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sábado, 3 de fevereiro de 2007

[e há tempos]

É um daqueles dias em que o invisível prevalece sobre o visível.

Trinta graus. Uma fila enorme de pessoas com apetrechos na mão. Algumas, carregando apenas uma flor branca. Crianças, jovens, velhos. Uma travesti em vestido de gala. Uma senhora negra, enrugada, um sorriso de fé no rosto. Muita gente de branco. A fila não anda muito, e promete deixar as pessoas fritando ao sol por umas boas horas. O mar logo ali. O mar azul do Rio Vermelho. O mar azul da Dona do Mar.

O batuque encobre a cidade com um manto ancestral. Há séculos é o mesmo batuque. O retorno ao que sempre fomos tem a trilha das mãos que batem o tambor. O carro de som e o trio elétrico e o axé vieram bem depois, mas o batuque sempre esteve e sempre estará pulsando. Como um coração. Um coração antigo que, nessa festa, ainda não cedeu lugar às modernidades de infinitos decibéis.

O ar está pesado. Não um pesado ruim, mas um pesado que indica presença massiva. Presença etérea, presença de uma fé que não se explica. É preciso imaginar o olhar de um cético sobre aquela comemoração de filas enormes e de calor abafante, para se ter o contraponto da fé que move aquelas pessoas até o Rio Vermelho para oferecer a Iemanjá um flor, uma única e já agonizante flor, ou uma cesta com os mais belos presentes. É preciso não ser daqui para notar a grandeza da fé que transforma um bairro inteiro em um local de veneração. É preciso afastar-se, para entender o rumo das embarcações, o cantar ancestral das senhoras de branco, o onipresente odoiá, ecoando nas fitas, nas vozes roucas, nas falas novas das crianças, nos suspiros dos bêbados, no azul turquesa que tenta imitar a cor da morada da Deusa.

Não há medida possível que contenha o tamanho do que se vê. É como se o tempo voltasse, parasse, andasse de novo à frente, mas que ao final olhasse de forma tímida e dissesse que na verdade, ele mesmo, o tempo, não existe, e que tudo, tudo a que ele se resume, é à fé, ela mesma se explicando pela ausência dele, ela mesma presente desde não se sabe quando, talvez desde o nascimento do mar e de sua força, desde a formação do início de tudo, que não deixa de ser agora mesmo, quando tudo se renova com a reza quase inaudível do pescador que sai ao mar antes que o sol nasça, na mesma luta em que todos estamos para acreditar sem muito entender os caminhos da terra e do mar, que dão uma breve sugestão de onde estamos e para onde, pela fé, nos dirigimos.

(foto: Rio Vermelho, desde há tempos)