[de como creio]
Não acredito em você, não acredito nessa muralha nem nessas flores à minha frente, não acredito em suas palavras velhas e verdadeiras, não acredito nisso que vejo, nem tão pouco nisso que não vejo, não acredito nessa luz, nesse céu, nesse mar monstruoso, não acredito em amor à primeira vista, só acredito nisso que me faz feliz e que faz o meu coração bater como em doença de taquicardia, das mais sérias, que podem causar infartos fulminantes a cada minuto, a cada instante (só acredito na morte se ela me permite ressurreições espontâneas a cada minuto que me desfaço). Só acredito se de meus olhos flamejam uma verdade que é mina de ouro, que vem só de mim mesmo e que me constrói em muros fortes uma parede de cristal, por onde vejo crianças que eu fui brincando em desespero porque o sol já vai caindo e é hora de tomar banho e agora só amanhã. Acredito somente no que me faz espernear e dizer, mamãe, deixa eu brincar mais um pouco, sem sol mesmo, porque a minha paixão é tanta. Só acredito se tenho vontade de arriscar-me nos perigos do mundo: beijo em estacionamento, desliga a máquina e desce na banguela, arranca e leva todos os meus dentes. E até em mim só creio mesmo quando me olho no espelho e vejo os olhos que me amam em reflexos de clareza. É que até a mim mesmo só resta a crença provada pelos sentidos todos.
Só acredito em mim, quando estou triste e olho-me no espelho e me vejo sorrindo.
Só acredito em mim, quando estou triste e olho-me no espelho e me vejo sorrindo.
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(nessas flores lindas pintadas por Diego Rivera eu acredito)