[tua ausência]

A tua ausência produz o vazio-preenchido, uma incompletude-completa, uma inércia-movimento, um silêncio-tua voz. Há tu, aqui, disso eu sei. Esse é o paradoxo dos meus dias que, mesmo sem ti, são completos, mesmo vazios de tua presença são preenchidos pela certeza de que estás aí, mesmo parados, sonolentos, estão em movimento constante. Como uma criança que segura um carrinho de brinquedo, dou corda nos meus dias e os ponho em movimento. Mas se estás aqui, não é preciso o gesto manual da corda, porque a tua presença já é o combustível, já é a força, já é a estrada.
Não tardará a chegar o dia em que o combustível virá em fluxos constantes, diários. Neste dia, quando haverá apenas eu, tu, nós, pegaremos o controle remoto e, apontando-o para o lado de fora da nossa janela, daremos o pause para o que vemos acontecendo lá fora: e nessa hora será o mundo enquadrado por nós, manipulado por nossa vontade. Será nós dois fazendo nosso filme.