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sábado, 7 de maio de 2005

Ventres, dedos e seio.

Cheguei lá de dentro, do exato lugar de onde saem todos, e é pela minha afeição por ela que me comunico com o mundo. Foi do cordão que captei a essência dos gestos que fiz a frase, da expulsão da casa que saiu o choro.

Me deu casa quente, úmida, cheia de nutrientes, uma piscina natural cheia de regalias. Era lá dentro que eu me sentia seguro, hidratado. Lá dentro ainda não chorava. Não havia aquela luz que, junto ao tapa, me dava a vontade de chorar. Senti, junto com a luz daquela sala cheia de refletores o toque em seu peito, lembro vagamente de um sorriso e de flashes que disparavam. Era seu olhar.

Me cortaram o umbigo e me colocaram num berço meio apertado, e desde já eu sabia que seu olhar me acompanhava, atento. O cordão se soltara, agora eram as mãos, e principalmente o olhar que me uniria a ela. E seus olhos não se desgrudavam dos meus. Eu, de olhar ainda tão pequeno, tão sem nada, e ao mesmo tempo tão absorto diante de tanta vida e tanto amor.

Como todo ser que nasce chorei forte. Mas tinha um cheiro que eu só tinha sentido de dentro. E um outro, que vinha no ar, que emanava de fora. Isso mesmo. O cheiro emanava de fora, não mais de dentro. Com as mãos pequenas abracei seu dedo e pus minha boca, instintivamente, num bico de toque suave. Não tinha mais porque chorar. O abraço no dedo me saciava a fome de amor e o toque no seio a fome física.

Ela me levou pa casa, me abasteceu de outras tantas coisas durante esses quase trinta e um anos. Me entendeu nas minhas manias mais estranhas, me deu de comer nas horas mais inapropriadas, me deu regalias, me fez sentir dor na sua frente para não sentir diante do mundo dos estranhos, fez daquela casa o simulacro da vida que um dia eu ia enfrentar. Me educou como mãe, como professora, como profeta, como artista, como ser humano inacabado e que falha.

Vieram os dias. Um após o outro. Eu, sem cordão pendendo do umbigo, sem peito para me matar a fome, hoje sou um homem feito. Carrego ainda a força daquela vida que me nutriu nos nove meses. Distribuo hoje, ao mundo, essa afeição que tive em abundância. É muita vida dentro de mim. Grávido, hoje, de um mundo inteiro. Sou um pouco mãe, filho e pai. Mas sou muito mais filho ainda, confesso. Porque não posso negar que às vezes o que me resta, depois de um dia cheio de choros, é o conforto desse ventre que ainda encontro, todos os dias, cheio de nutrientes espessos e um dedo bom que eu agarro com força e sei que dali vem uma força que não cessa e que aplaca não sei ao certo o que, mas me deixa seguro, em posição fetal, no escuro, escondido, livre do mundo e do peso dele sobre mim.

(O nome da minha mãe é Lia, mulher rica e esbelta, professora, como eu e, do alto dos seus 61 anos, ainda é capaz de limpar um rio lamacento e transformá-lo em lagoa de águas transparentes habitada por peixes lindos.)