"Ela voltou... e agora vai falar."
Meu amigo Antônio Valtter Leone explora os paradoxos das crenças humanas - muitas vezes criados pela falta de reflexão acerca do que já estabelecido - no seu novo espetáculo, Joana D'Arc, que estreou ontem no Teatro Diplomata (Patamares, Salvador-BA) e fica em cartaz apenas até hoje, domingo.
No seu novo espetáculo, que trás, aliados, teatro e dança, Joana D'Arc volta à Terra nos nossos dias e propõe seu rejulgamento. O texto denso e provocador de Leone, linda e visceralmente interpretado por Rita Leone, expõe uma Joana D'Arc com uma voz que pede liberdade, que pede uma nova reflexão, que clama por justiça. "Eu não quero ser santa", grita a personagem diversas vezes durante a montagem, negando uma condição que lhe foi praticamente imposta pela mesma Igreja que a levou para a fogueira 500 antes da sua canonização. É a fala de uma heroína que teve a chance de voltar, numa metáfora perfeita que simboliza um grito contra a hipocrisia e as imposições a que estamos submetidos pelos diversos dogmas com os quais convivemos.
Rita Leone está simplesmente linda e para espanto de muitos que não a conheciam pessoalmente, cresce de forma espantosa no palco, impondo à sua personagem brilho, carisma e força - características marcantes da heroína. Minha amiga Iara, na coordenação geral, dá um show com suas caras e bocas e a incrível capacidade de contornar sufocos, receber os convidados como se estivesse na porta de sua casa - todo mundo se sente especial e particularmente bem-vindo - e fazer a Cia de Dança brilhar. Foi uma noite maravilhosa, que culminou com uma resenha geral na Cantina Montanaro, num delicioso rodízio de pizzas onde o assunto principal não poderia ser outro: Joana D'Arc. Pra quem mora em Salvador e curte teatro, dança e reflexões acerca do mundo e das coisas, não perca.
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E o jantar me fez pensar numa coisa: ser garçom em restaurantes de rodízio é uma profissão que pode simplesmente destruir a auto-estima de uma pessoa. Quando os clientes chegam, o garçom é o salvador de suas vidas. A fome é tanta, que ele é o grande herói, "venha até nós", todos clamam. Uma bela metáfora da paixão, porque assim que estão saciados, a mera presença daquela pessoa de branco com gravatinha preta já dá mal-estar. E a natureza do seu trabalho o impede de parar de oferecer; ele quer que você coma, mas você diz não, você o renega. E o pior é que o seu não é irreversível - não adiantam insistências (pelo menos nas próximas duas horas). Ele te dá opções maravilhosas, sobremesas, mais um pedaço de picanha - porque, apesar de ser rodízio de pizza, a carne também ta incluída - , mas você olha para ele com o ódio típico dos saciados e diz um sonoro 'não'. Eu não agüentaria. Seria demais para a minha auto-estima.
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E pra quem não leu ainda a segunda parte da saga da gordinha, é só descer a página só mais um pouquinho e ver o que achou.