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quarta-feira, 26 de abril de 2006

[cá-aqui]

O caqui escolheu o Brasil e hoje, definitivamente, o escolho como a minha fruta favorita. O caqui veio da China e gostou tanto da terra Brasil que hoje é mais adaptada aqui do que em qualquer outro lugar do mundo.
Morde-se com vontade o seu corpo alaranjado que é só carne, só polpa. As sementes se escondem para agradar: elas são apenas um pouco menos macias que a polpa. Não troco um caqui suculento pela mais deliciosa torta de chocolate. O caqui é uma fruta exposta, pouco tímida, e sua vulnerabilidade lhe dá um charme único: sua casca já é sua essência. Come-se a casca como se come o coração, o núcleo. O caqui é um coração inteiro nas mãos, pedindo para ser degustado. Sua vida útil é curta e por isso não pode esperar. Sua missão se cumpre quando ouve-se o ‘’hummm...”, o alerta oficial do prazer palatal.
Hoje comprei três caquis. Havia um monte deles no supermercado, um monte de caquis amassados, carentes e frustrados, pois ainda não seria nessa vida que suas missões se cumpririam. Encontrei três, com leves amassos ao lado, quase imperceptíveis e nada nocivos, apenas marcas de viagem. Confesso que não resisti e, depois de parar por eles, comi ali mesmo. É que é impossível tê-los na mão, nas narinas o cheiro, e não realizar-se no orgasmo do toque da língua, dos dentes, do céu da boca. Quase um ato sexual, só que limitado à alma de um coração que se tem nas mãos e se pode morder e vê-lo realizar-se ali à sua frente.

Os outros caquis ficaram lá, e provavelmente apodrecerão, ou num simples ‘ploft’ serão despedaçados e virarão suco que nunca será bebido nem provado. Terão apenas metade de sua missão cumprida, posto que o cheiro inebria o ar, bastando apenas parti-los em dois.

(Acabei de ler que se come caqui de colher, e acho um insulto. Caqui se come é com os dentes e as palmas das mãos abertas em concha, sem guardanapos, sem nenhum compromisso depois, de preferência nu, como ele, num abraço palatal, num toque final de essência, num gozo alaranjado que desce o esôfago e aloja um perfume no interior da gente.
)

terça-feira, 25 de abril de 2006

[para dias de chuva, um ka]

Sempre fui pelos dias de chuva. Ainda sou, e amo a chuva do mesmo jeito, mesmo depois da enxurrada que quase leva a cidade inteira na última quinta-feira.

Em primeiro lugar, fazer o trajeto Cidade Baixa – Faculdades Jorge Amado em 1h e 40min não foi nada agradável. Como diz um amigo meu, não fossem os meus dez anos de ioga, com certeza teria saído correndo do carro. Nem meu radinho de pilha funcionava. Tudo embaçado, muita água jorrando e a Bonocô inteira pa-ra-da. Chego na faculdade – atrasado, obviamente – com uma sala repleta de... cadeiras vazias. Óbvio: acho que nem fantasma – que não se molha – sairia de casa, por opção, naquela sombria quinta-feira. Eu saí. De carne, osso e dentes à mostra, tive de sair. Primeiro, porque havia os pupilos me esperando, pelo menos teoricamente. Segundo, e mais importante, uma pessoinha muito especial já estava no ônibus, a caminho, e não poderia dormir na rodoviária. Pus minha coragem à frente – aquela, do post abaixo – e fui. Dei a aula para os gatos pingados e quando chego na rodoviária... Deus meu. Para se ter uma idéia da gravidade da coisa, imaginem que o barulho no teto da rodoviária – que aqui deve ser uma telha vagabunda qualquer – era tamanho, que eu não conseguia ouvir meus próprios pensamentos. O couro tava comendo lá fora. E minha mãe não demorou a ligar:

- NÃO volte pra casa. Tá tudo alagado aqui.
- Como assim, a casa tá alagada?
- Não, a rua. Todos os carro estão voltando. – como assim, a minha rua alagada? Nunca tinha ouvido falar que a Monsenhor Basílio Pereira alagava.
- Pois com essa chuva alagou – minha mãe, lendo meus pensamentos já tinha a resposta.

Então, pois, sou teimoso, mas nem tanto. Já com o coração e o banco do carona devidamente ocupados, resolvemos dar uma voltinha no Iguatemi (o percurso Iguatemi-Rodô, de carro, durou 30 min). Um filminho? Não. Uma pizza, talvez. Dá-se um tempinho aqui, tempo suficiente para a água escorrer. Vai dar tudo certo.

