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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

[rituais de verão 5: sobre o re-começo e o fim de tudo]

Anteontem acabaram os dois galões de água em casa. Pedi pelo telefone. Já ao final da tarde, liguei cobrando, afinal já tinha um bom tempo que eu havia ligado e ouvido, logo, logo estará aí, senhor. A desculpa:
- Foi o carnaval. O senhor sabe, a cidade só voltou a funcionar hoje.
Ai, ai.
[Precisando desesperadamente de alguém que me ajude a dar uma nova cara a esse velho diário. Aceito indicações]

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

[wet and wild]

A música de Caetano, uma exaltação ao trio, não o elétrico, mas o do suor, da chuva e cerveja, parece que vai ser o hit do verão, por mais que insistam e tentem os berimbaus metalizados ou os bororós.

A menina do tempo não mente, e os organizadores devem estar de cabelos em pé – até que a chuva caia. Vamos providenciar os plásticos. Mudança de última hora no figurino das divas do carnaval. Nada de decorações muito altas na cabeça. A moça do tempo, quando anuncia a chuva, pede moderação nos badulaques. Nada de homenagens a Carmem Miranda, ou a Maggie Simpson. Coques baixos, pois o plástico negro há de causar dores na cervical. Reforcem-se as doses de analgésico. Chamem, além do fono, o orto e o fisio. Alôbenede, Ivete e Netinho hão de dar-se mal. Altura não combina com plástico-preto-cobrindo-o-trio. Márcia Short, já pelo nome, está fadada se dar bem. Meninas, cancelem os cabeleireiros, porque vai ter muito cabelo pingando na chuva. Horas de prancha serão horas perdidas. Invistam tempo nos impermeabilizantes. Garantam o par de tênis do ano passado - aquele já arquivado, emoldurado, posto para sempre na agenda. Junte-os aos deste ano. Provavelmente a geladeira de casa não vai só trabalhar para esfriar as coisas, mas também para secar sapatos e afins – sendo humana, pode ser que não agüente o trampo. Reforcem a dose de vitamina C e dêem uma passadinha no circuito, ainda vazio e aberto ao trânsito, para garantir que existem pontos estratégicos que garantam o abrigo, mas não levem sombrinhas. Baianos bons e rivais do frevo que somos, certamente não queremos fazer a propaganda involuntária. Garanta o desodorante e leve um de sobra não só para você, mas também para as vinte pessoas que disputam o espaço de um metro quadrado no abrigo de ônibus durante a chuva. Acredite: você vai quer que eles fiquem cheirosinhos. Leve a maracujina, porque a implacável lei de Murphy diz que nesse mesmo abrigo há de haver uma goteira na sua cabeça. Você provavelmente terá de manter a calma, principalmente se houver uma mão boba percorrendo sua pele encharcada.
Improvise a fantasia. Esqueça os panos mais pesados e a pupurina no corpo. Você não vai querer andar deixando um rastro luminoso por onde passa. Aos mais vaidosos, nada de gel. Travas, maquiagem só das boas, ‘das de mergulhador’, como diz um amigo. Daniela la Mercury, reforça o telhado, nega, que Santa Bárbara promete. Lembrem-se os mais afortunados que até as pipocas enclausuradas em camarotes de luxo estão sujeitas, como prova a história recente do carnaval baiano, às intempéries. Tetos inteiros de lona que voam como plumas e chuva de açoite são mais que comuns.

Tomadas todas as precauções, está tudo bem. É aceitar com um sorriso a limpeza compulsória da cidade – sim, porque nesse carnaval não haverá cheiro de xixi nas ruas - e pular bastante, que folião que não pula na chuva resfria no dia seguinte. E se o sol sair, rezar pra bater aquela chuva de um minuto, que molha somente o suficiente para enxugar depois, que molha só pra resfriar o corpo, apartar a briga, limpar o asfalto quente. Chuva vinda dos céus na medida certa. Uma lágrima poderosa pedindo pra virar alegria, pois faça chuva ou faça sol, São Pedro, amanhã é dia.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

[concurso]

