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sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Dois meninos

É setembro e os cheiros de camarão seco, quiabo e dendê se espalham no ar da cidade, se espalham aqui mesmo, dentro da minha casa, misturado ao riso de alegria dos gêmeos santos. Minha mãe esta em pé em uma cadeira, porque o caldeirão de caruru é grande demais para ser mexido do próprio chão. Antes disso, ela fez um mutirão de pessoas com facas em punho para cortar as centenas de quiabos. Ela desce de quando em vez da cadeira para engrossar com farinha do reino o vatapá. A galinha ainda não está pronta: banha-se toda em um caldo de temperos, mas estará, inevitavelmente, à noite. Aqui em casa não colocam dedo de anjo no caruru, não tem pipoca nem banana da terra frita pra acompanhar. Não tem rapadura, quem quiser que traga de casa. Não tem farofa de dendê, mas tem arroz branco, soltinho como só se vê nas festas – é que em dias comuns às vezes ele gruda.

Olho agora e vejo quatro ou cinco caldeirões de meio metro de altura cada, parece até que vem um batalhão de gente pra cá, parece que minha mãe é uma bruxa, naquela sala fumegante, repetindo passo a passo a receita dos nossos ancestrais, reverenciando – até mesmo sem saber ao certo – uma tradição de séculos e séculos.

Aí eles chegam, os chamados, se entopem de dendê, colocam mais que agüentam comer no prato – em épocas de abundância os olhos crescem – e depois vão embora, buchos os mais cheios possível, para garantir que depois, quando tudo que está ali dentro inevitavelmente se esvair e os roncos do estômago começarem a incomodar, possam ter a certeza de que comeram o máximo que puderam ontem, quando a abundância despertou a gula, que por sua vez fez encher demais a barriga, mas que não durou muitas horas, como tudo que só acontece em uma noite só, em um mês designado pelas tradições, em um ritual que não se sabe de onde vem.

(Tradição que é tradição enche a barriga até a borda e deixa saudade no outro dia, deixa a vontade no ar, vontade de que seja logo setembro, vontade de que a bruxa suba logo no caldeirão e faça fumegar de novo os ingredientes todos postos juntos na grande panela, enchendo o ar com esse cheiro de antigos setembros.)