<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d8639429\x26blogName\x3dDi%C3%A1rio+Evolutivo\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dTAN\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://evoluirefluir.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_BR\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://evoluirefluir.blogspot.com/\x26vt\x3d-7690663095198134269', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>







segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Cócegas de anjo

O sol ainda não tinha se levantado quando eu fui interrompido no meu sono por umas palavras que jamais lembrarei de novo. Senti cócegas nos pés e por um instante achei que era uma galinha. O toque era de penas. O mais provável, se meu travesseiro não fosse recheado de uma fibra confortável - mas extremamente inflamável -, seria a possibilidade de ter voado uma pena de ganso de dentro de um travesseiro (de onde mais surgiria uma pena no meio da noite?) que voou, voou e veio roçar os meus pés, em um carinho extremamente inapropriado pela hora: eram quatro da manhã.

A sensação de uma pena roçando os meus pés continuou, ainda sinto até agora. E das palavras que me vieram à mente, numa velocidade de pedras rolando montanha abaixo, ficaram apenas três: anjo da guarda. “Esse texto é sobre anjos da guarda”. Era isso, lembro agora de uma frase inteira.

Era um pedido de mim para mim mesmo, talvez. De meu anjo para mim, talvez. Um sonho, uma intuição, não sei. Mas como creio muito nos anjos, apesar do tempo mirrado que me resta para os escritos pessoais nestes dias de atribulações acadêmicas, achei por bem seguir a intuição e respeitar as cócegas nos meus pés. Afinal, não é sempre que um anjo desce à Terra e se dá ao trabalho de, às 4 da manhã, roçar suas penas nos pés imundos de um simples mortal.

:::::::

Não sei das asas, meus queridos anjos, mas sei da luz que vocês irradiam. Dizem que se olharmos para o alto e pararmos os olhos em um lugar fixo, os pontos de luz que piscam são anjos indo e voltando nos seus afazeres angélicos. Sem asas, mas a leveza da luz fazendo-os flutuar, livres, no espaço que nos rodeia. Eles vêm e vão, insaciáveis no trabalho. Anjos são seres que vêm à Terra para prestar serviços aos que se dispõem a abrir-se para a luz que nos trazem.

"Todo mundo tem o seu", sempre disse a minha mãe. "Reze para ele antes de dormir". "Toda criança é protegida por seu anjo da guarda". Eu ainda sou protegido – sei disso com uma força cuja intensidade vocês nem imaginam - e olha que deixei de ser criança há um tempo. Mas, confesso que eu mesmo, por vezes, deixo-os ir. Tento não perder a abertura, o gesto que os atrai, o suco que lhes alimenta a vontade de servir.
Anjos só se aproximam quando sentem leveza no ar. Quando o ar pesa ao nosso redor, quando caímos e nos tornamos meros seres inconscientes, criamos grades poderosas, nos trancamos dentro delas com todos os problemas e o que eles trazem junto, e acabamos por rasgar o convite dos anjos à festa da vida ao nosso redor. Eles não conseguem passar pelas grades, não há mais festa alguma. Tristes – e anjos tristes não formam uma visão agradável, podem acreditar –, vagam, vagam, procurando a leveza. Às vezes pairam sobre jardins, pelo oceano, sobem e descem, sentindo-se inúteis.

Bobos, nós, quando afastamos os anjos. Tanta ajuda, tanta luz disponível e nós os dispensamos, cegos. Às vezes deixamos uma brecha e eles roçam nossos pés, como que num pedido de atenção. Nem galinha, nem ganso. Anjos apenas. Alados, flutuantes, enormes. E só pairam sobre nós quando o que criamos, através de nossos atos, palavras e pensamentos, é a reverência à Vida.

Fiquem atentos, portanto. Eles pairam por aí sempre e, quando a solidão angelical fica insuportável, muitas vezes nos aparecem na forma de um sentimento ou de uma demonstração física rápida e sutil: às vezes na forma de uma vontade de (se) ajudar, muitas vezes numa vontade de chorar um choro abafado, outras em uma ‘esperança inútil’, como dizia Clarice, outras em um olhar que não cansa de inclinar-se para dentro, e outras apenas com um leve roçar de penas nos pés às quatro da manhã.

Não deixe seu anjo sozinho, pinte um arco-íris e abra um sorriso. Isso vai tornar você e ele melhores amigos.

Namasté.