<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d8639429\x26blogName\x3dDi%C3%A1rio+Evolutivo\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dTAN\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://evoluirefluir.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_BR\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://evoluirefluir.blogspot.com/\x26vt\x3d-7690663095198134269', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe", messageHandlersFilter: gapi.iframes.CROSS_ORIGIN_IFRAMES_FILTER, messageHandlers: { 'blogger-ping': function() {} } }); } }); </script>







quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

Um abrux

Conta-se que havia uma aldeia de índios onde a única fonte de água potável se encontrava a quilômetros de distância, obrigando os seus habitantes a andarem léguas e mais léguas em busca de água diariamente.

Chega o homem branco e, com a melhor das intenções, abre um poço bem no centro da aldeia, livrando os índios da árdua tarefa de se locomover todos os dias em busca de água. A princípio é ali que os índios passam a coletar a água, mas com o passar do tempo eles voltam a fazer o longo caminho de novo em busca do líquido.

Intrigados, pesquisadores que faziam um trabalho etnográfico na aldeia tentam descobrir a razão daquilo. E descobrem: o deslocamento dos índios em busca da água representa seu momento de socialização. Ao criar o poço, o bem-intencionado homem privou os moradores da aldeia do momento mais importante dos seus dias.

***

E essa pequena historia que ouvi um dia desses na universidade é uma boa conexão com o pequeno texto abaixo.


Ontem visitei uma bruxa – das que não têm caldeirão ou vassoura que voa, mas com unhas que assustam de tão grandes e sujas. Nunca ouvi sobre qualquer maldade feita por ela, aliás ela distribui sorrisos quando visitada e de bruxa mesmo ela só tem os pés encardidos e essas unhas que mais parecem as de um bicho-preguiça que não vê água há dias.

Dona Aureliana mora em um pedaço de terra que, de tão povoado de árvores e de bonitas plantas, o sol quase não penetra, obrigando as árvores de maior porte a crescerem o mais verticalmente possível para serem acariciadas pela luz solar. E Dona Aureliana foi apelidada de bruxa - do bem - porque ela literalmente vive à sombra de suas árvores, suja, maltrapilha e com o corpo manchado da cinza preta que emana de suas panelas - caldeirões sujos que vivem a queimar no seu fogão de lenha.

Aparentemente essa Dona não toma banho há alguns dias. Manicure, como vocês podem observar na foto, provavelmente nunca viu. Minha mãe já a convidou inúmeras vezes para um bom banho de rio, com direito a uma sessão unhas-amaciando-o-lodo-na-água, mas parece que essas higienes exageradas não a seduzem. E como o inferno está cheio de gente bem-intencionada, eu acho mesmo é que essa vontade dela deve ser respeitada. Afinal quem somos nós pra achar que podemos interferir na rotina da senhora? Afinal, essa é a felicidade que ela conhece. Talvez não essa felicidade que nós - bem cheirosos da cidade grande - esperamos, mas feliz à sua maneira mesmo: rasgada, manchada da cinza negra que sai do seu fogão à lenha, ignorante das coisas do mundo, sentada em uma cadeira de pau, muitas vezes olhando para o alto e tentando descobrir porque busca tanto a luz aquela jaqueira que não cansa de crescer para o alto.
***
Sobre uma outra bruxa...
Ela não se deixa ser fotografada. Vaidosa que é, só permite que os fotógrafos em posse de instrumentos poderosos lhe captem um centésimo de sua beleza. Um centésimo sim, porque ela é mais bem vista a olho nu, de preferência associada a paisagens de sonho. Mas até mesmo por trás de edifícios imensos e ruas pobres ela não deixa a desejar, porque sua beleza é para todos – todos que sabem enxergar beleza num fio tênue, um contorno ínfimo que cobre apenas pouco mais de 90 graus de sua circunferência perfeita. É assim, hoje, a sua aparência. E só hoje será assim, porque amanhã esse fio já será maior e mais espesso e o certo é que a sua beleza se altere no decorrer dos dias, como se altera a beleza dos dias que antecedem as noites em que ela sai, por vezes despida, por vezes toda vestida como uma senhora recatada. Não esqueço dos dias de sol intenso em que ela, mais bem disposta, divide com o astro-rei as imensidões do céu. É difícil competir com ele, e por isso, muitas vezes ela não é sequer notada. Já nas noites em que sua resplandecência é mais intensa, é só ela quem brilha. Rainha da Noite. Isso é o que ela é, indiscutivelmente.

Acabei de vê-la, acabei de lançar lentes de zoom ínfimo sobre ela. Mas ela nem deu o ar da graça no meu visor. Quem mora por essas bandas daqui, sabe de quem estou falando. E, se olhou para o céu hoje, no cair da tarde, já tem a foto que eu precisava para ilustrar este post.