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quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Sobre as baleias perdidas

No último dia 4, uma baleia jubarte encalhou na Praia do Jardim dos Namorados, Salvador-BA. Ao que tudo indica, ela já chegou morta ao local de onde só seria retirada mais de 72 horas depois, em estado de putrefação, cortada em três enormes pedaços que foram atirados ao relento no lixão da cidade.

A baleia perdeu as referências e morreu encalhada na praia. Chamou a atenção de curiosos que faziam filas imensas para vê-la ali, encalhada, morta, perdida, exposta ao ar seco que lhe racharia a pele em horas e faria com que o cheiro se espalhasse, onipresente, pelos bairros antes refrescados pela suave brisa do mar.

A baleia, em algum momento de seu percurso, se perdeu, se desviou, se desencontrou de si mesma. Perdeu a rota, a corrente que possivelmente a levaria para uma ilha aonde vão todas as baleias, todos os anos, se reproduzir. Mas no caminho, ao invés disso, pegou a onda errada, o atalho que a levaria à morte. Sim, a baleia morreu, e ao ver tanta carne amontoada na areia, inerte, peso resistente a tratores, rebocadores e helicópteros, pesada a ponto de não poder ser retirada senão em três pedaços, não tem como não lembrar que se o monstro negro veio parar no seco da areia é porque ela perdeu as referências, o guia, a bússola.

Perdeu-se das outras baleias, caiu no fundo do mar a agulha magnética que a levaria para o seu norte, o paraíso onde filhotes imensos sairiam já gritando das suas vaginas de baleias, igualmente imensas. Não vieram as crias. A vida trocou o espetáculo dos filhotes pelo espetáculo da baleia morta na areia, depois esquartejada, arrancada e jogada ao relento para alimentar os vermes.

Mas não sejamos pessimistas. Certamente não é a nossa intenção aqui constatar que toda a vida da baleia não deu mais que um texto triste sobre a sua morte, mas relembrar a todos que, como as baleias, às vezes podemos perder as referências – e entendam referência aqui como quiserem, eu bem sei quais são e sempre serão as minhas – e passar do limite mínimo de profundidade no qual podemos sobreviver, ou simplesmente avançar pra lá dos arrecifes, nos encarcerando entre a areia e as pedras, entre o céu e a areia, morrendo por fim.

É que deveríamos ser daquelas baleias cuja bússola está sempre apontada para a melhor corrente, das que se mantém afastadas seguramente dos arrecifes e entende que aqui no raso, onde estamos nós, falta ar, falta o mergulho por entre cardumes, falta o esguicho mais rico que petróleo que sai das costas dando um banho no próprio mar. Que aqui na aridez do raso não tem muito o que ver quando olhamos para baixo. A areia está logo ali, igual, sem vida, e que o máximo que se pode fazer aqui no raso, onde a água sequer cobre os joelhos e morre-se à míngua de tanto ar que falta, é cavar um buraco para ver chegar mais água e, quem sabe, encontrar a vida subterrânea. A mesma vida que se encontra escavando as profundidades abissais onde nem as baleias resistem, ou escavando, como criança, a beira do mar, usando os grãos molhados para construir frágeis castelos de areia.

(post que dedico às minhas bússolas, às correntes que me levam por aí, às vezes aparentemente sem rumo, mas sempre com a agulha magnética fortemente apontada para o meu norte. Que me perdoem as minhas correntes pela ignorância que às vezes me faz parar no raso e achar que dali não se sai nunca, mas morre-se, como morrem as pesadas baleias. Agradeço porque elas, as minhas correntes, sempre me fizeram descobrir uma leveza que me pôs de volta à profundidade das marés e me devolveram o rumo que me levaria ao encontro de mim mesmo nas antigas ilhas onde filhotes imensos nascem gritando das enormes vaginas das baleias, fechando e abrindo os ciclos constantes da vida.)