótimo, com BA Braz Tesol, apresentação de palestra – sucesso – e passeios na orla da Cidade Baixa. Pra cama cedo, para acordar no domingo com a ligeira impressão de ainda ser sábado – o que o hábito de nunca trabalhar um sábado inteirinho não faz com a nossa percepção, heim? Domingo de preguiça na cama, na boa companhia de velhos CDs, e sensações inéditas embaladas pelo som que saía deles. Almoço na Pedra Furada, peixe sem espinha, horizonte de chuva, clarão de fim de tarde, gratidão por estar vivo, feliz e mais feliz ainda, a cada hora.