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sábado, 26 de novembro de 2005

[desocupa meu neurônio]

Vai e leva tudo contigo e inclusive leva aquele neurônio que alugaste no meu cérebro durante meses a fio. Vai que já não te quero mais, nem em sonho, nem em realidade, nem numa voz fina ao telefone, nem em pensamentos, vai e não deixe rastro algum, não deixe nenhum sentido do que houve, não deixe sequer a sombra de ontem, vai que já passou da hora, o sino já tocou três vezes anunciando a morte do antigo, o sol já se pôs sete vezes e a amanhã não iluminará mais um caminho partilhado entre nós. A noite já anunciou o fim do dia, portanto, vai, vai e vai em paz, que te quero o mais longe possível, como nunca te quis, ou como sempre deveria ter querido, porque a tua distância poderia ser a salvação, como é agora. Vai porque já não tenho mãos, nem pés, nem cabeça, nem tronco, já não tenho mais nada aos teus olhos, já não vês mais o que vias antes, só me restam agora os mesmos olhos, pés, cabeças, mãos e troncos ressignificados, vistos pelo meu amor-próprio e sob uma luz tão intensa que me refaz pela sua própria luminosidade. Vai e não deixe nenhum sinal que estiveste aqui, que pisaste neste chão branco e brilhante, que pulsou, aqui neste peito, um coração por ti. Vai, exorcizo-te e liberto-te. Não haverá mais pensamentos, nem poesias, nem lágrimas que não viste. Não haverá mais pesadelos, medo do travesseiro verde, medo de entrar no cenário. Voltei ao escuro da barriga de minha mãe e renasço, novo, sem ti. Mas, para isso, é preciso que, por agora, te vás.

Sabes, porque já te disse, que esse ir não é eterno, mas preciso que te vás para que eu possa ser gestado na escuridão, para que eu possa reencontrar-me em mim mesmo, para que possa nutrir-me com força por esses meses em que estarei aqui, no útero escuro e cheio de água. Eu, respirando dentro d’água, anfíbio e depois réptil, humano, ereto, vivo, forte.

Eu, humano, de frente pra ti e livre daquele neurônio onde estiveste hospedado durante esses dias em que fui tão temporariamente feliz.
(Nem sempre um blog permite a presença do presente. Às vezes é preciso que o presente vire passado e transforme um desabafo num poema. Esse texto é bem assim. Faz sentido apenas pelas palavras, que um dia disseram muito, e por isso foram relegadas a uma pasta hoje velha e mofada, e que hoje, por não dizerem mais nada para mim, viraram apenas um emaranhado de palavras que podem até ser boas de degustar.)