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segunda-feira, 28 de novembro de 2005

[só a bailarina que não tem]

A bailarina chegou para ver as amigas no palco e decidiu, dez minutos antes de começar o espetáculo, que queria dançar junto com elas. Sem ensaiar mesmo, com uma roupa que lhe arranjaram de última hora, e como tudo que já tinha aprendido sobre os movimentos do corpo. E subiu no palco, junto com as outras meninas que sabiam de cor cada traçado, cada gesto, cada pulo, cada queda, cada salto.
Ela se arriscou a imitar os gestos, as quedas, os saltos. Não fez feio, mas foi estratégica: entrava em cena apenas nos momentos em que eram curtos os movimentos. Aprendia os passos nas cochia, com as amigas, segundos antes de entrar. A música ia tocando e ela acompanhava as evoluções. Entrava e saia de cena, às vezes arriscava uma corrida bem performática de um lado a outro do palco, um solo, como tantas vezes somos obrigados a fazer quando não ensaiamos o espetáculo do nosso cotidiano. 'Quantas vezes subimos no palco sem as vestes iguais às dos outros, sem os gestos memorizados, sem saber o que veio antes, sem saber o que vem depois, sem saber sequer o que é, agora mesmo, tudo isso...' pensei, lá no escuro do meu assento, protegido, sem luzes nem holofotes, enquanto via a bailarina arriscar-se em vôos rasantes por entre as outras perfeitas e ensaiadas bailarinas. 'Eu mesmo,' meu pensamento vagava, 'quantas vezes já subi no palco dez minutos antes do espetáculo e saí aplaudido, quantas vezes também só me restaram lágrimas no ar, porque os aplausos não vieram. Quantas vezes eu tive uma platéia muda, ausente...'.
Mas confesso que o ato da bailarina me estremeceu. Se não sou amigo do diretor, jamais teria notado que aquela loira de vestido preto, camaleoa perfeita, a menina-que-nada-ensaiou, era uma bailarina que não dançava há um ano e que teve o estalo da coragem e subiu no palco, confiou em nada-e-ninguém e pôs-se a dançar, a mexer-se em sincronia quando era possível, e sozinha, quando a dança que não ensaiara era o que movia as outras. 'É preciso leveza', deve ter pensado a bailarina. Leveza para seguir sem ensaiar, leveza para não se perder porque às outras já são conhecidos todos os gestos, leveza para dançar seguindo os passos ensaiados há séculos pelas nossas almas bailantes.
Coragem, leveza e fé na alma e em sua sabedoria, quando não resta mais nada além dessa memória tênue que temos da perfeição da nossa dança original.
(sortudo que sou, tenho amigos que são artistas no sentido maior da palavra. Ritoca, já te disse que seu Palavreado é a coreografia final das bocas em sincronia, você sabe o que quero dizer. Valter, esses porquês que nos artomentam ficaram lindos na interrogação enorme que você desenhou no palco e fez ficar mais tênues e leves os questionamentos eternos em nossos corações de criança. O que vocês fazem deveria ser repetido, repetido, repeitido, ad infinitum.)