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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

[busú]

Há muito eu não andava de ônibus em Salvador. Ontem me deu um repente, deixei o carro na garagem e resolvi fazer o percurso Roma - Ondina - Paralela. Com certeza não escolhi o melhor dia para deixar o carro na garagem. Verão em Salvador, Rio Vermelho lotado por conta da festa de Iemanjá e Festival de Verão. Combinação explosiva. Quase duas horas para chegar de Ondina à FJA. Nessas horas, o bom mesmo é ficar escutando a conversa alheia (sim, porque eu não tenho discman, nem tão pouco MP3 player, tava tudo um saco, ia fazer o quê?)

Durante o percurso:

- Fulaninha tá de AIDS. E o marido quer matar ela.
- Foi corno, né?
- Não, ela que pegou dele.
- Como é que você sabe?
- Ah, ela acabou de ter uma filha e fez o teste antes. Tava boa, e não deu nenhum corno nele desde aquela época, então só pode ter sido ele, né?
- É certo.
- Mas ela levou uma facada também...

(...)

Neste momento passei a achar o papo pesado demais e sintonizei lá fora, afinal de contas o mar tinha um convite especial, era como se a Rainha chamasse, venham me admirem, me enfeitem, alimentem essa minha vaidade tão bem posta. O ônibus dava milhões de voltas e o casal atrás de mim não parava de soltar pérolas, que só não anotei por que corria o risco de enjoar e vomitar o ônibus todo. Apesar dos percalços, deu até pra filosofar. Notei, por exemplo, que baiano não faz fila: protege-se do sol na sombra do poste. É verdade, aqui em Salvador só se faz fila para esperar ônibus nos terminais, como Lapa, Mussurunga, Pirajá... e mesmo assim, quando o ônibus chega, a fila deixa de existir. Agora, coloque um poste, um sol de rachar e observe como todos se enfileiram na sombra projetada pelo poste na calçada. É a natureza querendo nos ensinar algo, diria meu avô, que gosta de colher as mais sábias lições desses pequenos fatos da vida.

Andar de ônibus tem suas vantagens, ontem deu na telha e fui mesmo. Confesso que me arrependi só um pouquinho. Detestei, por exemplo, descobrir que para atravessar a Paralela, do lado oposto à Jorge Amado, levam-se pelo menos dez minutos, por conta da distância e dos semáforos. Esperam-se quase dois minutos em cada sinal (são dois), têm-se apenas 10 segundos para atravessar cada um, e ainda corre-se o risco de ser atropelado ou morrer de susto quando um carro passa e faz questão de buzinar beeeeem próximo do rebanho de pedestres, todos alunos, que aguardam pacientemente os 99 segundos passarem, e depois passarem novamente. A impressão, ontem, diante da fome que eu sentia e do tempo escasso - comido a cada segundo pelos semáforos devoradores do tempo - é que pedestre nasceu pra sofrer mesmo, que eu nunca conseguiria chegar do outro lado, comer alguma coisa e abrir pontualmente a porta da sala de aula com um sorriso-de-quem-veio-de-audi, e ainda conseguir mantê-lo por mais duas horas. Mas o fato é que deu tudo certo: engoli uma coxinha de galinha fria e cheguei apenas com cinco minutos de atraso, dei até umas risadinhas durante a aula, o sol baixou e liberou a galera da fila do poste, o marido deve ter-se resignado e encontrado o tratamento para os dois, a festa de Iemanjá como sempre foi um sucesso, as linhas de ônibus voltaram ao normal, todo mundo continua com a esperança de que um dia vão construir uma passarela na frente da faculdade e certeza não falta de que virão outros verões e outras histórias contadas por outros idiotas, como eu, que deixam o carro na garagem e vão sentir a vida como ela é, sem nadinha pra amaciar a bunda no banco duro do busú.