Virando a esquina
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Existem muitas histórias paralelas relacionadas às minhas iniciações que merecem posts isolados e que com certeza pipocarão um dia na tela do seu computador. Hoje, no entanto, escrevo essa introdução enorme para voltar ao tema da segunda-feira, um tema que, mesmo para quem está em contato com a crença na sobrevivência do espírito há tantos anos como eu ainda é angustiante: a morte.
Em teoria, ela não existe. Na prática, a gente vê e sente. E nesses dias em que a minha família inteira está tão próxima dessa energia, não faltam discussões acaloradas sobre o tema. Todo mundo fala e repete para si mesmo que a morte não existe como se, num coro, tentassem convencer a si mesmos da verdade que essa frase representa. É o choque entre a crença cultural, enraizada em todos nós através do medo da morte e de tudo relacionado a ela, e a crença no Espiritismo, relativamente recente, especialmente entre os mais velhos, como meu avô, que passou a dar importância a essas verdades depois que minha avó se foi, há apenas dois anos e ainda me elegeu como 'consultor para assuntos espirituais' (engraçadíssimo, dá até um post).
Tento encarar esses dias com naturalidade e é por isso que não me encabulo em escrever aqui para vocês sobre esse assunto que, eu sei, é rodeado de tabus. Peço licença e desculpas aos mais sensíveis, mas acho importante que a gente naturalize mais essas questões. Fico feliz em ver meus familiares discutirem as questões relacionadas à vida após a morte, hoje, com uma naturalidade que não seria possível há alguns anos atrás. Sinal de que estamos abrindo nossas mentes, alargando visões e, acima de tudo, colocando luz sobre um tema que, de tanto acobertado de mistérios, acabou adquirindo uma aura de medo. Namasté.
(Meu tio continua internado. Hoje tive o prazer de entrar na sala onde ele se encontra e ver que ele está com um semblante de paz, e rodeado de luz. Nele eu senti apenas uma alegria que a gente só sente quando está arrumando as malas para voltar pra casa e rever amigos de longas datas. Não contei a ninguém, mas ele sorriu para mim.)
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UPDATE - 11 da manhã
Cumprindo a previsão mais certa do destino de cada homem, meu tio, que ainda ontem me olhou com um sorriso enquanto fazia as malas, virou a esquina e partiu. Agora, invisível para nós que ainda habitamos mundos mais densos, ele segue sua jornada.