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segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

Coisas do Carnaval da Bahia

Adoro listas. E essa semana é inevitável não pensar nessa festa maravilhosa que começa na quinta-feira. A compilação abaixo - de coisas que nunca faltam no nosso carnaval - certamente vai fazer rir (ou chorar) os baianos e vai apresentar um pouco da festa pra quem nunca veio.

Cheiro de descarga de caminhão. Ruas fedendo a xixi. Ouvidos zunindo. Uma única música tocando toda hora e todo mundo dançando como se fosse a primeira vez que a ouve. Lança-perfume (inevitável, por mais que proíbam). Pés doendo.Tênis velho. Altas pisadas no pé. Cantada de mulher com beliscão na bunda. Gringo dançando sem jeito. Quebra pau. Cordeiros comendo pão com manteiga e pedindo resto de cerveja. Altas paletadas. Gente catando lata como baratinhas aos seus pés. Ivete arrasando. Ficar em frente a todas as câmeras pra aparecer de qualquer forma na TV. N-e-n-h-u-m relógio para você saber as horas. Dinheiro no pé. Policiais enfezados. Chuva rápida para acalmar os ânimos. Gente feia e gente bonita – geralmente separadas por cordas ou por tapumes de camarotes. Amigos grudados em filinhas. Churrasquinho de gato. Mamãe e papai preocupados em casa. Feijão na casa dos amigos. Arrebite. Calo no pé. (Quase) tudo a 1 real. Será que esse ano ainda vai ser assim? Celebridades – o ano de Gisele foi inesquecível. Tavestis. Mulher fazendo xixi na rua. Carro pipa. Queixar colar dos Filhos de Gandhi na terça. Perfume de Gandhi nas mãos. Contra egum no braço. Kolene. Dormir pouco. Beijar muito na boca. Perder a vergonha na cara. Namoros de 1 minuto. Banho de cerveja. Visita de fora casa. Aperto, muito aperto. Fuga do Chiclete. Alegria, alegria, alegria.

(Mais algum? Adicione à lista. Amanhã não perca a compilação das frases mais ouvidas nas ruas durante o Carnaval.)

domingo, 30 de janeiro de 2005

Domingo + chuva + verão

"Faça o que é bom, sinta o que é bom, pense o que é bom, bom
pra você" (Z. Duncan)

Domingo que cai nos meus braços e nas suas sombras me debruço. Domingo de nada, de vazio, de oco. Dia sem luz na cidade, só de um sol tímido, preguiçoso. Sol que se negou a banhar os corpos já tão expostos a ele mesmo, já tão escurecidos pela sua luz forte desses dias do ano.
Dias de chuva não me decepcionam, nunca me decepcionaram. Isso é aceitação. E olha que é difícil aceitar um domingo de verão que só chora chuva. Mas a impressão é que ele está refazendo e purificando o espaço para os seis dias de festa que estão batendo à porta. Eu sei disso, é como se a faxina que estão fazendo na cidade e a arrumação para a festa não pudessem jamais prescindir dessa chuva que purifica.

(a semana do carnaval chegou, com esse domingo nebuloso e molhado: água dos céus é um prenúncio de alegria jorrando)

sábado, 29 de janeiro de 2005

Localizando-me - parte 2


A gente sabe que é lido e posso até arriscar 'querido', quando muda por alguns dias o tom, o humor, o ritmo do que escreve, e as pessoas notam. E não só notam, como também enviam palavras de solidariedade e carinho, como essas, enviadas por estes leitores amigos:

Léo, percebo nas suas palavras uma certa melancolia, e isso te deixa mais sensivel na forma com que exprime o q vê e o q sente! Seus textos tão lindos!

