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sábado, 25 de fevereiro de 2006

[bom de multidão]

Sou bom de multidão, modéstia à parte. Não sei se isso é um dom natural, ou se é pela prática de andar no meio de tanta gente no carnaval. Fico com a primeira opção, apesar de não saber se alguém na minha família, de fato, é bom de multidão para que eu pudesse ter herdado os genes. Digo isso porque conheço muita gente que não perde um Carnaval sequer e nem por isso é bom de multidão.Papo louco... afinal, o que é 'ser bom de multidão'? Ser bom de multidão é andar bem no Carnaval da Bahia - e lhes garanto que não há multidão maior em nenhuma festa do mundo. Quem é bom de multidão não tem medo de gente. Não tem nojo de gente suada e, principalmente e antes de tudo, gosta de aperto, de amasso, de toque. O bom de multidão, com certeza, não pode ser fresco, não pode se importar com o perfume, não pode ter pena de sujar o tênis e não pode ter unha encravada, porque o que se leva de pisada...
O bom de multidão reconhece quando é impossível se movimentar e não se estressa, deixando que o ritmo o leve. Solta o corpo e relaxa, porque ele sabe que no Carnaval não há compromissos, pra onde quer que a multidão vá, é só ir atrás - isso, é claro, em condições de normalidade.
O bom de multidão não parte pra briga, mas se protege com os cotovelos. É. Se eu fosse dar um curso de como andar nas ruas no Carnaval, ou em uma multidão qualquer, diria que a posição básica é aquela de pés firmemente calcados no chão (quando possível, obviamente) e cotovelos abertos, formando um triângulo no tórax. É batata. Ser bom de multidão é prever percalços: pipoca do Chiclete, ou de Ivete, ou do Psirico, nem pensar. Quem é bom de multidão sobe logo numa árvore ou fica em cima do primeiro muro que encontra caso seja surpreendido por um desses grupos. Mas bom de multidão que é bom mesmo nunca se surpreende em situações como essas, porque ele é experiente e sabe que não pode olhar pra baixo enquanto se movimenta no meio de muita gente. Olha sempre pra trás e pra frente, avistando o horizonte e vendo em que direção a que bloco se está indo ou que bloco está vindo na sua direção. Ah sim, esqueci de dizer que o bom de multidão tem de ter pelo menos 1m70cm. Caso contrário, nunca será um bom de multidão - a opção seria um periscópio, mas aí fica caro. Talvez andar coladinho com um bom de multidão seja a solução ideal para os mais baixos. Aliás, o bom de multidão entende muito sobre a arte de andar em filinha com os amigos. Ele não parte e deixa os outros pra trás mas, ao contrário, está sempre atento aos amigos. Ele entende a importância de estar em um grupo durante a festa.
O bom de multidão fica atento às entradas e saídas e sempre que vê um perigo iminente pega o primeiro atalho em direção à rua adjacente mais próxima. Quem é realmente bom de multidão se abaixa quando vê briga, corre dela se for possível, e fica atento à vinda dos policiais, inclusive, ajudando a abrir caminhos para que eles se movimentem com facilidade, tudo isso sem estresse, com espontaneidade e leveza. Quem é bom de multidão mesmo, dá a preferência aos ambulantes - porque entende que eles estão ali trabalhando- e ainda facilita o trabalho das crianças que ficam catando lata durante a festa inteira. O bom de multidão não abre a mão de se divertir muito, de admirar a festa e até chorar de alegria quando toca aquele música especial. Não abre mão de dormir e comer bem, não exagera na bebida e não sai por aí agredindo ninguém. O único exagero do bom de multidão é na crença daquela idéia de que é sendo gentil, atento e carinhoso consigo mesmo e com os outros que se faz uma eterna festa de paz.
(publicado originalmente em fevereiro 2005)

[sentido na cama]

Essa cama agora faz sentido. É que sem você, não há aquele calor que sinto de olhos fechados, não em que apoiar meus braços cansados e dormentes, não há o que tocar com meus dedos, com minha boca, com meus sentidos todos. Sem você não há o que alcançar, sonolento às três da madrugada, quando tudo dorme, tudo dormente e de sentidos quase mortos, e de repente me toca uma saudade tua que logo sacio com um braço que cai sobre ti, uma perna que se entrelaça com a tua, um sonho que se confunde com essa realidade de de ter por perto.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

