Com a benção de Olorum
O ano era 1976, e os quatro baianos estavam na estrada. Cada um com uma peculiaridade. Dois compositores de mão cheia e duas intérpretes de gogós afiados. Uma, rústica, forte, enérgica, com 'erres' bem pronunciados e força facial expressiva. A outra, doce, suave e sensual como a sua própria voz . Os quatro ainda estão vivos e atuantes. Os quatro já passam dos sessenta, provavelmente.
Naquela turnê, quando passavam por Floripa, um deles, o negro que hoje é ministro, foi preso. O que se vê no documentário, entre outras pérolas, é o olhar sarcástico do compositor de 'Abacateiro' ao ouvir o juiz definir a sua pena por porte da 'erva maldita', é a impaciência da irmã do outro compositor - o que não fora preso - ao ser inquirida, de bobs e em pleno ato de maquiagem, acerca da ausência de envolvimento político do grupo. Em outra cena, o irmão dela solta o verbo - ou não. Em uma outra, a de voz fina abre o gogó e as pernas, delineando uma genitália robusta, talvez ainda mais avantajada pela provável presença hippie de pentelhos não-aparados e em pleno e franco desenvolvimento.
As músicas são belas e talvez pudessem ter sido delicadamente cortadas, evitando a repetição inútil e insistente dos refrões. É tudo original e muito verdadeiro, e é no mínimo interessante ver aqueles loucos pulando no palco - imagem tão distante do que se vê hoje quando os mesmos baianos põem os pés na ribalta: Bethânia perdeu os erres, Gal engordou e quase desmaia no palco depois de uma dieta mal feita, Caetano cortou o cabelão e se apresenta de paletó e gravata, e Gil... bem, esse aí virou ministro, mas pelo menos foi o único que aceitou falar à Folha de São Paulo sobre os episódios vividos pelos Doces Bárbaros.
Aqui em Salvador ainda está em cartaz, às 21h15, até hoje, na Cinema do Museu. Eu, para vocês terem a idéia do quanto me diverti, só digo o seguinte: vou comprar o DVD sem nem olhar o preço.
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Salvador é uma cidade feita de açúcar. Não queiram imaginar o que passei hoje pela manhã para conseguir chegar no trabalho com a chuva que caiu.
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No mais boa quinta - Namasté.