E esquenta ñ, q seja o q for, logo passa, pq vc eh 10!!

abração!
Thiago Borba


Vc q divide tantas coisas por aqui só deixou pistas da causa da sua dor... De qualquer modo, vc estava num espiral de felicidade crescente. Seja lá qual for o motivo, essa alegria não deveria ser interrompida. Busca dentro de si essa reconexão e brilha. Sei q é fácil falar de "fora", mas percebo q vc é maior q todo o resto... Torço por vc!
Johnny

Quantas saudades senti de comentar nesse cantinho, mas estou eu aqui de volta, pronta prá ser solidária com seu momento.Não te preocupe porque há de passar toda e qualquer dor, e você renascerá com uma força ainda maior. Bjsssss... Saudades!!!
Ana Cássia Fernandes

Bem gente, agora estou bem. Aconteceram coisas chatas sim, mas apenas isso: chatas. Nada grave, nada que possa alterar muito a minha vida ou a forma como eu encaro meus dias. Estou passando por uma fase de transição, de intermédio entre uma coisa e outra, de mudanças, e por isso vocês notaram uma certa melancolia, uma variação de tom no que escrevo. Mas estou bem. Melhor que ontem, pior que amanhã. Sempre, sempre bem. A minha atitude diante dos fatos 'chatos' da vida foi sempre de muito otimismo porque eu acredito que as coisas são como são - e com relação a isso não podemos fazer nada - mas com relação às nossas atitudes nós temos um poder que ninguém mais tem. É por isso que eu não me abalo muito: eu SEMPRE ESCOLHO SER FELIZ. Valeu pelos comentários, pelas palavras de força. Continuem por aqui, porque um blog é pra isso mesmo.
***
(e nesses dias em que propositalmente me recolho só ao meu mundo, que prefiro estar ao lado da minha mãe ao invés de me aventurar por boates escuras, venho descobrindo que de fato existe em mim uma fogueira robusta. O verão me chama lá fora, mas as minhas forças me magnetizam nessa presença interna. Sexta-feira, quase uma da manhã. Estou aqui, em casa, tomado banho, cheiroso, minha cama me espera, bons sonhos me esperam. Eu: feliz, calmo, pronto para ninar-me, pondo-me numa posição fetal, ouvindo a chuva de verão que cai lá fora, junto com raios que, eu sei, só eu sei, são os resquícios daquela melancolia que morava em mim. )

sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

Sobre origens


E estou de volta à Cidade Baixa. Morei aqui a minha vida toda e agora retorno, numa temporada ao lado de mamãe e papai, para repor, entre outras coisas, as energias. E voltar a morar aqui é como voltar. Simplesmente voltar (esse verbo voltar que escrevo aqui não pede um complemento, simplesmente porque voltar para o lugar de onde viemos não é voltar no sentido que comumente usamos, simplesmente porque eu sempre estive aqui). O Leo que vocês conhecem - ou não - é o resultado disso tudo que é a Cidade Baixa. E é bom estar aqui. Como minha vida nos últimos anos se resumia a eventos longe de tudo isso a que solenemente chamo de Meu Berço, eu simplesmente estou refugiado por estas bandas. No meu esconderijo. Perto do mar da baía, perto da Igreja do Bonfim, do sorvete da Ribeira, da vida primitiva que ainda se vive por aqui.

***
Aproveitando os eventos cidadebaixanos, hoje fui assistir a Murmúrios, em cartaz no Espaço Jequitaia, Calçada, de terça a quinta, zerooitocentos. A peça em si não me impressionou muito, já vi estive em espetáculos que me tocaram mais. Agradou os mais aficcionados, provavelmente. O fato de eu não ter gostado muito não diminui a peça em nada: trata-se de um espetáculo muito bem feito, uma cenografia fantástica, que remete a um mundo seco, insípido, tem atores bem sintonizados e, principalmente - e isso a gente vê nos olhos dos atores -, muita dedicação à causa. E que causa é o teatro. Bela e difícil, principalmente no Brasil, principalmente na Bahia. Mas eles fizeram bonito. Muito bonito. Não gostei talvez porque no momento que vivo, peças dificeis como esta me enfadam, me dão impaciência e sono. A culpa é minha mesmo, admito. Eu deveria ter ido assistir a uma comediazinha romântica qualquer ao invés de mergulhar num espetáculo como aquele. Se você gosta de teatro e mais ainda de ter a sua própria opinião sobre as coisas, vá lá. É de graça, é teatro baiano, é num lugar lindo. Eles voltam depois do carnaval.

