<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d8639429\x26blogName\x3dDi%C3%A1rio+Evolutivo\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dTAN\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://evoluirefluir.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_BR\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://evoluirefluir.blogspot.com/\x26vt\x3d-7690663095198134269', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>







quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Enganos

Engana-se quem acha que se passa deste mundo sem um aperto no peito, uma dor qualquer, um sorriso esmagado. Engana-se quem pensa que não há remédio para qualquer dor ou que não há ferramentas que consertam sorrisos.

Engana-se quem pensa que o caminho é sempre em linha reta, que a cor é sempre azul, que o sol não se põe nunca. Engana-se, igualmente, quem pensa que curvas não descortinam novas paisagens, ignora que um arco-íris é uma chuva feliz de cores e quem não lembra que quando aqui se faz noite é dia em outro lugar do mundo, ou que as estrelas são sóis distantes fazendo força para substituir o astro-rei por algumas horas.

Engana-se quem pensa que na vida não se ouvem ‘nãos’, que as pessoas são sempre estáveis em seus gestos e que a juventude é eterna. Engana-se, igualmente, quem não consegue ver amor em uma resposta negativa, quem ama as pessoas pelas suas estabilidades e quem não se alegra por saber mais a cada ruga que encontra e conta no rosto.

Engana-se quem não vê os dois lados, quem se prende em uma nuvem cinza quando há um arco-íris lá fora, quem esquece de envelhecer a cada dia com dignidade e fazendo valer cada hora. Engana-se quem cobra do mundo uma resposta, um abraço, um obrigado. Engana-se quem acha que o mundo precisa de algo, ou lhe nega algo.

Enganamo-nos todos nós, por vezes, às vezes, todas às vezes. Engana-se quem acha que enganos não acontecem, engana-se que acha que nunca se enganou ou foi enganado. Engana-se quem acha. Sem engano algum, achar já é o maior engano.

Isso tudo, se eu não me engano.

:::

Enganei-me quando achei que aquela senhora diante de mim era mais uma aluna desatenta, relapsa, que passava a aula inteira olhando através de mim e não para mim. Durante a aula perdeu o ‘x’ da questão várias vezes e teve de contar com a paciência das colegas para entender o que se passava.

- Leo, ao final da aula preciso falar com você.
- Tudo bem, podemos falar sim.

Ao final da aula, sentamos um de frente para o outro, eu com todo o tempo do mundo para ela, ela com todo o tempo do mundo para mim. Lá vêm as explicações, pensei, mas ela foi direto ao assunto:

- Você tem notado que eu não acompanho o ritmo da turma?

Perguntas diretas merecem resposta igualmente diretas:

- Sim. – os olhos dela não baixaram ligeiramente como baixam os olhos dos que puxam uma conversa como essa buscando um ‘não’ como resposta, ou seja, um elogio. Ao contrário, brilharam. Já tinha em mim um cúmplice. Pelo menos eu já reconhecia nela uma dificuldade. Reconhecer é o primeiro passo. E nós dois reconhecíamos o problema.

Me explicou que teve um AVC há sete anos e que, desde então, tem tido muita dificuldade em raciocinar, que perdeu memória, perdeu parcialmente a acuidade visual e que vive à base de medicamentos.

- Os médicos dizem que se eu parar de usar a mente, ela pára. Por isso faço tantos cursos.
- A mente de qualquer um de nós, sem uso, pára, B. Não é só a sua. – respondi, já no intuito de colocá-la no rol dos ‘normais’, afastando o peso da doença.
- Mas meu caso é especial, Leo, e você como meu professor tinha de saber disso.

Assenti, e continuamos a conversa, eu sempre tentando estimulá-la de forma positiva. Surpreendentemente, não foi nada difícil. B. é o otimismo e a força positiva em pessoa. Me deu um abraço ao final da conversa, disse que nunca consegue fazer bem os testes, ao que eu respondi que ela teria, especialmente, três horas para respondê-los (os outros alunos têm apenas 1h40). Dito isto, me abriu um sorriso de tem-alguém-me-ajudando-a-vencer. Me controlei para não chorar, porque as lágrimas vieram com força. Os olhos de B., igualmente mareados durante o abraço, não escondiam a força e a confiança na vida que muitas vezes faltam em mortais felizes e plenamente saudáveis como nós.

É isso, meus irmãos, ser professor é um presente da vida.