Pegamos, pois, a Luís Eduardo. Avenida nova, pensei, não tem como estar cheia. E não estava. Só que a Luís Eduardo não desemboca direto na minha garagem, há umas ruas, vamos dizer assim, mais secundárias, que estão no meio do caminho. E uma delas era, literalmente, um rio.

Para se ter uma noção, meu carro ficou com água na porta. Quando os ônibus passavam, eu fechava os olhos. Subi no passeio, que era mais alto, dirigi uns 50 metros, tentei descer do passeio, mas o passeio, ali, já era alto demais e não dava: o carro se partiria em dois se eu tentasse. O jeito foi dar ré. O jeito foi pedir a meu amigo para pôr os pés no chão e desvendar a profundidade de tudo aquilo. Muito fundo. Quase fundo do poço, é aí que estamos nós. Chamei por Deus, por todos os Orixá e rezei para que meu velho Ka não me deixasse na mão pela primeira vez na vida. E não é que o danado deu conta do recado? Meu carro-anfíbio se aventurou bravamente pelo rio-leptospiróptico e chegou, são, salvo e molhadíssimo em terra firme. Não acreditei quando entrei na garagem e descobri que o único dano tinha sido a placa da frente do carro que certamente virou uma jangada para uma criança qualquer.
Resultado além das expectativas. Pra quem ia dormir num hotel qualquer ou no chão da sala de um amigo solidário, acabei a noite no quentinho do meu quarto, com a melhor companhia do mundo, e ainda ouvindo, alheio a tudo que desabava lá fora, um pingar constante de uma chuvinha que se transformara em aconchego puro.

domingo, 23 de abril de 2006

[o projetado e o real]

O dia da defesa era, sem dúvida alguma, o dia que eu mais temia. Sabia que o processo da escrita seria difícil, como de fato foi – não apenas pela escrita em si, mas pela disciplina que escrever uma dissertação praticamente sozinho exige –, sabia que as leituras poderiam ser complicadas, as matérias poderiam exigir um tempo de dedicação que eu não tinha, mas realmente era a defesa que me assustava. Assim que soube da data, um mês antes, evitava pensar no assunto. Nisso eu já era mestre: planejo, detalhadamente, o dia que vou começar a me preocupar com alguma coisa. Até essa data, ignoro o problema com todas as minhas forças (risco calculado, que até hoje tem dado certo). Quando não dá mais pra fugir, encaro: e desta vez precisei de uma sessão inteira de terapia para ouvir que eu ‘tenho medo do meu saber’ e que não estaria, no dia 19, ‘me defendendo, mas defendendo uma idéia’ – que acabava não sendo mais nem muito minha, por já ter sido entregue ao mundo. Saí da sessão do dia 13 de abril muito mais confiante: que venha o dia 19. Chamei os anjos, os amparadores, pus minha coragem na frente e lá fui eu.

Os anjos estavam ali, eu sabia, pois eu respirava uma quietude no ambiente. Não era uma quietude proveniente do fato de que só havia uma única pessoa na platéia – pelo menos no plano físico. Era quietude astral mesmo, eram harpas tocando. E comecei a minha apresentação. O grande dia chegara afinal, e a imagem apreensiva que eu tantas vezes plasmei na minha tela mental – num misto de curiosidade e medo – afinal não tinha nada a ver com a imagem real, a que de fato se concretizou no dia D. Falei sem nervosismos, ouvi sem nervosismos, não teve aquele professor sacana que quer destruir seu trabalho, nem aquele que te quer passar a mão pela cabeça (igualmente um pesadelo). Houve professores extremamente capazes tanto emocional quanto tecnicamente, que fizeram críticas construtivas e elogios. Essa parte foi ótima, não posso negar. E ao final das críticas ainda ouvi um “você responde se quiser, são somente reflexões mesmo”. E estava finalizada a defesa. Neste ponto, já sabia que tinha sido aprovado. Ao final da defesa, você sente o clima da coisa. Agora era só aguardar o parecer.

Lá vêm então os três professores acompanhados pela secretária do Programa de Pós-Graduação em Letras. Papéis na mão, e eu fico pensando em como tive de lutar por aquele papel, dobrado duas vezes e enterrado em um envelope, carregado paradoxalmente com tanta leveza por Laís. “Mas o peso é outro”, pensei com meus nervosos botões. Houve ‘se levantar para ler o parecer’ – e nessas horas não dá pra não se sentir um réu – houve leitura formal da ata, houve as assinaturas, os aplausos, os beijos e os ‘muito obrigados’. Houve de tudo. Não faltou nada, confesso.

