[eis édipo]
Já estava pronto para apagar a luz e veio uma frase.
Já está na hora de avançar, disse-lhe o espelho. Algo mudou, uma vassoura caiu no meio da noite, um estalo, um grito, depois um leve sussurro e imediatamente depois, sem avisos, o caminho, enfim, da maturidade.
Já era capaz de ouvir a vassoura caindo, no meio da noite fria, sem sentir aquele medo atroz de quando era criança e tinha de cobrir as orelhas e os pés, mesmo com o calor que invariavelmente fazia nos trópicos. Ele é filho dos trópicos. Filho também de pai e mãe amáveis por demais. Tem aprendido a amá-los, entendê-los, amá-los novamente e, como numa espiral que retorna a si mesmo, entender-se por completo. Mas voltando à vassoura: a vassoura é importante, pois é ela a metáfora dos medos que tinha, os medos que já passaram, assim como já passou a infância. Desta vez, no entanto, parece que já se vai de verdade. Os resquícios da queda da vassoura e do barulho seco que ecoou por dentro do quarto escuro, o grito, depois o sussuro. Os sons que povoavam o seu ambiente vinham decrescendo em intensidade absurda até o momento que surgiu o inevitável silêncio. Com ele, a vontade de abrir a sua própria porta, ter seu próprio olho de vidro, inabalável como o do Super-homem, ver a Terra lá de cima. A sua Terra, o seu mundo o seu Universo.
Voltou-se para a luz ainda acesa e lembrou-se do tempo em que se agarrava a ela, à claridade artificial que fazia rodar, solitário, o contador lá fora, para fechar os olhos sem o pavor que trazia a escuridão. Mas a luz, apesar de acolhedora, fazia revelar-se logo ali à frente a imagem da mãe sorrindo, mãe que estava no quarto ao lado, mas fazia falta como se já estivesse morta. Voltou-se de novo para a luz acesa, a luz que agora não mais se espalhava inteira pelo quarto, mas focava com leveza uma outra foto. Não era mais a mãe, não havia mais o medo, não havia mais o quarto ao lado, a parede - que para ele era a morte - o separando do seu grande e primeiro amor.
Agora, o que havia era a luz fazendo um túnel, iluminando a parte de si mais valiosa, parte que deixaria tranqüilamente no escuro enquanto embarcasse nos sonhos, por que tinha a certeza que ela voltaria nas horas oníricas muito mais viva, muito mais iluminada, porque agora vinha tomada por ele, por seus braços longos e calmos que acolhiam, que traziam para perto e punham-no ali, sob o foco radiante do seu olhar.
Voltou-se para a luz ainda acesa. Pensou novamente se havia uma nova frase. Não havia. Só um sentimento não-verbal era o que havia. Fez a oração de agradecimento, e fechou-se na sua escuridão, à espera dos novos sonhos.
Já está na hora de avançar, disse-lhe o espelho. Algo mudou, uma vassoura caiu no meio da noite, um estalo, um grito, depois um leve sussurro e imediatamente depois, sem avisos, o caminho, enfim, da maturidade.
Já era capaz de ouvir a vassoura caindo, no meio da noite fria, sem sentir aquele medo atroz de quando era criança e tinha de cobrir as orelhas e os pés, mesmo com o calor que invariavelmente fazia nos trópicos. Ele é filho dos trópicos. Filho também de pai e mãe amáveis por demais. Tem aprendido a amá-los, entendê-los, amá-los novamente e, como numa espiral que retorna a si mesmo, entender-se por completo. Mas voltando à vassoura: a vassoura é importante, pois é ela a metáfora dos medos que tinha, os medos que já passaram, assim como já passou a infância. Desta vez, no entanto, parece que já se vai de verdade. Os resquícios da queda da vassoura e do barulho seco que ecoou por dentro do quarto escuro, o grito, depois o sussuro. Os sons que povoavam o seu ambiente vinham decrescendo em intensidade absurda até o momento que surgiu o inevitável silêncio. Com ele, a vontade de abrir a sua própria porta, ter seu próprio olho de vidro, inabalável como o do Super-homem, ver a Terra lá de cima. A sua Terra, o seu mundo o seu Universo.
Voltou-se para a luz ainda acesa e lembrou-se do tempo em que se agarrava a ela, à claridade artificial que fazia rodar, solitário, o contador lá fora, para fechar os olhos sem o pavor que trazia a escuridão. Mas a luz, apesar de acolhedora, fazia revelar-se logo ali à frente a imagem da mãe sorrindo, mãe que estava no quarto ao lado, mas fazia falta como se já estivesse morta. Voltou-se de novo para a luz acesa, a luz que agora não mais se espalhava inteira pelo quarto, mas focava com leveza uma outra foto. Não era mais a mãe, não havia mais o medo, não havia mais o quarto ao lado, a parede - que para ele era a morte - o separando do seu grande e primeiro amor.
Agora, o que havia era a luz fazendo um túnel, iluminando a parte de si mais valiosa, parte que deixaria tranqüilamente no escuro enquanto embarcasse nos sonhos, por que tinha a certeza que ela voltaria nas horas oníricas muito mais viva, muito mais iluminada, porque agora vinha tomada por ele, por seus braços longos e calmos que acolhiam, que traziam para perto e punham-no ali, sob o foco radiante do seu olhar.
Voltou-se para a luz ainda acesa. Pensou novamente se havia uma nova frase. Não havia. Só um sentimento não-verbal era o que havia. Fez a oração de agradecimento, e fechou-se na sua escuridão, à espera dos novos sonhos.