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quinta-feira, 2 de junho de 2005

Paralelos


(a pedido dele, um paralelo...)

No Capão as pessoas olham nos olhos, sentem o seu calor e cumprimentam. Em Lençóis, a correria do turismo, a necessidade do encontro, a vontade de ir mais longe atrapalha os passo, insensibiliza, trai a si mesmo e a fonte do sustento. No Capão, as cachoeiras são mais distantes, mais virgens, medita-se a todo instante, encontra-se sálvia a poucos metros do que chamam de vila. Em Lençóis, percorrem-se montanhas para chegar até as sálvias. No Capão, já estamos nas montanhas, no alto, no isolado. O rústico é a palavra de ordem, não vale se não for orgânico, se não for do pé, se não for brotando do solo direto pra mesa. Em Lençóis, começam a surgir resquícios do não-ligo-mais-para-o-natural, quero-é-o-rápido, o-que-dá-retorno, o-que-não-só-sustenta-mas-dá-o-luxo. No Capão é mais frio, mas as pessoas são mais quentes. No Capão tem menos pousadas, mas as que tem parecem ter portas mais abertas, mais escancaradas. No Capão, os gatos deitam à rede comigo, deixam-se alisar, até dormem no conforto quente que apazigua o frio. Em Lençóis, os gatos fogem. No Capão tem Glória e seu amor por Teka, tem palestra com americano ligado em chacras, tem contradições sim, ah como tem, mas elas se harmonizam em um ponto qualquer do percurso, somem pelo excesso que há de harmonias. E em Lençóis, claro que ainda tem Jane e café da manhã delícia, tem o Ribeirão, que mesmo que tentem esconder dos que não querem guia, continua lá, cheio de água e com pedras cada vez mais lisas, escorregador cada vez mais perfeito.
Em Lençóis tem um passado meu, de há quinze anos atrás, tem filé a parmegiana no Grizante, tem o homem de um braço só que faz esculturas de areia em garrafinhas, tem a Prainha e eu ainda me vejo lá, lendo livros inteiros deitado à sombra daquela mesma árvore. Tem uma vida minha em Lençóis, tem a lembrança das minhas fugas de Salvador na sexta à noite– “que loucura ir pra Lençóis passar dois dias...”-, quando só minha mãe sabia do meu paradeiro, tem Matthias, tem Daniel, Ieda, eu de cabeça raspada pela primeira vez na vida, iniciando em Lençóis vida nova depois da correria do vestibular. Precisei viver 15 anos de Chapada para ir ao Capão e descobrir que Lençóis já foi assim um dia, como ele, e que eu queria muito, meu Deus, queria de verdade, que a civilização, este estado de espírito, nunca chegasse àquelas bandas.
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(Mas fazer o que se o que havia era apenas o que estava lá, aparentemente parado, estático, mas com uma movimentação interna perceptível apenas a olhos que quisessem parar com mais cuidado e arriscar-se a descobrir as entranhas daquele movimento?

Sentei-me diante das águas negras – negras de tanta matéria orgânica – e comecei a notar que a água, apesar de passar, era exatamente a mesma água do ciclo. Ela já havia passado por ali, arrastado pessoas, galhos, plantas, criado limos, limbos, alisado pedras. Era sempre a mesma água. A mesma imprudência, a mesma entrega, a mesma ousadia. A água que separada em goles na boca é transparente, mas que junto a mais água transforma-se em um buraco negro, misterioso. O mistério da água acaba quando, com mãos em concha, pegamos um pouco dela e observamos. Seu mistério acaba, quando, através dela, podemos ver, nas linhas e sulcos das palmas das mãos, os mistérios e os traçados da nossa própria vida. )