Agora, me surpreendo comigo mesmo pensando em doutorado quando, durante o difícil processo do mestrado, era tudo que abominava. E a vida pra mim tem sido assim: vencendo terríveis medos, projetados por mim mesmo, e depois ficando com gosto de ‘quero mais’ na boca. Vou, aos poucos, pensar nisso.
Ao final, fica uma satisfação de dever cumprido e uma leve alegria por se sentir ainda tão entusiasmado pelas posibilidades de aprendizagem que existem no caminho. Independentes de títulos, de bancas e de diplomas. Aqui, é do dia-a-dia mesmo de que falo.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

[doze a cada cem]

Não tenho muita força nem vontade de contar como foi, mas a banca acabou de me dar o título de Mestre. Ainda caindo na real, sem acreditar que o sufoco todo acabou. A defesa foi hoje às 9h da manhã. Tranqüila, reflexiva, tudo que eu mais desejava.

Obrigado a Deus, obrigado ao Universo. Agora é curtir mais 12% no salário (risos).

segunda-feira, 17 de abril de 2006

[loving you, loving the flowers in you]

sexta-feira, 14 de abril de 2006

[ocos ovos]

E que venham então os ovinhos. De chocolate. De esperança dentro – porque quando se é criança e se sonha, sempre se acredita no chocolate extra que mora no ovo. Admito que ainda prefiro o chocolate em barras, ou em bombons redondos que cabem direto na boca. São mais práticos e não dão a falsa sensação de que se tem nas mãos uma iguaria inteira, toda inteira, maciça. Mas talvez os ovos de Páscoa sejam ocos para caberem neles a esperança, ou a leve lembrança de que ela existe. Para as crianças, é esperança e sonho se concretizando na casca que normalmente se joga fora, mas que aqui se come, é esperança e vontade se realizando quando se descobre que no oco moram mais três ou quatro tabletes de puro chocolate. Para o adulto mais cético, que não se deixa enganar, o ovo é representado em números, em gramas e no valor que se paga no caixa. Para a criança, vale o colorido da embalagem, a possibilidade que mora nela, e o barulho que faz a esperança que mora dentro, quando se balança o ovo e se ouve o sussurro da surpresa que alegra o domingo já cheio de tantas lembranças. Lembranças que me mantêm vivo até hoje - apesar de ter esquecido do suspense de quebrar a casca em dois e lembrar, feliz, que não só se comem as cascas como também que no oco ainda há algo mais para ser saboreado -, como a de minha mãe distribuindo esperança ao esconder as iguarias de chocolate do coelho que eu nunca via, mas que a qualquer hora poderia pular de um arbusto, sorridente, cheio de ovos – que não derretiam nunca – nas costas. O coelho nunca veio, nunca o vi, é bem verdade. Melhor assim. Assim continua em mim o sonho, a esperança, e a possibilidade de a qualquer hora pegar uma barra maciça do mais delicioso chocolate, derretê-lo, dele construir um ovo-oco-com-sonho-realizado-dentro e repartir com os amigos, com vocês, reativando essas velhas lembranças que de tão antigas me remetem, novamente, a antigas esperanças.
Nesta Páscoa, experimente fechar os olhos e lembrar o gosto que tinha o ovo de chocolate na época em que tudo era simples, oco e com tabletes de esperança dentro.
Bom domingo.

segunda-feira, 10 de abril de 2006

[em partes]

