[meios, fins]

Há o Natal e há o São João. Se me pedem que escolha entre os dois, posso me matar logo ali, na frente de quem fez a perniciosa pergunta. Não há como escolher entre a brisa suave, o inverno enganoso, o cheiro de chuva no ar de junho e o calor escaldante, o céu de um azul que se nega a sair dali, e a praia de mar transparente de dezembro. Não há, para mim, como escolher entre o santo João e o Pai Noel, entre ganhar o meu presente de Natal e o meu presente de aniversário, e acordo nesses dias de inverno na Bahia, onde tudo é mais suave, agradecendo a Deus porque há os extremos, há o meio e o fim de cada ano. Junho, prometendo julho de descanso e dezembro, com sua promessa de janeiro de dias de esquecimento. Agradeço a Deus pela pausa, pelo fim e recomeço de tudo.
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Em junho olho para o céu pedindo a chuva, tão escassa esse ano. Sinto-me culpado e até envergonhado quando ela cai e no rádio, poucas horas depois, ouço que há pobres desabrigados ou soterrados. Fico entre o meu prazer egoísta e o sentimento pelos que perdem tudo, quando a água cai forte do céu. Mas só então lembro – e talvez seja apenas nessas horas que a falta de fé nos dá alento – que não é simplesmente porque eu desejei tanto que a chuva caiu. Não sou o único culpado. Mas usufruo do prazer desses pingos caindo lá fora como criança que come chocolate escondido da mãe.
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Junho ainda tem o dia 12, hoje, namorados, apaixonados, porto seguro. Se chove no dia 12, então, foi aí que Deus, com sua generosidade, deu até o que nem precisava. É que o dia dos enamorados, por si só, pela sua aura brilhante, já aconchega o coração. E nem há a necessidade de pingos prateados caindo do céu para fazê-lo brilhar ainda mais.
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Em junho olho para o céu pedindo a chuva, tão escassa esse ano. Sinto-me culpado e até envergonhado quando ela cai e no rádio, poucas horas depois, ouço que há pobres desabrigados ou soterrados. Fico entre o meu prazer egoísta e o sentimento pelos que perdem tudo, quando a água cai forte do céu. Mas só então lembro – e talvez seja apenas nessas horas que a falta de fé nos dá alento – que não é simplesmente porque eu desejei tanto que a chuva caiu. Não sou o único culpado. Mas usufruo do prazer desses pingos caindo lá fora como criança que come chocolate escondido da mãe.
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Junho ainda tem o dia 12, hoje, namorados, apaixonados, porto seguro. Se chove no dia 12, então, foi aí que Deus, com sua generosidade, deu até o que nem precisava. É que o dia dos enamorados, por si só, pela sua aura brilhante, já aconchega o coração. E nem há a necessidade de pingos prateados caindo do céu para fazê-lo brilhar ainda mais.