A revista piauí abriu um concurso literário, que é assim:
"Se você acha que tem talento para as letras, participe do concurso Encaixe a Frase, mais uma estupenda idéia de piauí. A coisa funciona assim: todo mês, publicaremos uma frase sem pé nem cabeça. Ao leitor-candidato caberá desenvolver um contexto que a torne sensata, que lhe confira pé e cabeça – se tiver tronco e membros, melhor ainda. Os textos poderão conter 3.200 caracteres (com espaços) e devem ser enviados até o dia 20 de cada mês para o endereço xxx. O melhor deles sairá na revista – ou seja, perdurará na língua portuguesa pela eternidade afora. À medida que as tentativas forem chegando à redação, desde que não assustem crianças, parlamentares ou a bispa Sônia, ficarão expostas à impiedade do juízo público aqui no site. Não deixe de informar seu nome completo e a cidade de onde escreve.Frase do mês:“Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano!”
Bem, resolvi participar da brincadeira com o texto abaixo. Leiam e vejam o que acham. Para conhecer outros textos que participam do concurso, ou mesmo participar com o seu texto, clique no parágrafo acima, mas não fique por lá. Volte, por favor.

[acorda, alice]

Alice sempre fora mitômana. A realidade lhe parecia ser muito pouco. Desde criança, sempre teve os amigos imaginários, que não desgrudavam dela um só segundo. Eles não só freqüentavam a sua casa, mas ela também ia até a casa deles. Ou seja, além de amigos imaginários, Alice também criava lugares imaginários e realidades paralelas e que eram só suas. No início estava tudo bem. Pais compreensivos, conhecedores dos caminhos da infância. E ter amigos imaginários fazia parte.

O problema é que Alice cresceu, e os amigos, os lugares, as histórias, as saudades, continuaram ali, na sua imaginação. O seu último namorado-alucinação morava na Espanha, e ela se trancava em casa dias a fio, para só depois contar suas aventuras em Madri aos poucos amigos reais que tinha. Os amigos, por serem amigos, fingiam que acreditavam, e chamavam Alice para a farra. A farra real, daquelas em que os pés doem e a cabeça explode de ressaca no dia seguinte. Umas doses extras de vodka e de realidade não fariam mal a Alice.

E foi numa dessas farras que Alice conheceu Leo. Um Leo de carne e osso. Ali, aos pés de Alice, derretendo-se inteirinho só de vê-la pela primeira vez. Ela olhou para ele nos olhos, olhou nos olhos dos amigos ao redor. “Não tinha como fugir”, ela pensou – “todo mundo está vendo. Ele é real”.

Os olhos de Alice faiscavam, mas ela olhava para os lados meio que envergonhada. Faltava-lhe coragem. Com um olhar, aceitou o convite de Leo para dançar, mas não conseguia ceder ao toque dele, não havia ritmo na sua dança. A dança que fazia mexer o corpo de Alice só tocava em seus ouvidos, e Leo perdeu o passo. Desde a primeira noite, os movimentos dos dois se desencontravam e ele sabia o porquê.

É que a dança de Alice só tocava em sua própria cabeça. E depois de alguns meses juntos e de muitas conversas, em que Leo insistia que os dois precisavam viver em uma realidade criada pelos dois, e não apenas naquela ilusão que Alice desenhava com tintas tão frágeis para ele. Leo já estava cansado de dizer-lhe que era ela quem deveria vir para o mundo dele, e não ele que deveria ir para o dela.

- Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano! – ele insistia, mas não adiantava. Para Alice, o caminho para a realidade era impossível. Viver naquele mundo de pedras duras no chão, de beijos que acabavam, de contas no fim do mês, tudo isso era demais para Alice, e ela não queria acordar. Era a Bela Adormecida às avessas, a que quer e pede ao príncipe que morda junto com ela a maçã envenenada.

Como seria então, para ele, romper com isso tudo? Como seria dar as mãos a Alice, dividir a maçã, aceitar o convite para fazer a passagem? Era preciso coragem, fé e um coração batendo forte. Com tudo isso, e uma pitada de instinto, Leo pegou, nas mãos de Alice, a outra metade da maçã. Arriscou uma mordida, e viu Alice sorrir. Outra mordida, e viu seus olhos brilharem um brilho estelar. Mais uma mordida, e Alice lhe abria braços longos, que diziam venha até mim. Deu a última mordida e já se via, ele mesmo, deitado nos braços de Alice, que já havia perdido todas as roupas e, nua de tanta realidade, ensaiava com ele uma dança que ecoava, agora, no ouvido dos dois e fazia-os dançar, dançar, dançar...

