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terça-feira, 11 de janeiro de 2005

Arame farpado


Mais um texto que escrevi um dia desses lá no paraíso.

Você já se deparou, algum dia, com a tarefa de desembaraçar um rolo de arame farpado? Hoje eu tentei. É certo que esta é uma das tarefas mais difíceis de se resolver.

Não sei como, até hoje, as pessoas não se referem a tal tarefa como metáfora da solução de um problema difícil. Ao invés de dizer 'me deixaram uma batata quente nas mãos', ou 'que pepino!', ou 'eu tenho de descascar um abacaxi', poderíamos simplesmente dizer: 'Hoje eu tive de desembaraçar um rolo de arame farpado.'. Metáfora mais poderosa não poderia haver. O problema escolhido para ilustrar com a metáfora, porém, não poderia ser um daqueles que se resolvem facilmente, porque encontrar os caminhos emaranhados de um rolo de arame farpado é muito complicado. Em primeiro lugar, não se pode esquecer que o arame é farpado, logo o seu manuseio é um perigo. Ele é feito para não ser tocado - essa é o cerne da sua natureza e função no mundo. Tocá-lo, por si só, já é um risco. E para decifrar um problema é preciso tocá-lo, senti-lo. Essa premissa básica é fator complicador na tarefa que descrevo aqui. Um novelo de lã é complicado sim, já estive diante de um bem embaraçado e confesso que desisti. Mas o arame farpado é pior: ele não se deixa sequer tocar. Para tocá-lo é preciso astúcia, cuidado. Qualquer desleixo pode causar um arranhão dos mais graves.

Em segundo lugar, só quem já se aventurou por seus caminhos intricados sabe que ele é arredio, contorce-se em posições inexplicáveis e pode dar um nó na cabeça de quem tentar descobrir a rota que escolheu para aninhar-se no bolo que vemos à nossa frente. Tentar decifrá-lo, esticando uma de suas pontas, pode ser tão perigoso quanto tentar puxar pelo rabo uma cascavel aninhada.

Problema dos mais complicados, esse do arame. Hoje estive diante de um. Não era protagonista na solução do problema; entrei de coadjuvante, por pura curiosidade. Queria aquele problema nas minhas mãos, queria desafiá-lo, sentir sua força - ele me venceu. Afinal, para mim, que estou de férias e fugindo o quanto posso de arames farpados, emaranhados ou não, tudo era apenas uma brincadeira. Deixei que os verdadeiros responsáveis pela solução se debatessem sozinhos. Não quero pensar em problemas, muito menos os cheios de farpas e arredios. Mas os 10 minutos que tentei me encontrar naquele bolo de espinhos entrelaçados serviram para refletir e, por um momento, amar os pepinos, as batatas quentes e os sempre bem-vindos abacaxis que, devidamente descascados, resfriados e postos à mesa, são uma refeição de dar água na boca.