<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d8639429\x26blogName\x3dDi%C3%A1rio+Evolutivo\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dTAN\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://evoluirefluir.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_BR\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://evoluirefluir.blogspot.com/\x26vt\x3d-7690663095198134269', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>







segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

[na sola]

A vida é assim: você ama uma pessoa de paixão, de graça, quer vê-la feliz, vê-la, digo, ver mesmo, ali à sua frente, feliz, chorando de alegria e coragem no dia do casamento. Ouve falar desse casamento quase todos os dias dos últimos dois anos, é a minha amiga que vai casar, vai ser em Aracaju, mas vale a viagem, vê-la sorrir nesse dia vale mais que tudo. Sábado me despenco para a rodoviária, pego o ônibus que me levaria para a capital sergipana, são mais de quatro horas pela Linha Verde e pela BR-101, depois chega à capital dos cajus e das araras, pega ônibus urbano lotado, chacoalha a cem por hora nas avenidas de Aracaju, tudo vale, a minha alma está imensa mesmo, é Raquel e Pedrinho que se casam hoje, não posso negar que minha boca já pede o champagne, mas também não nego que meu coração pede um abraço nos dois, lembro-me - chacoalhando a cem por hora no busú, comendo milho assado, segurando os corrimões de uma mão só e arriscando a minha vida - que o casamento, independente de religião, é uma grande celebração da vida, e já previa meus lindos amigos na capela, na lapela dele um cravo e no coração dela amor e coragem imensos, chego à orla, onde estaria o hotel, ando mais de dois quilômetros, o terno está dobrado na mochila, o sapato está lá também, um frio na barriga toda hora que verifico mentalmente se não esqueci algo. Faltou o cinto, mas o paletó cobre, ninguém há de notar. Ligo para os amigos, às sete aqui no hotel, daqui a gente se manda, me visto, não falta nada, só faltou o xampu, o hotel não tem, mas vai assim mesmo, tô lindo.

Chegamos ao hotel onde está a família do noivo que é daqui de Salvador, vamos em comboio para a igreja, o comboio desaparece, ficamos nós e o pai do noivo em desespero, não sabemos onde é a igreja. Liga para o celular, paga o deslocamento, mais um pouco de deslocamento no carro e chegamos a uma capela, vai na frente o pai do noivo, entra na igreja, eu e os amigos chegando, sinto uma coisa estranha no pé, o pai do noivo diz que não conhece ninguém na capela, eu digo ao meu amigo que a sola do meu sapato soltou inteira, há apenas cinco míseros centímetros ainda grudados ao sapato, pai do noivo desespera por conta da ausência do familiares na capela, eu suo feito cuscuz no paletó, morri na praia, meu sapato agora é um jacaré, que fazer, meu Deus, que fazer. Começo a andar como quem não tem a dobra dos joelhos, entramos no carro novamente, vamos atrás da capela verdadeira, eu sem sola de sapato, o pai do noivo sem a capela. Pego um táxi, vamos atrás de um sapateiro, de uma padaria onde vendam cola, um menino de rua viciado, qualquer coisa, o senhor tem uma tacha? O taxista pára em uma padaria, super-bonder no pé, acho que agüenta, já fiz isso três vezes na minha vida de taxista, não se preocupe, até as três da manhã você agüenta, agora não dance muito, porque com dança eu não garanto até tão tarde, ok, serviço de táxi a três reais e ainda garante a sola do sapato. Entro na igreja, ainda não acredito que a sola está grudada aos pés, problema resolvido, olhar de cumplicidade com os amigos, tá tudo bem, ele entra, ela entra, sozinha, corajosa, eu choro, o padre manda ficar de pé, eu sempre estive de pé, não ia perder um minuto sequer daquilo.
Festa linda, velas suspensas, muito verde, bolhinhas de champange me roçando a língua, Raquel e Pedrinho grudados no glacê do bolo, ninguém quis o bolo, nem eu, minha taça não esvazia nunca, milagre dos bufês, sola firme no pé até as três, exatamente como previu o profeta do táxi, três e dez, agora é curtir a sola de jacaré, já é a hora-bagaceira da festa e as mulheres já estão todas descalças mesmo, tá na hora de ir embora, tô tonto, vamos pro hotel, entrei no carro com menos de cinco centímetros de sola no pé, com o jacaré querendo me morder a batata da outra perna, chega o hotel, a sola cai, pego-a com as mãos, escondo debaixo do paletó, não quero que o recepcionista veja aquele vexame todo, ele só vê minha cara feliz, boa noite senhor, bom descanso, obrigado.
(fotos no Lambe-lambe)