Robôs
Tenho um amigo que vai ao mesmo restaurante desde criança e sempre pede o mesmo prato. Isso lhe deixa seguro. "Esse prato não tem erro", pensa ele. Esse, pelo menos em termos de restaurantes, prefere o de sempre. Vi o absurdo e um dia tentei mostrar pra ele um prato novo; ele arriscou, pediu, gostou. Mas ficou nisso: no outro dia, automatizado como um robô, se surpreendeu ao ouvir a própria voz pedir o velho prato. O robô que lhe habita acabara de dar-lhe outra rasteira.
Você passa os seus finais de semana fazendo o quê? Você de repente se pegou dizendo que queria fazer algo diferente? Eu já. Com o tempo, a gente se acostuma com os mesmos roteiros e se priva de coisas que poderiam dar um toque especialíssimo aos nossos dias. É certo que eu adoro rotinas, elas me deixam seguro, tranqüilo, afinal de contas a familiaridade que a gente tem com certos lugares já é, pelo menos a principio, uma garantia. Mas não quero apenas garantias para a minha vida. Quero riscos. Quero arriscar um passeio de trem pelo subúrbio, uma visita a uma rua que nunca fui. Um mergulho no mar de Amaralina, ou um passeio de bicicleta pelas ruas do Caminho das Árvores. Quero ir à Ribeira e pedir, nem que seja somente uma vez, um sorvete que não seja de tapioca. Quero comer ensopado de tatu no domingo à noite e desautomatizar o pedido de pizza, quero dormir cedo no sábado e acordar antes do meio-dia no domingo. Quero pegar um ônibus para uma cidade que não conheço, dormir em uma posição diferente. Quero as novas sensações, apesar de não estar cansado das velhas. A alternância do novo e do antigo poderia ser excitante. Mas não: me acomodo no de sempre. Preciso da ajuda do Deus da Mudança. Preciso de um choque, preciso que me tirem daqui este robô. E por que em tantos momentos da minha vida eu me reviro e me embaralho e me refaço e atendo a chamados de outras vozes, não posso cair nas armadilhas dos velhos hábitos.
(...por sinal, neste final de semana eu dormi cedo no sábado, mas não resisti ao velho mergulho no Porto da Barra. Um dia troco de praia. Pelo menos por um dia.)
Você passa os seus finais de semana fazendo o quê? Você de repente se pegou dizendo que queria fazer algo diferente? Eu já. Com o tempo, a gente se acostuma com os mesmos roteiros e se priva de coisas que poderiam dar um toque especialíssimo aos nossos dias. É certo que eu adoro rotinas, elas me deixam seguro, tranqüilo, afinal de contas a familiaridade que a gente tem com certos lugares já é, pelo menos a principio, uma garantia. Mas não quero apenas garantias para a minha vida. Quero riscos. Quero arriscar um passeio de trem pelo subúrbio, uma visita a uma rua que nunca fui. Um mergulho no mar de Amaralina, ou um passeio de bicicleta pelas ruas do Caminho das Árvores. Quero ir à Ribeira e pedir, nem que seja somente uma vez, um sorvete que não seja de tapioca. Quero comer ensopado de tatu no domingo à noite e desautomatizar o pedido de pizza, quero dormir cedo no sábado e acordar antes do meio-dia no domingo. Quero pegar um ônibus para uma cidade que não conheço, dormir em uma posição diferente. Quero as novas sensações, apesar de não estar cansado das velhas. A alternância do novo e do antigo poderia ser excitante. Mas não: me acomodo no de sempre. Preciso da ajuda do Deus da Mudança. Preciso de um choque, preciso que me tirem daqui este robô. E por que em tantos momentos da minha vida eu me reviro e me embaralho e me refaço e atendo a chamados de outras vozes, não posso cair nas armadilhas dos velhos hábitos.
(...por sinal, neste final de semana eu dormi cedo no sábado, mas não resisti ao velho mergulho no Porto da Barra. Um dia troco de praia. Pelo menos por um dia.)