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sexta-feira, 10 de junho de 2005

Nossas irmãs, as baratas


A aventura dela pela sala dos professores durou segundos. Primeiro houve o grito, um pulo e... ploft: a pobre barata era uma defunta. Mortinha da Silva. Tenho a curiosidade de descobrir se a barata, morta ou viva, é um ser frio – falo da temperatura mesmo. Porque a gente fala em sangue de barata quando se refere às pessoas mais frias, calculistas. Por isso a curiosidade: será que a defunta, na hora exata em que tirei a foto, estava gélida ou quente? E a gosma que deixou na sandália do bravo colega assassino, era aquele o seu sangue? A essas perguntas jamais poderei responder, porque o meu instinto de sobrevivência não deixou que eu a tocasse. Nem de longe. O máximo que consegui foi bater uma foto e me inspirar para escrever isso.

A barata que faleceu hoje, cuja casca grossa e negra me fez concluir a sua idade e conseqüentemente o seu grau de experiência principalmente com relação aos humanos - que quando não gritam e fogem dela, atiram de longe pedras ou partem para cima com chinelos, tamancos, sapatos e afins - não deveria ter se arriscado tanto: aventurou-se por uma sala clara, de pisos igualmente claros, limpos, cheios de longas pernas humanas e corpos robustos sobre elas. As baratas estão certas em viver enclausuradas em seus buracos, esperando brechas. Baratas normais e cautelosas fazem isso, mas aquela de hoje precisou sair antes da brecha - que mais cedo ou mais tarde seria dada com o silêncio ou o apagar das luzes - e precisou se expor na pior hora, arriscou-se no mundo no momento menos oportuno. Certo que baratas não têm relógios ou noção de tempo; mas elas se guiam pelo barulho e pelo cheiro, e é por isso que cada vez eu entendo menos a aventura a que aquela barata se propunha àquela hora e em meio a tanto barulho e gritaria.

Quem terá sido a sua maior inimiga: a pressa ou a necessidade? Terá sido por amor ou por pura imprudência que ela se atirou praticamente aos pés do matador? Não pareceu aos meus olhos um gesto suicida, porque ela corria desesperadamente em diagonal, e via-se no seu correr que ela tinha claramente um objetivo, que era chegar ao outro lado. Foi exatamente o outro lado que a matou, foi a sua cegueira, a sua ansiedade. As baratas, como nós, precisam saber a hora exata de sair da toca se quiserem preservar a existência.

Vou dormir e rezar por mim e por você, baratas velhas, pré-históricas, promessas vivas de outras vidas, promessas andantes de outras encarnações. Podem vir as bombas, as guerras, as desilusões de amor, pode vir tudo, porque a única certeza que temos é que nós e as baratas – não essa que hoje morreu, aqui falo apenas das mais prudentes – ficaremos para ver as cinzas, o renascer de tudo, o reinício do ciclo. Atravessaremos várias salas. Algumas vezes com o percurso interrompido por uma chinelada, outras com a chegada ao lado oposto garantida pela sorte ou bondade de alguém, outras vezes colocaremos apenas um pé para fora e, prudentes, nos recolheremos antes mesmo do risco. Mas em todas as vezes seremos apenas baratas. Velhas. Pré-históricas. Medrosas, mas eternas.