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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005

Iuuuuuuuuuuuuuuuuppppiiiii!!!


Serão seis dias. Não pretendo lembrar de nada que não seja alegria nesses dias. A minha sintonia será com ela, mesmo com pés cansados, mesmo com o cheiro ruim de urina na rua, mesmo sem saber as horas por medo de usar relógio. Mesmo assim, tudo que eu quero nesses seis dias é ser feliz. E nunca foi diferente disso. A minha alegria me imuniza e me protege. Tenho a impressão nítida de que uma aura de proteção se instala em meu corpo. As minhas armas estão na minha vontade de ser feliz sem parar nesses dias. E o resultado é que não vejo nada além disso: só percebo sorrisos, crianças no ombro dos pais, casais efêmeros de namorados, olhos que me caçam, olhos que eu caço, monumentos no trio, vozes que ecoam sons que fazem uma multidão estremecer, o fundo sedutor do trio elétrico para seguir. E alegria, espontaneidade, multidão de gente.

Não há nada como o Carnaval. Em nenhuma festa, em nenhum outro lugar, se vê a originalidade que se vê aqui. Em nenhum outro momento do ano as pessoas são tão felizes espontaneamente. Em nenhum outro tempo, em nenhuma outra festa, é tão fácil esquecer o que nos aflige, é tão fácil esquecer das contas a pagar, dos sonhos que ainda não se tornaram palpáveis. Em nenhum outro momento o mundo nos exige tão pouco. Pra ser feliz, a gente só precisa de um par de tênis confortáveis, um bom grupo de amigos e paz no coração. Isso porque tudo que esses dias nos cobram é um sorriso, ou dois ou três. Dispersa-se tanta energia nesta data que, não raro, depois do carnaval, existe uma gripe, geralmente batizada com um nome de sucesso do verão, que assola os que mais se excederam. Mas é aquela gripe de orgulho. Quem gripa, se divertiu mais, viu mais, pulou mais, beijou mais. Eu sempre gripo. Graças a Deus. Porque no Carnaval, apesar de eu não ser do tipo que dorme 2 horas por dia e enfrenta o virote numa boa, não economizo energia, não economizo na fantasia, não economizo na ilusão. Entro na festa como quem entra numa multidão que se move ao som do sucesso vibrante da temporada, entro nela como criança que entra na fantasia de super-herói favorito, como cantor que sobe no trio e sabe que está em rede nacional, como gente que pena o ano inteiro e tem seis dias para expurgar o que não serve.

E que batam os tambores, que saiam os trios. Vou trançar meus cabelos e me misturar, o tanto que der e eu puder, porque sem o charme da mistura não dá pra entender a magia dessa festa.

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E como vocês podem ver na foto, não resisti e entrei no clima totalmente. Passei na África hoje, rapidinho, e minha querida irmã de criação, de consideração e de coração, Andréa, trançou, durante quatro looooongas horas os meus cabelos. Você nem imaginam como dói: dói a bunda, dói o pescoço, doem as costas, dói o coro cabeludo. Só não doeu o bolso porque minha irmãzinha fez uma cortesia para mim. Não fiquei um Deus do Ébano, mas acho que dá pro gasto, né? Alguém aí se habilita a ninar um rasta branquinho?
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UPDATE (2 da matina)
(queres um conselho? Nunca reabras um baú que pretendes ver empoeirado pelo tempo, corroído pelas traças, habitado pelas aranhas, destruído pelo tempo. Se o tempo não tiver, ainda, sarado as lembranças e tornado lugar-comum o que mora alí, essa tua atitude infame poderá te trazer de volta sonhos que já eram esquecidos, viagens que foram de ida e volta, poeiras já distantes, mundos que já não podes mais acolher em teus braços. Da próxima vez, engula a chave, e finja que essa tua vontade é inerte, parada. Não rasgues mais o peito à procura do que fecha e abre esses lugares já sombrios. Deixa a chave perdida pelos teus mundos internos, pelas tuas entranhas em reconstrução.)