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

[rituais de verão 4, ou de como furar o bolso do gringo]

Não tenho pena de gringo. Hoje, no Porto da Barra, vi quatro deles se aproximarem, já devidamente acompanhados de um barraqueiro esperto, que arranhava um portunhol bem estranho, cheio de estratégias lingüístico-golpistas, trazendo dois guarda-sóis dos maiores que tinha. Dada a cor e o tamanho dos gringos, ele achou um sombreiro apenas muito pouco. Boa chance de faturar, deve ter pensado.
- Com esse aqui dá até pra dormir. – falava pra os gringos naquele sotaque que parece resolver os problemas de compreensão. Ao mesmo tempo que falava, fazia aquele gestual em que a mão encosta a bochecha, reclinando suavemente a face e fechando por dois segundos os olhos. Eu entendi direitinho o gestual e a estratégia: conforto total, preço um pouquinho mais alto. Um outro barraqueiro que passava pareceu discordar:
-Aqui não é lugar de durmí...
Esse ai é mais esperto, afinal gringo que dorme nem come nem bebe. Aí, a conta só fica no sombreiro.
E o barraqueiro se esbaldou. A gringaiada consumiu que foi uma beleza. Cerveja e muita caipirinha a sete reais, batata frita a dez, tiras de filé a vinte, e por ai vai a conta dos gringos crescendo. Achou muito? Eu também. Mas quer saber? Não tô nem aí. Acabou-se o tempo que eu tinha peninha deles. Não defendo a desonestidade e exploração, mas pragmaticamente pensando, eles estão só ajudando a encher a barriga – espero! – de um brasileiro.
Um sombreiro a cinco reais, ou uma caipirinha a sete não é nada para essa galera que compra uma coca, lá no exterior, por cinco dólares ou cinco euros em uma boate. Se é pra ficar do lado de alguém, deixe-me ficar do lado do cara tentando ganhar a vida. Os gringos estão se distraindo. E, vamos concordar, em Miami o aluguel de uma cadeira de praia custa quinze dólares.

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Só não venha querer ME enrolar, aviso logo. A minha cor, altura, ou sei lá que diabos, me fazem passar por gringo às vezes. Já fiz cara de quem não tá entendendo nada e me deixei levar, até o ponto em que eu digo, em bom baianês, que não vai dar pra comprar não, amigo. Não pago um real na fitinha do Sr. do Bomfim, apesar de toda a minha devoção. É que fui criado na Cidade Baixa.

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Já Nancy, uma francesa que conheci no Buracão, é esperta: quatro meses de Salvador e ela já tá mais que ligada. No Buracão, um picolé – que não é Capelinha - custa 0,40. E ela pede os dez centavos de troco. Não, ela não é canguinha não. Ela é francesa. Ela é de um país onde as pessoas valorizam o dinheiro muito mais que nós. Além de francesa, ela arrasou no português, na matemática e na generosidade:
- Com esses dez centavos você inteira o picolé dele. Leo, você só precisa dar trinta. Quer de quê
?
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(Na foto: gringas recém-chegadas a Salvador celebram, no Porto da Barra, o preço da caipirinha)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

[dá enter]

Sempre vivi por entre papéis. Por minha mãe ser professora, sempre recebia no início do ano aqueles montes de livros novinhos, cheirosos, que pediam para ser folheados, convite agradável ao tato e ao olfato. Somos o que éramos, somos o que, em um tempo, fomos levados a ser, ou melhor, somos o que em um tempo, concordamos em ser levados a ser. Acho que é por isso que hoje passo horas folheando. Como na época não havia o teclado macio de hoje, que a um toque projeta uma infinidade de coisas na tela, hoje divido o hábito anterior – adaptado, para obedecer ao que eu sou na era virtual - entre o prazer do folhear dos livros e o prazer do enter, que é a tecla que pressiono na hora de fazer o meu pedido ao cyber espaço. Que me envie inspiração e alegria, que eu mereço.