***
Por falar em Cidade Baixa, algum de vocês já comeu uma moqueca na Pedra Furada? Já andou na orla da Cidade Baixa? Já comeu pirão na Baixa do Bomfim? Já ficou admirando o céu da Ribeira em um fim de tarde? Já viu esse casarão ai da foto e teve vontade de levá-lo pra casa? Já andou pela Ribeira admirando as fachadas das casas antigas (tão mal preservadas)? Não? Então vocês estão precisando de uma dose de primitivismo na veia.

***
(Meus olhos pesam, a cama e meus sonhos me esperam. Ela me atrai como luz atrai mosquitos depois da chuva. Mas temo a traição dos meus pensamentos, que podem lançar o fogo dos pesadelos sobre meus olhos cansados e sonolentos. Decido pela reza que antecede o sono e protege. Ultimamente não tenho sonhado tanto. E nem preciso, pois meus sonhos têm sido de olhos abertos. Pesados e abertos. Doloridos e largamente abertos, alargados, atentos aos movimentos do mundo. Movimentos especialmente de contração, de volta, de retorno. O mundo ultimamente tem voltado muito para mim. Ele tem retornado a mim, como credor que retorna pedindo dinheiro em débito. Tenho dado a ele o que posso, o que tenho e o que não tenho. Só não entrego meus sonhos, porque sem eles não produzo, não sou nada, nada posso, nada tenho. A vida credora meio que entende que sem meus sonhos não posso gerar a riqueza que a sustenta. Sem eles, meus débitos são impagáveis.

Apalpo o melhor travesseiro que tenho - porque para amaciar as quedas dos pesadelos, por precaução, tenho vários na cama -, seleciono os pensamentos com os quais pagarei minhas dívidas, rezo sutilmente para não estragar o silêncio da vida que volta a mim num resgate, e fecho serenamente os olhos, vendo aquela senhora aproximar-se serena. Ela vem para libertar-me, Ela vem, incorporada num manto de luz, não pedir nada - porque na realidade nada lhe devo - mas dar; é para isso que Ela vem. E estendo a mão para receber sua benção de Mãe de Luz. No seu olhar vejo que tudo que lhe devo é um breve e longo sorriso que, nos dentes brancos, façam brilhar a minha paz.)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Entregar a Deus


"Entreguei a Deus" - Quantas vezes não já dissemos ou ouvimos essa frase? Diante das dificuldades e problemas, diante de situações em que a solução está difícil, os que
acreditam - e têm paciência -'entregam a Deus'.

'Entregar a Deus' é um gesto de fé. Mas fé em quê? Fé em um Deus que provém o que almejamos, ou fé em um Deus que move e modifica o mundo, independente das nossas vontades? Porque quando entregamos determinada situação a Deus, geralmente lá no nosso íntimo esperamos que aquele nosso desejo seja realizado, porque atribuímos a Ele a capacidade e o poder de nos fazer felizes - e em curto prazo, se possível. Ansiosos, disfarçamos nossas expectativas numa 'entrega', numa delegação de poderes a um deus que certamente não possui o poder de modificar traços que nós mesmos criamos para nossas vidas. E o resultado é que muitas vezes nos decepcionamos, porque nem sempre o que Deus pode e deve fazer por nós é o que esperamos. E mais uma vez Ele é o grande culpado pelas nossas infelicidades, desejos irrealizados, vontades insatisfeitas.

