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terça-feira, 13 de março de 2007

[bom de aula]

Na falta do novo, repulico-me, tornado o que já não é novo, novo de novo.
(publicado originalmente em abril/2005)



Ser professor é partir do princípio de que não se sabe nada. O ponto de partida é o da humildade e do respeito consigo mesmo e com o próximo - no caso, o aluno. Professor que entra na sala com arrogância, que acha que sabe tudo e que está diante de um grupo de pobres desesperados em busca de conhecimento corre o risco de viver dias de terror. Não vai demorar muito para o mais esperto dos alunos descobrir que por detrás daquela máscara de arrogância mora um ser frágil e inseguro. E com certeza não vai demorar muito até aparecer o engraçadinho que vai fazer 'aquela' pergunta para desconcertá-lo. O professor bom, não. Esse aí demonstra sua autoridade sem ser autoritário, diz que não sabe e deixa a impressão de ser sábio, corre risco esbanjando segurança, dá aquela velha aula como se fosse a primeira e entra na sala com emoção de ator no palco.
Professor que é bom mesmo olha o aluno no olho, sabe que tem seus limites e os deixa claro para seus pupilos. O bom professor é amigo - não necessariamente depois da aula, mas no olhar de cumplicidade e empatia que só o professor que é bom sabe dar. Esse aceita desafios, levanta os alunos em desespero, mostra para os que se esqueceram que só a memória falhou. Ergue o aluno já por desistir e deixa no caderno uma palavra de confiança. O bom professor confia mesmo, de verdade. Não cria palavras para agradar. Porque o bom professor acredita que todo mundo aprende e que não há limites para o conhecimento. Ele sabe, no entanto, que há pessoas mais lentas que as outras, que cada um tem seu tempo e que ele não pode apressar o rio. Sabendo disso, o bom professor entrega nas mãos de seus alunos a sabedoria de que precisam para tocar seus próprios barcos, remar com seus próprios remos e colher seus próprios frutos, com suas próprias mãos. Professor que é bom ensina mais do que está no livro, se preocupa com o que diz e como diz e sabe que educação não é brincadeira. O bom professor caminha sobre as suas próprias palavras e por isso emana respeito. Ele sabe que o que faz é o exemplo para as vidas que tem ali na frente. Professor que é bom mesmo não distingue velho de criança, rico de pobre, branco de preto. O bom professor é cego para essas coisas, mas tem visão de raio x quando o assunto é ver a essência, olhar lá no fundo, lá dentro de cada uma daquelas criaturas sentadas à sua frente.
O bom professor, para lhes falar a verdade, encara o olhar do aluno como o olho mágico que lhe dá acesso às suas almas. Ele abre a porta, ergue a mão e caminha de mãos dadas com suas almas-aprendizes rumo a um mundo de lições que não acabam nunca. As duas almas, iguais, aprendizes. O mundo, acolhedor, à espera deles. Fazem um pacto de união eterna o professor, o aluno e o mundo. Mesmo distantes, mesmo no escuro, mesmo que nunca mais convirgam seus caminhos, um terá o ombro do outro, o afago das palavras eternas e o aconchego de um mundo de trocas sustentáveis que um dia criaram.

sábado, 3 de março de 2007

[jogos aquáticos]

Moram em um paralelepípedo reto-retângulo, com a face superior removível. É por aí que lhes dou comida. São coloridos e não param nunca. Nem quando dormem, param de bater as barbatanas miúdas, mas grandes o suficiente para manter-lhes o equilíbrio. Vivem em um ecossistema equilibrado. Troco um terço da água a cada semana, acrescentando de volta a água que sai da torneira mesmo. Comem quantas vezes eu lhes der comida. São coloridos e parecem felizes. E aí está a minha angústia. Eles parecem, apenas, não sei se são.

Adepto que sou à liberdade, e coração-mole que tenho ao ver seres em jaula, um dia chocou-me ouvir que o que faço com os peixes é o mesmo: aprisiono-lhes, tiro-lhes a chance de nadar com suas próprias barbatanas, a bem dizer. Como ter aquários e peixes é uma atividade que cultivo desde criança, na minha inocência e espontaneidade infantis nunca me julguei por isso. Parecia-me – e, por vezes, ainda me parece – que um aquário é um rio recriado, e que a transparência dos vidros, o obstáculo invisível à frente do peixe, nada se assemelha a jaulas. Mas o fato é que peixes não reclamam, e parecem satisfeitos – principalmente comendo a ração de vinte reais que lanço direto em suas bocas. Por não reclamarem, por não chorarem um choro alto e vazio no meio da noite, por viverem tão instintivamente, reconhecendo-me pela manhã, hora em que ligo a luz e artificialmente lhes entrego o dia e o desjejum, é que me angustio. Se gritassem e reclamassem a realização do seu destino livre – como fazem os pássaros engaiolados – talvez, num alívio, já os tivesse libertado. Mas não: a inocência e o instinto deles, a aceitação de tudo aquilo, me aprisona e me divide entre o prazer egoísta de tê-los e a possível dura hipótese de ter de devolvê-los a um córrego qualquer. Eles me negam a resposta e, por sua vez, me aprisionam, paralisado, na minha própria dúvida.

(Se estou, de fato, em um ato egoísta, vendo um rio à minha frente, é bem verdade que é a minha imaginação de ser livre que cria o rio. Desse lado, tudo parece er mais fácil. Os peixes, solitários naquele mundo estranhamente emoldurado, já desistiram de se debater nas paredes invisíveis. Meio como nós, aprisionados muitas vezes em jaulas discretas, imperceptíveis a olhos nus: debatemos-nos daqui e dali, e sequer sabemos que estamos presos. Passo às vezes horas olhando para eles, e nessas horas me liberto de tal maneira, que é como se eu, aceitando a falsa liberdade de um aquário, entrasse ali, ignorasse a água que pára exatamente na superfície que não existe, formando uma parede, e batesse barbatanas pequenas, respirasse como respira um ser aquático, me deixasse enganar por entre tanto liquido, tanta vida, como já me lembro ter feito há muitos anos, quando tudo para mim começou.)