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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

[acorda, alice]

Alice sempre fora mitômana. A realidade lhe parecia ser muito pouco. Desde criança, sempre teve os amigos imaginários, que não desgrudavam dela um só segundo. Eles não só freqüentavam a sua casa, mas ela também ia até a casa deles. Ou seja, além de amigos imaginários, Alice também criava lugares imaginários e realidades paralelas e que eram só suas. No início estava tudo bem. Pais compreensivos, conhecedores dos caminhos da infância. E ter amigos imaginários fazia parte.

O problema é que Alice cresceu, e os amigos, os lugares, as histórias, as saudades, continuaram ali, na sua imaginação. O seu último namorado-alucinação morava na Espanha, e ela se trancava em casa dias a fio, para só depois contar suas aventuras em Madri aos poucos amigos reais que tinha. Os amigos, por serem amigos, fingiam que acreditavam, e chamavam Alice para a farra. A farra real, daquelas em que os pés doem e a cabeça explode de ressaca no dia seguinte. Umas doses extras de vodka e de realidade não fariam mal a Alice.

E foi numa dessas farras que Alice conheceu Leo. Um Leo de carne e osso. Ali, aos pés de Alice, derretendo-se inteirinho só de vê-la pela primeira vez. Ela olhou para ele nos olhos, olhou nos olhos dos amigos ao redor. “Não tinha como fugir”, ela pensou – “todo mundo está vendo. Ele é real”.

Os olhos de Alice faiscavam, mas ela olhava para os lados meio que envergonhada. Faltava-lhe coragem. Com um olhar, aceitou o convite de Leo para dançar, mas não conseguia ceder ao toque dele, não havia ritmo na sua dança. A dança que fazia mexer o corpo de Alice só tocava em seus ouvidos, e Leo perdeu o passo. Desde a primeira noite, os movimentos dos dois se desencontravam e ele sabia o porquê.

É que a dança de Alice só tocava em sua própria cabeça. E depois de alguns meses juntos e de muitas conversas, em que Leo insistia que os dois precisavam viver em uma realidade criada pelos dois, e não apenas naquela ilusão que Alice desenhava com tintas tão frágeis para ele. Leo já estava cansado de dizer-lhe que era ela quem deveria vir para o mundo dele, e não ele que deveria ir para o dela.

- Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano! – ele insistia, mas não adiantava. Para Alice, o caminho para a realidade era impossível. Viver naquele mundo de pedras duras no chão, de beijos que acabavam, de contas no fim do mês, tudo isso era demais para Alice, e ela não queria acordar. Era a Bela Adormecida às avessas, a que quer e pede ao príncipe que morda junto com ela a maçã envenenada.

Como seria então, para ele, romper com isso tudo? Como seria dar as mãos a Alice, dividir a maçã, aceitar o convite para fazer a passagem? Era preciso coragem, fé e um coração batendo forte. Com tudo isso, e uma pitada de instinto, Leo pegou, nas mãos de Alice, a outra metade da maçã. Arriscou uma mordida, e viu Alice sorrir. Outra mordida, e viu seus olhos brilharem um brilho estelar. Mais uma mordida, e Alice lhe abria braços longos, que diziam venha até mim. Deu a última mordida e já se via, ele mesmo, deitado nos braços de Alice, que já havia perdido todas as roupas e, nua de tanta realidade, ensaiava com ele uma dança que ecoava, agora, no ouvido dos dois e fazia-os dançar, dançar, dançar...