E o fato é que a 'onipotência' divina depende de nós. Deus não pode agir sozinho. O poder que delegamos a Ele - figura que insistimos em posicionar fora de nós mesmos - na realidade jaz dentro de nós. Porque o que chamamos de Deus nada mais é do que o nosso próprio poder transformador, este sim capaz de tudo que desejamos. E o caminho que percorremos em busca de nossos desejos certamente não passa pela delegação de poderes a algo que consideramos externo a nós - o nosso erro tem sido a direção do nosso olhar: a chave desse poder está aqui dentro mesmo, representado apenas por uma brisa suave, daquelas que sentimos no final de uma tarde azul e que nos dá uma felicidade breve que não se explica. Essa brisa representa nossa paz, nossa verdade, nosso Caminho.

Entregar, delegar, encarregar, incubir são atos de fé. Mas a pergunta é: delega-se o quê, a quem e porque? O que se espera? E a fé que temos... é em que mesmo? Estamos realmente preparados para aceitar o desfecho de uma história que entregamos a Deus?

terça-feira, 25 de janeiro de 2005

Remind me - parte 2

Amigos não me deixem esquecer que a vida é pra ser vivida a 100 por hora, que uma tempestade momentânea não pode abalar sonhos, que sonhos nunca podem nem vão ser inúteis e que a atitude que tenho diante dos meus problemas é que é a chave principal para a minha felicidade. Pois que venham tempestades, abandonos, risos falsos, desprezos, venham com força porque aqui mora um gigante inabalável – que tremula sim, muitas e muitas vezes, mas que está dentro de uma base sólida, forte como concreto que segura prédio de mil andares. Não temo a vida e por isso me dôo o quanto posso. Não temo o amor e por isso ele chega e sai de mim em abundância. E não me deixem esquecer também que é o tempo que desata os nós, que é por causa do tempo que hoje eu rio dos rios que passaram na minha vida um dia como tsunamis e que hoje, voltando a eles, não passam de córregos quase secos. Quantas vezes vou ter de gritar para o mundo que desistam, pois eu não pretendo parar por aqui, porque minha crença na minha felicidade não depende das experiências que tenho, tive ou ainda vou ter, porque eu já sou feliz e estou apenas tentando acessar isso tudo? Pois, se preciso for, escreverei mais mil linhas, darei mais mil gritos com minha garganta de aço, subirei nas montanhas mais altas e repetirei, em belo e bom som, que não há nada que me desfaça os sonhos, não há nada que possa me fazer desistir de mim, da minha luta por um sorriso perene. Ninguém precisa me lembrar, no entanto, que eu também tenho os meus medos, e o de perder é um deles, mas o medo chega e depois só vejo que ganhei mais uma borboleta no meu jardim, mais uma flor que desabrochou simplesmente por que a sua hora chegou. A minha parte eu tenho feito: tenho cuidado do meu jardim com esmero. Não afasto nem os insetos: preciso deles por perto para alimentar os meus sapos, mesmo que depois, gordos de tanto alimento, eu tenha de engolí-los com um sorriso abafado.

(cansado de tanto dizer o quanto amo, fecho meus olhos, meus arquivos, minhas dores, deixo que acessem os outros sonhos que possuo, como que disposto a trazer à boca um juramento de verdade eterna e sustentável apenas pelo gesto sutil do tempo. Que se façam presentes, então, todas as verdades, até as mais cruas e doídas, mas não se façam ausentes as mentiras, porque delas preciso para responder as perguntas que me faz o mundo...)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

Localizando-me

Onde estou: num stand da Velox em pleno Festival de Verão de Salvador. O que ouço: um sambinha insuportável. O que acabei de fazer: me emocionar no show de Maria Rita - que cantora extraordinária. Quem ainda não a viu cantar 'Santa Chuva' está perdendo uma das interpretações mais lindas da MPB atual. Para onde vou: show de Lulu Santos, daqui a pouco. Como estou: cansado, mas feliz. Quando volto: em breve, falta pouco. Acho que segunda-feira à noite já retomo uma vidinha mais ou menos normal.

