[flores para quando tu sonhares]
Estou na cidade onde o tempo se estabiliza. Estou na cidade onde o tempo não passa. Fica. Essa é a cidade do Tempo, onde ele encontrou-se a si mesmo e parou. Parou e convidou os passantes a parar. A única noção que se tem das horas, por estas bandas, é o contorno que o bem-vindo sol faz nos céus – bem-vindo, porque há um frio estremecedor, que se aloja nas casas e nas sombras nesta época do ano. Não há relógios funcionando, pergunte a qualquer passante que a resposta será um tímido ‘não sei do que fala, esse tal de tempo, por aqui, nunca esteve’. O Tempo está. Desde sempre foi aqui o seu alojamento, desde a época em que chegaram aqui os negros, fugindo das horas amargas das senzalas, desde a época que passaram por aqui os portugueses construindo estradas que fariam o tempo parar e ficar. Desde as minhas velhas encarnações eu tenho passado por aqui. Talvez como escravo, opressor, minhoca, abelha que adora orquídeas, não sei. O fato é que tudo é tão familiar. Talvez porque é tudo muito parecido com o início. Desde o início onde, eu sei, não me engano, o Tempo já existia e fazia as coisas se moverem, mas já adormecia tranqüilo nos braços de quem escuta esse silêncio.
(O nome desse paraíso é Rio de Contas, BA. Estou a mais de mil metros suspenso no ar, em braços amados, por entre flores que de tão lindas e vaidosas se mexem tanto quando chego perto para fotografá-las, que não consigo o foco. O vento, nesse silêncio que faz aqui, me põe, também, a balancar, quase perdendo o equilíbrio em queda ao chão. Mas gosto dessa busca do outro pelo meu foco, gosto da dança que toma as mãos do fotógrafo enquanto ele tenta arrancar de mim a nitidez perfeita.)
(O nome desse paraíso é Rio de Contas, BA. Estou a mais de mil metros suspenso no ar, em braços amados, por entre flores que de tão lindas e vaidosas se mexem tanto quando chego perto para fotografá-las, que não consigo o foco. O vento, nesse silêncio que faz aqui, me põe, também, a balancar, quase perdendo o equilíbrio em queda ao chão. Mas gosto dessa busca do outro pelo meu foco, gosto da dança que toma as mãos do fotógrafo enquanto ele tenta arrancar de mim a nitidez perfeita.)