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sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

Peitos

Recordar é viver. E como hoje eu estou gripado e precisando dormir, resolvi publicar este texto que é um dos meus favoritos, publicado no meu Fotoblog em 03/10/2004. Sei que muita gente que entra nesse diário não conhece, e sei que os que conhecem talvez gostassem de revê-lo. Namasté.

"É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe."
(Vinícius de Moraes)

Ela não sabe o que é Internet. Nunca ouviu falar em Ferrari. Caviar? Talvez até conheça, mas na sua língua é ova de peixe. Nunca esteve em Paris, nunca sentou a uma mesa chique, nunca associou aquele mau humor mensal à TPM. Nunca teve um celular, faz dez anos que falou pela primeira e talvez última vez ao telefone; não mexe em dinheiro, não distingue conforto de desconforto, não se pesa, não malha, nunca teve uma arma na cabeça. Rua asfaltada ela viu uma vez quando veio a Salvador. Achou que era um chão quente demais "não poderia morar aqui: não gosto de sapatos". Nunca foi a Minas, já ouviu falar de São Paulo porque alguns parentes moram lá, ignora o que é um CD, um edredon, mas faz uma colcha de retalhos como ninguém. Já comeu moqueca de peixe, camarões cozidos à moda baiana, beijus assadinhos na hora, bolos de milho tirado do quintal, mas nunca ouviu falar em iguarias. Não sabe o que é um chef. Já entrou no mangue com rede de arrasto, já acenou mais de mil vezes ao ver o marido partir para alto mar numa jangada. Mas não sabe o que é um iate e nunca pescou pra passar o tempo. Não entende como se pode morar num edifício, não sabe o que é viver nas alturas. Se nega veementemente a morar como uma galinha num poleiro. Não entende o que é veementemente, recíproco e simultâneo, e no entanto fala a língua que atrai os aratus, faz catado deles com as mãos, mas nunca se sentou em um bar com martelinho e tábua para comer caranguejo. Não sabe o que é cama king size, cama americana, colchões Ortobom ou travesseiro de penas de ganso. Mas sabe a delícia que é dormir numa esteira na porta de casa, ou numa rede pendurada entre os troncos de uma árvore. Nunca ouviu falar em preservação da natureza, em IBAMA, ONGs ou Greenpeace, mas nunca vi chegar uma siri fêmea na sua rede de arrasto pra ela não devolver imediatamente ao mar. Não sabe o que é música eletrônica, não conhece nem um DJ, mas já arrastou os pés noites de junho adentro ao som de Gonzagão. Nunca assistiu Tiros em Columbine, não sabe quem é George Bush, arma pra ela é no máximo uma espingardinha de chumbo que usou um dia pra caçar. Nunca leu um livro, sequer reconhece o seu nome escrito em um papel, mas já soube dar os conselhos mais sábios. Não sabe o que é política, quem é Lula ou FHC, ACM já ouviu falar, nunca votou, mas soube escolher uma vida de paz. Viveu uma vida simples, de pé no chão. Já a vi de mau humor, já a vi desesperada, brigando com os filhos e netos, mas a essência da sua vida eu consegui captar um dia. Nua como veio ao mundo, e sorrindo. Ela nem imagina que aquela máquina à sua frente captaria uma imagem, e que um louco qualquer um dia a colocaria em um Blog.