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sexta-feira, 1 de julho de 2005

Sobre as coisas mortas e de como livrar-se delas

“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em um cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa de vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.”
(Antonio Cícero)

“Tudo que já tem tempo, leva tempo a compreender.”
( Pedro Ayres Magalhães)

Arrumava minhas gavetas hoje, uma amostra pequena ainda das milhões de gavetas que eu tenho, e que precisam de arrumação. Precisam ser postas ao vento, precisam respirar, precisam livrar-se de papéis velhos, de velhas fotos que não fazem mais sentido, precisam perder o mofo, o bolor das coisas velhas, trancafiadas, úteis ontem, inúteis hoje.

Tirei as gavetas com vontade das sepulturas em que se encontravam e vasculhei fio a fio, à procura de fatos meus registrados em papéis, fatos que foram, por assim dizer, fatos apenas, nada mais. Minhas gavetas continham segredos que eu guardei por anos, segredos que eu nunca joguei ao vento por medo de que um mendigo qualquer descobrisse as minhas senhas, e as atirassem ao mundo, me chantageassem a alma secreta, me divulgassem como um sub-produto das ruas. Revisitados os segredos, um a um, decidi incinerá-los das minhas lembranças. Não incinerá-los ateando-lhes um fogo covarde, mas incinerá-los olhando-os com desprezo, com um destemor quase perigoso, destemor de risco quando se olham para segredos tão antigos. Mas pela sua antigüidade mesmo eles mereceram o fogo do meu olhar, mereceram transformar-se na escuridão, mereceram o nada de onde vieram.

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É muito difícil para mim livrar-me do antigo, do guardado. É muito difícil também reabrir uma gaveta de anos atrás e ver que eu tenho, sim, a vela que era vital naquela noite escura, o fósforo para acendê-la e um castiçal para evitar o desastre. É triste saber que guardo inutilmente coisas na gaveta e esqueço de arquivá-las, igualmente, na memória. Ter e não saber que se tem é igual a não ter. Triste descobrir isso. Para tanto, precisei revirar as minhas velhas gavetas - você tem feito isso?

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É igualmente difícil para mim d(o)ar as minhas roupas, os meus sapatos, as minhas coisas. Sempre acho que posso precisar deles amanhã, mas a realidade é que eu nunca preciso, e me deparo sempre com eles, figurinhas fáceis, íntimas, sedentárias, de frente para mim no guarda-roupas. Alguns desses objetos são apenas inúteis - para mim - e o meu egoísmo não me permite ver-lhes a inutilidade, aceitando o fato de que alguém mais pode encontrar um uso neles. Outros são inúteis mesmo - para quelquer um - posto que velhos demais, mas aí já fazem parte de lembranças, ou podem servir para aquele dia em que se quer sair por aí como um mendigo que perdeu tudo...

Apesar da dificuldade, tenho exercitado o ato de doar. Entro no meu quarto, abro meu guarda-roupa, e a cada objeto que sai, sinto um peso a menos em mim. A responsabilidade de ter não tendo, por não saber usar.