[dias de carne exposta]

Despiu-se inteira de si mesma. Sabia que os dias por vir seriam os dias de corpos desnudos e entrelaçados em gritarias de alegria, em desesperos indolores, em pulos mais altos que os pés podiam suportar no reencontro com o chão. Despiu-se do que havia nela, incrustado nessas longas horas que compõem os sisudos dias do ano. Despiu-se sem pudor, fechou com travas-de-chaves-perdidas as portas do armário e certificou-se de que usaria a fantasia guardada: a sua pele sem nada em cima. Eram seus seios, sua costas nuas, sua vagina coberta de pêlos – essa cobertura ela deixava, era de um cheiro que revelava a poucos, e por isso mesmo revelador em si mesmo -, tudo agora exposto, tudo agora em passos únicos e intensos com a sua mais real identidade, a que paradoxalmente escondia, mas que era a mais reveladora. Nesses seis dias que antecedem as cinzas, ela e os outros se desnudavam, se entrelaçavam, se tornavam corpos únicos, sob o olhar vibrante e invisível dessa coletânea sonora que toca indefinidamente como que por uma caixa de música, porém com amplificadores que regem a potência de uma alegria, e que obrigam, nela, uma nudez cada vez mais explícita.

Nesses dias de carne não falta, na alegria, o medo das cinzas.

[fundamental é mesmo o amor]



"The greatest thing you'll ever learn is just to love and be loved in return."

Eden Ahbez

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

[a cara delas]

Naquele início de década - a década de que falo aqui é a década passada, do século passado -, aos dezessete ainda não tinha carro, e andávamos de ônibus mesmo, eu e as minhas duas irmãzinhas neozelandesas. Para matar o tédio da viagem, tínhamos uma predileção especial por um esporte que não sei se os adolescentes de hoje ainda praticam: surfe no ônibus. Era só ficar em pé, mãos soltas, e torcer, ao mesmo tempo, para que o motorista fizesse a curva mais fechada do mundo sem nos derrubar e, principalmente, sem virar o ônibus.
(Rebecca e Jemima, Salvador-BA, 1991)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

[blisters]

O Carnaval está na porta, e esse ano vai ter uma pitada diferente: estarei recebendo em minha casa duas amigas de longas datas, neozelandesas, com seus respectivos namorados. Rebecca e Jemima moraram em Salvador entre 1991 e 1992, durante 11 meses, e viveram comigo momentos muitos especiais. Foi com elas que me motivei a aprender inglês, que me dá até hoje o pão de cada dia, foi com elas que aprendi sobre esse pequeno país de lá do outro lado do mundo e aprendi a ter a curiosidade para conhecer outros. Foi com elas que eu aprendi mais sobre mim mesmo, porque elas foram as primeiras a me dar parâmetros que me ajudaram a me entender melhor como brasileiro, como baiano, como eu mesmo. É por isso que estamos até construindo um beliche de casal para abrigá-las aqui em casa durante esses quinze dias de visita. Elas voltam depois de 15 anos à terra que com certeza também deu a elas parâmetros para serem o que são hoje, psicólogas, noivas, futuras mamães.

Jemima, na época que morou aqui, tinha acabado de terminar o ensino médio (ou o equivalente disso na Nova Zelândia) e já trabalhava com crianças. Dizia ela que costumava entreter as crianças imitando hot dogs. Até hoje não entendi. Jemima era a Yellow Blister (blister significa calo, e rima com sister, e o yellow era por conta da loirice aguda que ela exibia no cabelo curto e cheio de cachos). Rebecca tinha uma carinha angelical, que creio ter preservado até hoje, mas bebia e fumava feito uma louca. Apesar da bebida e do fumo, era a nossa Holy Blister. Eu era o Bloder delas, que rima com brother, neologismo nosso para eu não ficar sem uma alcunha carinhosa. Ainda tinha Yeda, baiana que mora nos States, que era a nossa Fucking Blister por razões que não posso revelar aqui, mas basta você saber um pouquinho de inglês para adivinhar.


