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quarta-feira, 18 de maio de 2005

Siga-me


Estava a procura de alguém. A noite era escura, chuva por vir, quase ninguém na rua. Ele, pequeno, passos curtos, branco. Eu, em direção ao meu destino com a disposição que se tem depois de um dia inteiro de trabalho. A uma certa altura da rua o nosso caminho se cruzou. Comecei a sentir seus passos curtos me seguindo, não levei muito a sério: pelo tamanho, não me faria mal algum. No mínimo, seria um companheiro de jornada.

Meus passos eram longos e firmes, tinha de estar no meu destino em menos de dois minutos. Seus passos apertaram, e quando olhei para trás e meus olhos encontraram os dele, a amplitude dos passos do meu perseguidor aumentou de forma que, por um segundo, era eu que o seguia e não mais o contrário. O meu olhar revigorara as suas esperanças. “Finalmente um olhar em minha direção”, deve ter pensado, “esse aí parece apressado, mas deve ter um bom coração. Sou vira-lata, tenho fome e nada a perder.” O cãozinho continuava atrás de mim. Um passo meu, dez dele. Um olhar meu e eram então vinte passos e um sorriso de cão no rosto. Cheguei ao meu destino. Ele quis passar por entre as grades do portão. Eu disse que não. Ele obedeceu. Voltou à rua e eu, confesso, gostei da companhia. Ele não exigiu nada de mim, apenas me deu um sorriso de cão vira-lata. Não quis saber o meu nome, apenas viu em mim um companheiro possível. Não subiu comigo para o lugar proibido, porque a vida já devia ter ensinado que um não pode virar um grito que pode gerar uma pedra na cabeça. Admito que passei os minutos na academia pensando em como seria bom se aquele cão estivesse na porta me esperando. Leal, fiel, meu. Eu poderia dar-lhe um prato de comida e fazer um amigo, poderia até dar-lhe um banho morno e lhe dar um nome. Com o tempo, poderia adotá-lo. Fiz planos, confesso.

Desci a escadaria depois de 40 minutos. E os 40 minutos que passaram foram suficientes para ele perder a esperança, toda a esperança que depositara em mim. O vira-lata não estava mais lá, logo na hora em que eu estava mais inteiro ao pé da escada. Ainda olhei para os lados, gritei um nome qualquer, fiz outro caminho, mas não foi dessa vez: ele deve ter olhado muito para a escada, esperado a minha volta e virado, cabisbaixo, de volta à escuridão da noite em busca de novos pés com que pudesse seguir junto.

::::

(Sou abundante. Não sei ser pela metade, não sei pedir que me esperes na escada, quero que subas comigo. Não sei não ser inteiro, não demonstrar que adoro que me sigas os passos, que me fotografe em toda a minha extensão, que me escreva todo, que me entrelace com força e que me roube beijos, que me aqueça no frio e te afastes, distante, quando esquento todo e o suor me toma a pele. Não sei ser mais ou menos, um quarto, a terça parte. Não sei ser a metade da maçã, e aplacar metade da tua fome. Comigo, quero que sobrem restos no teu prato, quero fome quase-saciada, porque o que falta é a sobra de depois, a misteriosa falta, o segredo que abastece, a noite que não te ouvi, o sono que domina, a voz que acabou com a bateria. Fica aqui a minha outra metade, pois a primeira adormece, se refaz inteira. A abundância me exige, me distingue, me refaz. Sou meio-teu, dono da tua meia-fome, dono de todas as vezes em que lerás estas palavras, metade tuas, metade minhas. Passo a faca. Parta o pão. Metade meu, metade teu. Põe no prato a nossa refeição, e retira-te, deixando aqui o apetite que preciso para ingerir a metade tua que é inteira minha. )