O que foi isso: um post rápido, do meio de um Festival, só para dizer a vocês, meus amores, que eu ando vivo, vivo, vivo.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

Remind me


Por favor, me lembrem de que neste ano eu tenho mais é que relaxar, mas não posso esquecer que tenho uma dissertação inteirinha para escrever, lembrem-me também que nada vale a paz que sinto aqui, ou o sono bom que tenho logo que encosto no travesseiro essa minha cabeça às vezes oca, às vezes fervilhante, não esqueçam de me avisar a hora de levantar, porque se deixarem, durmo até cansar e querer dormir mais, porque nessas horas são raras as preocupações na cabeça e sei que muitas vezes acabo negligenciando os que não relaxam e não conseguem dormir, só com calmantes. Não posso esquecer também, falando em sonos, que eu devo continuar ajudando os meus amigos que não sabem dormir sem remédio e que dependem de drogas para relaxar numa festa. Esses eu sei que são do bem, mas não descobriram um caminho mais fácil, ou até esqueceram mesmo. Com certeza não vou esquecer de viver sem temer os dias de Carnaval onde a alegria é soberana, especialmente pelas bandas de Salvador. Não vou esquecer de pular e sorrir muito, principalmente porque será um carnaval de companhia adorável, estarei com uma pessoinha linda ao meu lado, que nunca enfrentou uma multidão, mas de mãos dadas comigo vai vencer esses medos. Não posso deixar de lembrar de diminuir essa ansiedade dentro de mim e cultivar pensamentos mais altos, porque como todo mundo, eu caio, e por vezes me sinto dominado por pessimismos bobos, que tento resolver clicando no atalho de acesso rápido à minha Presença Interna, que lhes digo, amigos, me acalma e me põe rapidamente nos eixos com o mundo. Não posso esquecer que todo ano é ano de festa, que na realidade essa coisa de anos é uma ilusão que criamos, e que todo dia vale a pena se reconstruir e se dar inteirinho ao mundo. Vou colocar bilhetinhos que me lembrem que é preciso estar mais próximo das coisas naturais do mundo, é preciso mergulhar em águas profundas sem medo, é preciso observar piabas, matar e comer depois, é preciso fotografar os segundos que nos atropelam, pegar estradas que não terminam nunca, mas que estão aí para serem exploradas, com paradas que valem mesmo pelos mirantes que descortinam paisagens antes nunca vistas. Não posso me descuidar dos amigos, que me abastecem de sonhos e vontades de continuar vivendo mais, me insultam com verdades e mentiras, mas são o termômetro da minha existência no mundo. Preciso lembrar que os amigos mais ingênuos são os que mais têm a me oferecer. Por serem mais simples, não têm a maldade que põe uma venda nos olhos e cobre de pano branco a beleza e a solução das coisas. Preciso ouvir mais música, explorar mais o mundo das notas musicais que tenho esquecido por pura preguiça de ir atrás. Lembrar, meu Deus, de agradecer sempre pelo pão de cada dia, pelo telhado que me cobre a cabeça, pela luz que me arde os olhos logo de manhã, mas que é a mesma - isso eu não posso esquecer - a mesma que abastece uma planta que produz o fruto que ponho à minha mesa. Por favor insistam em me lembrar que um amor se constrói a cada dia, a cada hora e que sonhos se entrecruzam e viram planos com o tempo e que o rio corre sozinho, e que não posso acrescentar-lhe correntezas para torná-lo mais rápido. Não quero nem vou esquecer de que é trabalhando que se constrói uma vida inteira, que não posso deixar pra depois o que dá pra ser feito agora, que não posso renegar o fato de que fui criança um dia e que hoje é minha obrigação ser paciente com as que cruzam o meu caminho, não posso perder da lembrança o fato de que é preciso guardar para o futuro os frutos de hoje e de que, da mesma forma que guardo fotografias para me assegurar de que o passado continuará protegido no futuro, não posso esquecer que devo rasgar as que representam tempos que não quero mais para mim, e recordar que eu quero mesmo é que se auto-destruam pelo tempo, tempo que me faz esquecer coisas, lembrar outras, que me faz escrever essas linhas. E por favor, amigos, estejam por perto - precisamos não deixar que o tempo corroa as nossas esperanças. E não vejo outro remédio para o esquecimento que destrói os sonhos do que os amigos por perto, cochichando-nos nos ouvidos palavras de força e encorajamento.

