Entre
Vivo entre o livre e o hermético,
entre o que dilata e o que delata,
entre o que seduz e o que reduz,
entre o que vive e o que só sobrevive.
Vivo entre palavras e acentos agudos,
entre luzes e reflexos de uma grande árvore centenária.
Vivo entre o meio e o fim da seta
– vivo na margem primeira que toca a sua reta -,
entre o rato e seu esgoto,
entre o que esgoto e o que absorvo.
Vivo preso entre o que me dás e o que me tomas,
Entre o que em mim acolhe e o que em mim te detona,
entre a bomba e a pólvora,
entre a caixa e o fósforo.
Sou fiasco e chama,
ardores e bálsamos,
credores e devedores.
Sou quem dá e depois toma,
sou quem liberta e depois põe em arredoma,
quem dilata e depois deleta,
quem seduz e depois reduz,
deduz,
induz.
Sou eu quem repete a frase
E depois esquece
Quem volta ao início e
Nem vê que merece
Eu sou eu mesmo que vive entre esses dois lados
que não são opostos,
porque não deixo,
que não são ferozes
porque não é assim que desejo,
que não são mais nobres,
porque neles me vejo.
Te prendo aqui,
entre estes dois critérios que crio,
isento
(E daqui só sairás quando eu mesmo liberar o vento.)