Com a navalha no pescoço (isso não é uma metáfora)
A primeira faz tchan, a segunda… a segunda quase que não faz. A mão do barbeiro cheirava a cigarro, aliás a visão geral não era das melhores. Mas eu, que jamais tinha ido a um barbeiro, achei que barbeiro, por ser barbeiro e não cabeleireiro, devia ser assim mesmo.
O que ele tinha nas mãos não era uma navalha. Era a minha vida. Eu nunca tinha feito a barba em qualquer outro lugar que não fosse o meu banheiro, com qualquer outra pessoa segurando a arma na mão que não fosse eu mesmo. Portanto, o único risco que tinha corrido até aquele instante foi o de ter um surto suicida e cortar o meu próprio pescoço, o que, como vocês podem notar, nunca ocorreu.
- Você é neto de seu Arisitides, né?
- Sou, - respondi inocentemente.
- A esposa dele faleceu, né?
- É, era a minha vó.
- A velha era gente boa. Eu me lembro, morava logo ali em frente.
Ele manuseava a navalha a centímetros da minha jugular como se manuseia uma caneta, um espanador ou um objeto inofensivo qualquer. Eu já começava a achar aquela conversa estranha. Certamente não era hora daquele cara cujas mãos que fediam a cigarro portavam uma navalha afiadíssima na minha garganta usar palavras do tipo ‘faleceu’ ou ‘morreu’. Escolha lexical inapropriada, definitivamente.
Não achei que eu poderia começar a tremer. Mas não deu outra.
- Te reconheci. Já sei quem você é. – disparou, com a lâmina nos arredores da minha traquéia.
Definitivamente é agora. Ele me conhece de algum lugar, sei lá, fui criado nas redondezas, ele pode até ser um desafeto meu de datas esquecidas. Mas a mão esquerda dele segurava a minha testa e a direita tinha vocês sabem o quê. Além disso eu tremia. Não havia escapatória.
- Você é filho da pró Lia.
- I-i-i-sso. – falei, mexendo, o mínimo possível o rosto.
Bem, se não for agora por algum mal que eu fiz, será por alguma vingança contra a minha mãe. Ai que saudade do meu Mach 3.
- Quer que passe de novo a navalha pra ficar mais rente?
- Rente? N-não. Não precisa. Me empola. – queria sair dali o mais rápido possível.
- Então tá terminado.
O que ele tinha nas mãos não era uma navalha. Era a minha vida. Eu nunca tinha feito a barba em qualquer outro lugar que não fosse o meu banheiro, com qualquer outra pessoa segurando a arma na mão que não fosse eu mesmo. Portanto, o único risco que tinha corrido até aquele instante foi o de ter um surto suicida e cortar o meu próprio pescoço, o que, como vocês podem notar, nunca ocorreu.
- Você é neto de seu Arisitides, né?
- Sou, - respondi inocentemente.
- A esposa dele faleceu, né?
- É, era a minha vó.
- A velha era gente boa. Eu me lembro, morava logo ali em frente.
Ele manuseava a navalha a centímetros da minha jugular como se manuseia uma caneta, um espanador ou um objeto inofensivo qualquer. Eu já começava a achar aquela conversa estranha. Certamente não era hora daquele cara cujas mãos que fediam a cigarro portavam uma navalha afiadíssima na minha garganta usar palavras do tipo ‘faleceu’ ou ‘morreu’. Escolha lexical inapropriada, definitivamente.
Não achei que eu poderia começar a tremer. Mas não deu outra.
- Te reconheci. Já sei quem você é. – disparou, com a lâmina nos arredores da minha traquéia.
Definitivamente é agora. Ele me conhece de algum lugar, sei lá, fui criado nas redondezas, ele pode até ser um desafeto meu de datas esquecidas. Mas a mão esquerda dele segurava a minha testa e a direita tinha vocês sabem o quê. Além disso eu tremia. Não havia escapatória.
- Você é filho da pró Lia.
- I-i-i-sso. – falei, mexendo, o mínimo possível o rosto.
Bem, se não for agora por algum mal que eu fiz, será por alguma vingança contra a minha mãe. Ai que saudade do meu Mach 3.
- Quer que passe de novo a navalha pra ficar mais rente?
- Rente? N-não. Não precisa. Me empola. – queria sair dali o mais rápido possível.
- Então tá terminado.
- Terminado? – meu Deus, tinha chegado a minha hora – Como assim terminado? – eu juro que ele me lançou um olhar sinistro.
- Acabou, pode levantar da cadeira.
- Ah, claro. Quanto?
- Três e cinqüenta.
- Acabou, pode levantar da cadeira.
- Ah, claro. Quanto?
- Três e cinqüenta.
Dei dez, ele não tinha troco.
- Volte depois e traga, conheço você rapaz, gente boa. Nem tem pressa. Sua mãe então, nem se fala, estudei na escola dela. Pró Lia é gente fina. Olha, diga a seu Aristides que quando vier do interior passe aqui pra fazer a barba, tem mais de dois meses que ele não aparece.
Ufa, ufa, ufa. Virei, em direção ao sol que brilhava lá fora. Vocês acham que a minha imaginação é muito fértil?