(Me ausentarei por mais alguns dias, gente. Vou pra o Pré-Caju - Carnaval antecipado de Aracaju - e ainda vou passar uns dias no paraíso. Não sumam.)

Como se compra santo na Bahia

Hoje saí para comprar o presente de minha mãe, que faz anos dia 22. Reproduzo aqui o diálogo com o vendedor:

- Moço, vocês têm aqui aquela imagem do Cristo iluminado?
- Cristo não tem não. Aqui a gente tem aquele Oxalá. Serve?

É assim que se compra santo na Bahia.

(Quem quiser que acredite em coincidências, por que eu me recuso. Amanheci hoje com a idéia fixa de comprar esse presente para minha mãe, mesmo sabendo que o dia do aniversário dela é ainda daqui a 10 dias. Só agora, 10 horas depois de ter comprado e dado o presente, me dei conta de que amanhã é a Lavagem da Igreja do Bomfim. O templo de Oxalá por excelência.)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

Um abrux

Conta-se que havia uma aldeia de índios onde a única fonte de água potável se encontrava a quilômetros de distância, obrigando os seus habitantes a andarem léguas e mais léguas em busca de água diariamente.

Chega o homem branco e, com a melhor das intenções, abre um poço bem no centro da aldeia, livrando os índios da árdua tarefa de se locomover todos os dias em busca de água. A princípio é ali que os índios passam a coletar a água, mas com o passar do tempo eles voltam a fazer o longo caminho de novo em busca do líquido.

Intrigados, pesquisadores que faziam um trabalho etnográfico na aldeia tentam descobrir a razão daquilo. E descobrem: o deslocamento dos índios em busca da água representa seu momento de socialização. Ao criar o poço, o bem-intencionado homem privou os moradores da aldeia do momento mais importante dos seus dias.

***

E essa pequena historia que ouvi um dia desses na universidade é uma boa conexão com o pequeno texto abaixo.


Ontem visitei uma bruxa – das que não têm caldeirão ou vassoura que voa, mas com unhas que assustam de tão grandes e sujas. Nunca ouvi sobre qualquer maldade feita por ela, aliás ela distribui sorrisos quando visitada e de bruxa mesmo ela só tem os pés encardidos e essas unhas que mais parecem as de um bicho-preguiça que não vê água há dias.

Dona Aureliana mora em um pedaço de terra que, de tão povoado de árvores e de bonitas plantas, o sol quase não penetra, obrigando as árvores de maior porte a crescerem o mais verticalmente possível para serem acariciadas pela luz solar. E Dona Aureliana foi apelidada de bruxa - do bem - porque ela literalmente vive à sombra de suas árvores, suja, maltrapilha e com o corpo manchado da cinza preta que emana de suas panelas - caldeirões sujos que vivem a queimar no seu fogão de lenha.