(to be continued...)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

[busú]

Há muito eu não andava de ônibus em Salvador. Ontem me deu um repente, deixei o carro na garagem e resolvi fazer o percurso Roma - Ondina - Paralela. Com certeza não escolhi o melhor dia para deixar o carro na garagem. Verão em Salvador, Rio Vermelho lotado por conta da festa de Iemanjá e Festival de Verão. Combinação explosiva. Quase duas horas para chegar de Ondina à FJA. Nessas horas, o bom mesmo é ficar escutando a conversa alheia (sim, porque eu não tenho discman, nem tão pouco MP3 player, tava tudo um saco, ia fazer o quê?)

Durante o percurso:

- Fulaninha tá de AIDS. E o marido quer matar ela.
- Foi corno, né?
- Não, ela que pegou dele.
- Como é que você sabe?
- Ah, ela acabou de ter uma filha e fez o teste antes. Tava boa, e não deu nenhum corno nele desde aquela época, então só pode ter sido ele, né?
- É certo.
- Mas ela levou uma facada também...

(...)

Neste momento passei a achar o papo pesado demais e sintonizei lá fora, afinal de contas o mar tinha um convite especial, era como se a Rainha chamasse, venham me admirem, me enfeitem, alimentem essa minha vaidade tão bem posta. O ônibus dava milhões de voltas e o casal atrás de mim não parava de soltar pérolas, que só não anotei por que corria o risco de enjoar e vomitar o ônibus todo. Apesar dos percalços, deu até pra filosofar. Notei, por exemplo, que baiano não faz fila: protege-se do sol na sombra do poste. É verdade, aqui em Salvador só se faz fila para esperar ônibus nos terminais, como Lapa, Mussurunga, Pirajá... e mesmo assim, quando o ônibus chega, a fila deixa de existir. Agora, coloque um poste, um sol de rachar e observe como todos se enfileiram na sombra projetada pelo poste na calçada. É a natureza querendo nos ensinar algo, diria meu avô, que gosta de colher as mais sábias lições desses pequenos fatos da vida.

Andar de ônibus tem suas vantagens, ontem deu na telha e fui mesmo. Confesso que me arrependi só um pouquinho. Detestei, por exemplo, descobrir que para atravessar a Paralela, do lado oposto à Jorge Amado, levam-se pelo menos dez minutos, por conta da distância e dos semáforos. Esperam-se quase dois minutos em cada sinal (são dois), têm-se apenas 10 segundos para atravessar cada um, e ainda corre-se o risco de ser atropelado ou morrer de susto quando um carro passa e faz questão de buzinar beeeeem próximo do rebanho de pedestres, todos alunos, que aguardam pacientemente os 99 segundos passarem, e depois passarem novamente. A impressão, ontem, diante da fome que eu sentia e do tempo escasso - comido a cada segundo pelos semáforos devoradores do tempo - é que pedestre nasceu pra sofrer mesmo, que eu nunca conseguiria chegar do outro lado, comer alguma coisa e abrir pontualmente a porta da sala de aula com um sorriso-de-quem-veio-de-audi, e ainda conseguir mantê-lo por mais duas horas. Mas o fato é que deu tudo certo: engoli uma coxinha de galinha fria e cheguei apenas com cinco minutos de atraso, dei até umas risadinhas durante a aula, o sol baixou e liberou a galera da fila do poste, o marido deve ter-se resignado e encontrado o tratamento para os dois, a festa de Iemanjá como sempre foi um sucesso, as linhas de ônibus voltaram ao normal, todo mundo continua com a esperança de que um dia vão construir uma passarela na frente da faculdade e certeza não falta de que virão outros verões e outras histórias contadas por outros idiotas, como eu, que deixam o carro na garagem e vão sentir a vida como ela é, sem nadinha pra amaciar a bunda no banco duro do busú.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

[ o que ando fazendo?]

Trabalhando muito. Bons ventos sopraram e agora estou ensinando nas Faculdades Jorge Amado também, o que tem tirado um pouco do meu tempo e da minha voz. Além da FJA, tem também as donas-de-casa desesperadas que cada dia que passa me conquistam mais um pouco e quando estou com elas esqueço que tem um mundo lá fora e que, dentro deste mundo, está, por exemplo, o blog. Não desisti desse meu velho diário, mas é que estes últimos dias têm sido intensamente vividos em outras áreas da minha vida. É isso.

Em breve de volta... Não me deixem só.