<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d8639429\x26blogName\x3dDi%C3%A1rio+Evolutivo\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dTAN\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://evoluirefluir.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_BR\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://evoluirefluir.blogspot.com/\x26vt\x3d-7690663095198134269', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>







quarta-feira, 1 de março de 2006

[três vezes ao dia]

Ivete já dava as caras logo ali em frente, no final do percurso. De cá, esperávamos a rainha, já ouvindo os graves da sua voz. Perto de nós, grave, ficava mesmo era a situação: com a cantora-maderada, veio também uma multidão que nos apertou o máximo que pôde. Estávamos ao lado de um isopor, que por pouco não foi amassado, cortado aos pedaços. Uma senhora de mais ou menos seus setenta anos fez uma muralha humana. Sim, ela era o próprio muro que protegia a caixa de isopor, seu ganha-pão.

:::

Outra senhora andava pelas ruas vendendo batata frita e um biscoitinho caseiro. Encontrei com ela, no percurso, umas quatro vezes. Numa mão, os biscoitos, noutra, as batatas, uma terceira mão, ela improvisou nos braços, onde carregava as latinhas que encontrava no caminho. Sua cara tinha um misto de tristeza, de resignação e arriscaria, até, um quê de alegria. Não a mesma alegria minha, mas uma alegria de quem vai ter o que comer por uns dias.

:::

Farol da Barra. Daniela em um trio. Brown em outro. Eu, logo ali embaixo. Um sujeito se aproxima e tenta roubar o isopor de um garoto. Começa uma briga, que logo abre um clarão na avenida.

- É isso que vocês querem, passar a noite na cadeia? – brada Daniela do alto do trio, com aquele ar de protetora, defensora sei-lá-de-quem.
- Com certeza não, Daniela! O que eles querem é educação o ano inteiro, não dá para querer educá-los apenas no carnaval. – brada de volta Brown, defensor de sei-lá-quem.

De cá, nós, sem microfones, sem nada na boca, mas com um eco enorme na cabeça. De quem é a culpa de tanta desigualdade?

:::

Enquanto isso, no Aeroclube, no Jardim Brasil e nos jornais, garotos e garotas de classe média alta compram a camiseta que lhes dará o passaporte para a jaula que protege desses pobres que catam lata, que brigam, que cheiram mal e que se jogam em cima do ganha-pão mesmo que suas rugas e pernas cansadas peçam que por favor parem.

Enquanto isso, a Band anuncia a música vencedora do carnaval e o apresentador diz que a festa foi linda, e que nunca viu tanta alegria nas ruas.