Aparentemente essa Dona não toma banho há alguns dias. Manicure, como vocês podem observar na foto, provavelmente nunca viu. Minha mãe já a convidou inúmeras vezes para um bom banho de rio, com direito a uma sessão unhas-amaciando-o-lodo-na-água, mas parece que essas higienes exageradas não a seduzem. E como o inferno está cheio de gente bem-intencionada, eu acho mesmo é que essa vontade dela deve ser respeitada. Afinal quem somos nós pra achar que podemos interferir na rotina da senhora? Afinal, essa é a felicidade que ela conhece. Talvez não essa felicidade que nós - bem cheirosos da cidade grande - esperamos, mas feliz à sua maneira mesmo: rasgada, manchada da cinza negra que sai do seu fogão à lenha, ignorante das coisas do mundo, sentada em uma cadeira de pau, muitas vezes olhando para o alto e tentando descobrir porque busca tanto a luz aquela jaqueira que não cansa de crescer para o alto.
***
Sobre uma outra bruxa...
Ela não se deixa ser fotografada. Vaidosa que é, só permite que os fotógrafos em posse de instrumentos poderosos lhe captem um centésimo de sua beleza. Um centésimo sim, porque ela é mais bem vista a olho nu, de preferência associada a paisagens de sonho. Mas até mesmo por trás de edifícios imensos e ruas pobres ela não deixa a desejar, porque sua beleza é para todos – todos que sabem enxergar beleza num fio tênue, um contorno ínfimo que cobre apenas pouco mais de 90 graus de sua circunferência perfeita. É assim, hoje, a sua aparência. E só hoje será assim, porque amanhã esse fio já será maior e mais espesso e o certo é que a sua beleza se altere no decorrer dos dias, como se altera a beleza dos dias que antecedem as noites em que ela sai, por vezes despida, por vezes toda vestida como uma senhora recatada. Não esqueço dos dias de sol intenso em que ela, mais bem disposta, divide com o astro-rei as imensidões do céu. É difícil competir com ele, e por isso, muitas vezes ela não é sequer notada. Já nas noites em que sua resplandecência é mais intensa, é só ela quem brilha. Rainha da Noite. Isso é o que ela é, indiscutivelmente.

Acabei de vê-la, acabei de lançar lentes de zoom ínfimo sobre ela. Mas ela nem deu o ar da graça no meu visor. Quem mora por essas bandas daqui, sabe de quem estou falando. E, se olhou para o céu hoje, no cair da tarde, já tem a foto que eu precisava para ilustrar este post.

Dona Aureliana de corpo inteiro



terça-feira, 11 de janeiro de 2005

Arame farpado


Mais um texto que escrevi um dia desses lá no paraíso.

Você já se deparou, algum dia, com a tarefa de desembaraçar um rolo de arame farpado? Hoje eu tentei. É certo que esta é uma das tarefas mais difíceis de se resolver.

Não sei como, até hoje, as pessoas não se referem a tal tarefa como metáfora da solução de um problema difícil. Ao invés de dizer 'me deixaram uma batata quente nas mãos', ou 'que pepino!', ou 'eu tenho de descascar um abacaxi', poderíamos simplesmente dizer: 'Hoje eu tive de desembaraçar um rolo de arame farpado.'. Metáfora mais poderosa não poderia haver. O problema escolhido para ilustrar com a metáfora, porém, não poderia ser um daqueles que se resolvem facilmente, porque encontrar os caminhos emaranhados de um rolo de arame farpado é muito complicado. Em primeiro lugar, não se pode esquecer que o arame é farpado, logo o seu manuseio é um perigo. Ele é feito para não ser tocado - essa é o cerne da sua natureza e função no mundo. Tocá-lo, por si só, já é um risco. E para decifrar um problema é preciso tocá-lo, senti-lo. Essa premissa básica é fator complicador na tarefa que descrevo aqui. Um novelo de lã é complicado sim, já estive diante de um bem embaraçado e confesso que desisti. Mas o arame farpado é pior: ele não se deixa sequer tocar. Para tocá-lo é preciso astúcia, cuidado. Qualquer desleixo pode causar um arranhão dos mais graves.

Em segundo lugar, só quem já se aventurou por seus caminhos intricados sabe que ele é arredio, contorce-se em posições inexplicáveis e pode dar um nó na cabeça de quem tentar descobrir a rota que escolheu para aninhar-se no bolo que vemos à nossa frente. Tentar decifrá-lo, esticando uma de suas pontas, pode ser tão perigoso quanto tentar puxar pelo rabo uma cascavel aninhada.