[discurso direto e indireto]

Professor Saja, já ouviu falar?
Ele disse assim: “se você não rir, nem chorar, nem se arrepiar na aula, desça até a coordenação e diga que tem um impostor no lugar do professor.”
Ele disse que o nome é ‘sala’ e não ‘cela’ de aula. Disse que a sala de aula é lugar de libertação. Ele disse que somos todos sofredores, e que buscamos a educação, por exemplo, para aliviar nosso sofrimento. Pediu que olhássemos para o lado e olhássemos para os que sofrem e déssemos uma mãozinha. Isso é libertar-se.
Ele perguntou o que é que estamos fazendo com a nossa única vida.
Depois perguntou o que estamos deixando que os outros façam com a nossa única vida.
Depois perguntou o que estamos fazendo com a única vida das pessoas que convivem conosco.
(não acredito em uma única vida, mas filosoficamente, entendo o conceito).
Saja mostrou um clipe de Bathânia cantando aquela música da Gonzaguinha.
Contou a estorinha da bonequinha de sal, que se entrega inteirinha ao mar, dissolvendo-se nele. Finalmente me explicaram porque o mar é salgado.
Ele repetiu que a paz é o caminho.
Professor Saja é um homem magro, com uma careca lustrosa, óculos, baixinho.
Cheio de grandes e revolucionárias idéias.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

[e há tempos]

É um daqueles dias em que o invisível prevalece sobre o visível.

Trinta graus. Uma fila enorme de pessoas com apetrechos na mão. Algumas, carregando apenas uma flor branca. Crianças, jovens, velhos. Uma travesti em vestido de gala. Uma senhora negra, enrugada, um sorriso de fé no rosto. Muita gente de branco. A fila não anda muito, e promete deixar as pessoas fritando ao sol por umas boas horas. O mar logo ali. O mar azul do Rio Vermelho. O mar azul da Dona do Mar.

O batuque encobre a cidade com um manto ancestral. Há séculos é o mesmo batuque. O retorno ao que sempre fomos tem a trilha das mãos que batem o tambor. O carro de som e o trio elétrico e o axé vieram bem depois, mas o batuque sempre esteve e sempre estará pulsando. Como um coração. Um coração antigo que, nessa festa, ainda não cedeu lugar às modernidades de infinitos decibéis.

O ar está pesado. Não um pesado ruim, mas um pesado que indica presença massiva. Presença etérea, presença de uma fé que não se explica. É preciso imaginar o olhar de um cético sobre aquela comemoração de filas enormes e de calor abafante, para se ter o contraponto da fé que move aquelas pessoas até o Rio Vermelho para oferecer a Iemanjá um flor, uma única e já agonizante flor, ou uma cesta com os mais belos presentes. É preciso não ser daqui para notar a grandeza da fé que transforma um bairro inteiro em um local de veneração. É preciso afastar-se, para entender o rumo das embarcações, o cantar ancestral das senhoras de branco, o onipresente odoiá, ecoando nas fitas, nas vozes roucas, nas falas novas das crianças, nos suspiros dos bêbados, no azul turquesa que tenta imitar a cor da morada da Deusa.

Não há medida possível que contenha o tamanho do que se vê. É como se o tempo voltasse, parasse, andasse de novo à frente, mas que ao final olhasse de forma tímida e dissesse que na verdade, ele mesmo, o tempo, não existe, e que tudo, tudo a que ele se resume, é à fé, ela mesma se explicando pela ausência dele, ela mesma presente desde não se sabe quando, talvez desde o nascimento do mar e de sua força, desde a formação do início de tudo, que não deixa de ser agora mesmo, quando tudo se renova com a reza quase inaudível do pescador que sai ao mar antes que o sol nasça, na mesma luta em que todos estamos para acreditar sem muito entender os caminhos da terra e do mar, que dão uma breve sugestão de onde estamos e para onde, pela fé, nos dirigimos.

(foto: Rio Vermelho, desde há tempos)