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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

Ângulos de Ângelo


"Vovó, o cotovelo da minha perna tá doendo demais"

(Meu sobrinho Ângelo - na foto - reclamando de uma dor no joelho e dando uma aula de anatomia pra qualquer médico.)

Desde que li a coleção de livros Conversando com Deus, tenho pensado muito no que seria educar de forma ideal uma criança. E eu acho que criança tem de ser tratada de igual pra igual, e quando falo isso eu quero dizer que criança tem de ser ouvida. Com criança se dialoga também. Com criança se contra-argumenta, com criança se diz não só "você está errado" como também "errei".

Ontem eu fiz com ele os deveres de casa. (Lembro que há tempos atrás eu ajudava meu irmão caçula com uma impaciência do tamanho do mundo. Hoje talvez esteja mais maduro, ou talvez até Ângelo seja mais esperto, mas o fato é que eu consegui ensinar tudinho sem perder a cabeça.) Ele invocou com a forma como o nome dele é escrito. Para ele, Ângelo Miguel não devia ter o u depois do g, afinal ele não pronuncia o u. Certíssimo.

- Ângelo, coloque o u depois do g.
- Mas Dindo, não tem u não. Eu digo Migél e não Miguuuuuuel!
- Eu sei, Dindo - eu também chamo ele assim -, mas é desse jeito. A gente fala de uma forma e escreve de outra.
- Mas eu quero assim.
- Dindo, nem tudo pode ser do jeito que você quer. Tem coisas que são do jeito que elas têm de ser e acabou.

Ele me olhou com uma cara de um-dia-vou-fazer-do-jeito-que-eu-quero-e-acabou e colocou o bendito e inútil u no nome. Me obedeceu, depois de uma conversa que envolveu argumentos inteligentes da parte dele e não tão inteligentes da minha parte. Apesar de ter claramente vencido a discussão, infelizmente teve de baixar a cabeça e engolir o sapo ali representado numa letrinha que ele tem de escrever, mas nunca pensou que existia no papel. E meu sobrinho, com 6 aninhos, já tem de engolir sapos. É assim a vida, fazer o quê?

***

Outro dia ele estava fazendo um exercício no qual pedia-se que ele desenhasse um cameleão da cor que ele quisesse. Vendo ele fazer o exercício, observei que ele fazia o camaleão com o mesmo lápis cor grafite comum com que ele fizera os outros exercícios de escrever. Achando que ele estava com preguiça e que deveria fazer um camaleão mais lustroso, colorido, disse:

- Dindo, deixa de preguiça e vai pegar seu lápis-de-cor para fazer um camaleão colorido.

- Eu não Dindo. Camaleão vive mudando de cor, e como esse está sentado numa pedra cinza, ele ficou dessa cor.

Calei. Mais uma vez, Ângelo estava certíssimo.

***

Sei que tem tios por aí que achariam que em diálogos como esses que eu tive com Ângelo, ele estaria me 'respondendo' ou 'desrespeitando' o que falo. Esses com certeza nem dialogariam, pegariam o lápis e acrescentariam o u lá depois do g sem muito papo (acreditem pois tem gente que faz isso mesmo). Ou desprezariam o inteligentíssimo argumento de que camaleão muda de cor sim e pode ser cinza, exatamente como a grafite do lápis. Criança tem todo o direito de argumentar mesmo e eu tenho, dentro da medida do possível, de tratá-lo com sensatez, contra-argumentando e fazendo-o sentir que a palavra dele tem força sim - logo ele pensa e é inteligente - e que, acima de tudo, tem alguém para ouvi-lo. Nem sempre apoiando, é verdade, mas sempre ao lado, cooperando e sendo justo.

***

Quem é leitor assíduo aqui sabe que minha mãe tem uma escola. Ângelo é aluno dessa escola, aliás como eu e meus irmãos fomos um dia.

Chego no pátio da escola e ele está em pé em uma das pilastras sujando a parede recém-pintada.

- Desça Ângelo. Não está vendo que a parede foi pintada não tem nem uma semana e que você ta sujando tudo? - disse, num tom de voz calmo, só pra ele ouvir.
- Mas Dindo, já tá sujo mesmo. Todo mundo sobe aqui. (indefectível, mais uma vez)
- Mas não é porque sobem que você tem de subir não. Você tem de ajudar a manter a escola onde você estuda limpa. Ao invés disso, converse com seus coleguinhas sobre isso. A responsabilidade em manter a escola limpa é de vocês.

Mais uma vez me olhou com aquela cara de um-dia-vou-fazer-do-jeito-que-eu-quero-e-acabou, mas obedeceu. Sei que se eu virar as costas ele sobe de novo. Coisas de criança. Mas como na realidade eu estou pouco me lixando pra parede, o que importa mesmo é o diálogo honesto que tivemos. Isso é o que vale.

Eu acredito que é assim que surgem adultos sadios, dispostos a mudar o mundo - ou aceitar o que não pode ser mudado -, mas acima de tudo adultos que argumentam e discutem os fatos da vida. Quero Ângelo me 'respondendo' sempre. Mesmo porque eu nem sempre tenho de estar certo e sei que ele pode me ensinar muitas coisas, principalmente lições sobre ingenuidade e beleza das coisas. Detalhes que depois de adulto a gente insiste em esquecer. Por isso é bom ter crianças por perto: elas nos ajudam a relembrar que a vida pode ser simples assim. Basta a gente ver por um ângulo diferente.