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sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

[a muda antonia]

Quem acompanha este blog se lembra do dia que a minha faxineira sumiu. Digo ainda que desde aquela época ela nunca mais voltou. Passei um tempo fazendo, eu mesmo, a faxina do meu quarto e depois apareceu uma outra, com a qual estou até hoje. O nome dela é Antônia. Me impressionou desde o primeiro momento por ser robusta, energia boa, disposta. Quis logo levar dois dos meus edredons para lavar em casa, Gosto de trabalhar pesado, dizia ela, Mas Antônia, por favor, leve pelo menos o sabão em pó, Que nada seu Leo, isso é besteira*. Levou uma vez apenas. Não deixei mais, por achar injusto. Bem, mas não é sobre a generosidade de Antonia que me ponho a escrever essas linhas, nem tão pouco porque Antonia tenha sumido. Algo sumiu, e este é o motivo deste texto, e esse algo foi a voz de Antonia.

Antonia calou-se quase que por completo. Há um fio de voz apenas, com o qual ela se comunica com quem está a um metro de distância. Se estiver mais longe, Antonia abusa dos gestuais, dos ‘psius’ e dos assovios. Desde que ela ficou afônica – por conta de hipertireioidismo – nunca tinha passado uma sexta inteira com ela acompanhando a faxina. Hoje aconteceu, tive de ficar em casa para preparar uma festa para o pessoal da escola onde ensino, que vai acontecer aqui. Pois bem, logo de manhã estava sentado ao computador e Antonia despencou escada abaixo, com todas as roupas da semana passada que haviam secado. A escada é muito íngreme e ela não se dispôs a dar duas viagens, de maneira que formou uma montanha de roupas que lhe impedia a visão. Não se ouviu um grito sequer, apenas um barulho de gente que despenca da escada. Preocupado, perguntei se estava tudo bem e ela, com gestos, disse que sim.

Mais tarde, enquanto lavávamos o pátio, notei que Antonia havia desaparecido. Procurei, procurei, procurei, para só depois de alguns minutos notar que ela estava trancada do lado de fora do portão da casa, mas eu, distraído, jamais imaginei que era ela lá fora me implorando que abrisse o portão. O silêncio de Antonia custou-lhe um exílio de minutos, sob o sol das três, e uma culpa minha aqui dentro.

Disse a ela que quando fosse encerar o pátio me chamasse. Tranquei-me no quarto e esqueci de Antonia, de sua voz muda que me gritava em desespero, outra vez apelando para vários assovios e ‘psius’ que meus ouvidos não captaram. Mais uma vez, a culpa. E só lembrei-me do pátio quando ouvi a vassoura de Antonia. Mais poderosa que a sua voz.

Não sei se depois de hoje Antonia ainda vai me querer como parceiro de atividades domésticas, vai achar melhor fazer tudo sozinha mesmo, mas eu não tenho porque não querer Antonia por perto: silenciosa, me lembra de uma empregada de um conto de Clarice, que era mineira e nunca dizia nada. Antonia, pelo menos enquanto estiver muda – o que eu torço, para o bem dela, que não dure muito – será a melhor das faxineiras. Um túmulo, por assim dizer.
* com a licença de Saramago.