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domingo, 9 de janeiro de 2005

Sobre as 'onze horas'


Esta flor que lhes vou falar é a mais tímida e preguiçosa que conheço. Às onze horas da manhã ela fecha as suas pétalas e volta a dormir. Não sei se por excesso de preguiça ou por puro pavor da luz do sol. Para admirar-lhe a beleza é preciso acordar com o sol e ir ao jardim onde moram ainda cedo, quando a areia ainda está fria ou levemente morna, porque é nessa hora que elas se abrem sem medo, disponibilizando beleza para os que cedo madrugam. É nessa hora que elas dão boas-vindas ao regador cheio de água fresca e, aos ouvidos dos mais sensíveis, dizem um muito obrigado de flor agradecida. Já acordei uma vez junto com o sol e elas ainda dormiam; tive a impressão de que o temporizador que lhes indica a hora de abrir as pétalas responde a uma temperatura exata, determinada por uma altura x do sol e de uma intensidade x de luz. Não me atrevi a achar ruim. Apenas aguardei pacientemente para que o astro-rei ascendesse e providenciasse o calor suficiente para despertar as onze horas para sua pequena jornada diária de exibicionismo colorido e perfumado, que atrai abelhas atrás do pólen e gente como eu que gosta de flores de hábitos extravagantes e de cores efêmeras.