Acho que chegamos, então, ao ponto de onde tudo parte. Tudo se estabiliza, depois parte. Parte para a parte dois, depois parte três. É na parte dois que se juntam, e na três que se multiplicam. Da parte quatro em diante se vêem envelhecer e descobrem que a parte cinco se aproxima. Muitos, temerosos, correm da parte cinco. Outros, alegres, correm atrás dela, por saberem que não devem muito, que há mais créditos que débitos e, por isso, são serenos. Mas a parte cinco é futuro - e tudo que pedem a Deus que é que lhes dê tempo de ver tudo que foi plantado crescer antes que venha a última parte – e o futuro, por ser tão distante, é o que menos importa nesse momento. O que lhes valem muito mais são essas horas em que tijolos se calcam uns nos outros, instigantes, insinuantes, ávidos por abrigá-los por entre o calor que provocam quando, juntos, formam as quatro paredes do quarto. Ávidos estão os tijolos cor de terra por verem o que vai suceder ali dentro, quando estiverem no frio, no sono, no calor, na alegria, ou na dor. O que vão dizer, por onde vão andar, se coincidirão dores e choros ou se serão daqueles que alternam vontades, como que querendo não estabelecer a rotina cruel dos sentimentos únicos. Pois os tijolos imploram que lhes deixem à vista, pois senão só lhes restará sentir de trás da casca grossa do cimento - e da tinta que lhe disfarça - os ares que criam a atmosfera da casa e como esses ares mudam, quando entra, por exemplo, a parte três, e pintam o lugar onde fica a manjedoura de um rosa claro ou de um azul cor-do-céu, ou se entra a parte quatro e começam a brotar vontades de ficar dentro, reclusos, mais íntimos. Os tijolos temem não poder ver o dia quando chega a parte cinco e deixam esse ares que se respiram - ares de anos atrás que se uniram aos tijolos da casa antiga e persistem, pesados, em ficar - e partem em direção ao canto invisível onde não há atmosferas que alimentem os pulmões, porque não mais se respira na quinta parte. Na quinta parte se sente. Mais ou menos como faziam na parte um, quando do primeiro encontro, momento em que se esqueciam que havia ares ou qualquer coisa ao seu redor. Para respirar, apenas o cheiro do outro, o cheiro do agora. Irremediavelmente estável para eles, que ainda não pensavam em todas as partes que ainda estavam por vir.

quinta-feira, 6 de abril de 2006

[em frases soltas]

Ontem eu comecei a escrever esse post numa sala com cinqüenta computadores. Tive medo de perdê-lo. E perdi, de fato. Agora escrevo sozinho, no Word, mais garantido. Arriscar às vezes pode ser fatal. Não arriscar, na maioria das vezes, é a fatalidade materializada em um ato covarde. Hoje vou comprar pinos para o carro. É duro envelhecer, ele me diz toda vez que tento tirá-lo da garagem às seis da manhã. Meu carro quase não agüenta mais o meu pique. Vou também ao supermercado. Faltam coisas básicas na minha vida, como sabonete para lavar o corpo, por exemplo. E sabão em pó para lavar a alma, ou seja, as roupas que me vestem. Tenho uma lista de afazeres para hoje. Estou viciado nas séries. Agora assisto The West Wing. Ninguém gosta, só eu, mas existe uma relação minha com questões do poder. Um dia vou descobrir porque gosto tanto de The West Wing. Porque, na verdade, é chato mesmo. De amanhã funciono bem. Até as dez. Quando a dez chegam, me cegam, aí só me resta rezar bem forte e pedir a Deus força para levar o resto do dia. Às cinco, melhoro, às dez tô exausto. É sobre-humano ter de trabalhar até as vinteeduasetrinta. É sobre-humano viver tão longe de você. É sobre-humano ter de descobrir se as palavras vêm juntas ou separadas. Se o nosso destino é esta justaposição, ou essa cadeia emaranhada, então que sejamos uma única palavra encravada no Aurélio. Meu amigo diz que não se diz mais que línguas evoluem, não se diz mais preto, nem se for nome próprio, assim, com pê maiúsculo. Tenho um amigo que se irrita profundamente se alguém adentra uma sala e não diz bom dia. Esse meu amigo já está com rugas imensas. Meus alunos da faculdade não sabem ouvir. Eles me obrigam a ser repetitivo. Existe uma linha tênue entre ser repetitivo porque não te ouvem e ser repetitivo porque você não se ouve. Eu não sei nem onde está essa linha. Minha dissertação está pronta, em minhas mãos, e eu tenho medo de abri-la. Talvez medo de descobrir que me repeti. O mestrado me afastou do blog, me afastou das minhas palavras, me afastou do teclado. Vou voltar pra terapia, mas não por causa disso. Nesse mês o dinheiro dá. Aperta, mas dá. Minha lombar dói, meu joelho esquerdo dói, meu ombro esquerdo também dói. A dor no pé torcido está melhor, e os intercostais vão bem, obrigado. Eu malho numa sauna. No banheiro da minha academia só cabe uma pessoa em pé. Tenho saudades do tempo em que eu tomava banho em casa. Preciso comprar uma nova vassoura. Espanador já tenho. Poeira então, nem se fala. Toda vez que compro uma roupa, tiro o dobro do que comprei do meu guarda-roupa. Hoje quem limpa meu quarto é a filha da minha faxineira. Talento corre no sangue ou estamos predestinados a viver na pobreza. Minha amiga Aline nunca mais me ligou. Meus amigos não me ligam mais. Minha conta da Tim foi vinteequatroreaisetrêscentavos. Eu também não tenho ligado pra eles. Amanhã vou acordar antes das seis, antes das seis e com sono, antes das seis, é verdade, mas para fazer a coisa que eu mais gosto na vida. Hoje é o último dia da minha semana, mas ainda tem o sábado e depois do sábado o resto inteiro da minha vida. E a vida vem em frases soltas.