Problema dos mais complicados, esse do arame. Hoje estive diante de um. Não era protagonista na solução do problema; entrei de coadjuvante, por pura curiosidade. Queria aquele problema nas minhas mãos, queria desafiá-lo, sentir sua força - ele me venceu. Afinal, para mim, que estou de férias e fugindo o quanto posso de arames farpados, emaranhados ou não, tudo era apenas uma brincadeira. Deixei que os verdadeiros responsáveis pela solução se debatessem sozinhos. Não quero pensar em problemas, muito menos os cheios de farpas e arredios. Mas os 10 minutos que tentei me encontrar naquele bolo de espinhos entrelaçados serviram para refletir e, por um momento, amar os pepinos, as batatas quentes e os sempre bem-vindos abacaxis que, devidamente descascados, resfriados e postos à mesa, são uma refeição de dar água na boca.

domingo, 9 de janeiro de 2005

O que amo aqui onde estou


Amo gosto de manga quase madura, final de tarde de dia de sol escaldante com luz que ilumina magicamente os corpos, fotos tiradas nessa hora, pizza fresquinha feita por mim mesmo, dormir de conchinha com quem gosto, caju em tiras com leite em pó e açúcar, ver um jardim inteiro repleto de flores cor-de-rosa choque, banho no fim da tarde, rio de águas escaldantes, chuva no fim da tarde, chuva batendo no telhado, andar descalço o dia todo, não lembrar como é calçar sapato, cama king size de mainha, conversa com vovô sobre curiosidades do mundo dos espíritos, Senhora do Destino com platéia enorme, atenta e calada, reveillon com beijo na boca e amasso, deitar numa rede embalada por uma brisa leve, acariciar o gato Íbis, ioga na varanda de vovô, assar castanha e depois sentar num tronco cravado de flores e comer, comer e comer até não agüentar mais, ficar bêbado de sono às oito da noite, acordar cedo, pegar siri na lama, ver tartaruga marinha com a cara de fora tentando respirar, andar pelado na praia numa tarde de quarta-feira, tirar foto voando num mergulho, ver lua cheia nascer, lavar roupa no rio, banho de cachoeira de água quente a dez passos de casa... só não amo não poder atualizar isso aqui todo dia, perder por um tempo o contato com vocês. Mas no lugar onde eu estou não tem Internet, mas tem Word, e tenho escrito algumas coisinhas por lá também... esta semana eu voltei e, temporariamente, estarei atualizando diariamente... Acho que só depois do carnaval pra eu voltar a ser constante como antes! Abaixo um dos textos que eu andei escrevendo nas minhas férias. Namasté!

Sobre as 'onze horas'


Esta flor que lhes vou falar é a mais tímida e preguiçosa que conheço. Às onze horas da manhã ela fecha as suas pétalas e volta a dormir. Não sei se por excesso de preguiça ou por puro pavor da luz do sol. Para admirar-lhe a beleza é preciso acordar com o sol e ir ao jardim onde moram ainda cedo, quando a areia ainda está fria ou levemente morna, porque é nessa hora que elas se abrem sem medo, disponibilizando beleza para os que cedo madrugam. É nessa hora que elas dão boas-vindas ao regador cheio de água fresca e, aos ouvidos dos mais sensíveis, dizem um muito obrigado de flor agradecida. Já acordei uma vez junto com o sol e elas ainda dormiam; tive a impressão de que o temporizador que lhes indica a hora de abrir as pétalas responde a uma temperatura exata, determinada por uma altura x do sol e de uma intensidade x de luz. Não me atrevi a achar ruim. Apenas aguardei pacientemente para que o astro-rei ascendesse e providenciasse o calor suficiente para despertar as onze horas para sua pequena jornada diária de exibicionismo colorido e perfumado, que atrai abelhas atrás do pólen e gente como eu que gosta de flores de hábitos extravagantes e de cores efêmeras.