terça-feira, 4 de abril de 2006

[te ligo ainda hoje]

Nunca trabalhei tanto como nesse semestre. Nem nos tempos em que escrevia a dissertação e achava que a vida andava me consumindo demais tive uma carga horária tão lotada. Mas é bom, faz a gente se sentir vivo, produtivo, capaz. É nessas horas que a gente descobre se a profissão que escolhemos é, de fato, a profissão que amamos. Tem dias, como hoje, que começo a dar aula às sete da manhã e praticamente só paro às 22h35. Quase direto, com uma folga aqui ou ali – como essa, em que a mente não consegue parar e vai para o PC escrever uma besteira qualquer. Folga para almoçar, mas rapidinho que tem aluno esperando à uma da tarde. Pausa para tomar um café, um papo com um colega, pausa para ir de um emprego a outro e aproveitar para, no carro mesmo, ligar pra quem a gente ama. Agora me perguntem se às terças, ou às segundas, dois dias mais que lotados na minha agenda, eu acordo sem coragem, com raiva, ou qualquer sentimento afim. Claro que não. Acordo com uma preguiça que quase entorpece ou com uma falta de lucidez tamanha – devido ao sono pesado –, que nem sei direito onde estou, mas que, é bem verdade, dura apenas alguns minutinhos, e que resolvo logo com um banho na alma e uma oração de agradecimento – bem curtinha, que é pra não dar sono de novo. E assim se vão os meus dias. Felizes, realizados em muitos, muitos aspectos. Fico feliz em olhar a minha vida hoje e poder ter convicção ao afirmar que sou muito feliz no meu trabalho, e em outras áreas da minha vida também. E a minha teoria é bem simples: agradeça que a vida retribui em dobro.

(Sei que há muito de ti nisso tudo. Sei que esses dias não passariam assim, tão em harmonia, não fosse meu pensamento em ti, não fosse este teu cheiro que não passa, tua presença que não cessa, tua voz que não cala. Sei que não haveria tanta luz nesses dias de cinza, tanto sentido em tudo que faço, não fossem tu e teu aço, tu e teu sorriso, teus braços dentro de mim, no meu, no nosso abraço.)

segunda-feira, 3 de abril de 2006

[quero chuva]


Nos últimos dias não havia um soteropolitano sequer que não estivesse reclamando do calor e do atraso na chegada do verão. Enquanto no ano passado reclamávamos da chegada do outono em pleno carnaval, esse ano mofamos – ou assamos? - na espera pela diminuição da temperatura e aproximação de dias mais amenos. Pois esse dias custaram a chegar, e acho até que estou celebrando daqui com um pouco de antecipação. O dia amanheceu escuro, cinzento (foto), bem como eu gosto, mas como ainda não são nem nove da manhã, pode até ser que ocorra um revertério e o sol volte a brilhar insistentemente – coisas de Salvador. Pois digo ao sol e a esse calor que há a hora de chegar e a hora de se retirar - como reza a lei número um da educação - , pois nossos jardins andam secos, acizentados, sedentos de uma gota que lhes conceda de volta o frescor do qual abrem mão por um tempo - pois não há luta possível contra a lei que diz que há tempos de calor e tempos de frio -, e que também, pelo que reza a lei, eles têm o direito irrevogável de serem regados com chuva abundante a cada dia. Que venha a chuva, seu frescor, seu aconchego.

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Falo mal do sol, mas também não o dispenso se ele brilha. É claro que é muito melhor vê-lo brilhar na areia da praia, ou em um mergulho na Baía de Todos os Santos, como fiz ontem, do que no trânsito indo para o trabalho (nesse caso não sei se a chuva ou o sol é pior). O Mahi-Mahi ainda é o melhor lugar de Salvador para quem quer estar junto ao mar, mas longe da areia e dos farofeiros.

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E cinema é que é programa pra toda hora, pois independe de frio ou calor, chuva ou sol: sempre haverá uma sala escura para se esconder de qualquer tempo ruim. E ontem eu assiti ao filme perfeito de Spike Lee. Genial e imperdível. Pelo menos uma vez na vida eu concordo com Isabela Boscov. É que Isabela é como meteorologista, nem sempre acerta.