[sem ponteiros]
Não me culpes se as horas passam, se os dias já estão lá pra trás e a fila de outros dias já estão na frente, esperando que venham suas horas, seus minutos, seus segundos e seus milimétricos e imperceptíveis micro-instantes, não me culpes se as velhas horas já estão mortas, se nem os ponteiros já estão mais inteiros e se tens agora que chegar mais perto e usar a tua antiga e confiante matemática para desvendar o agora em que te encontras. Não me culpes dessa cronologia devassa, potente e irascível que tu mesmo criastes, o cronômetro cujo botão com teu dedo acionastes. A culpa não é minha, não é do tempo - posto que ele já jaz no sepulcro do deus Chronos - não é deste sol que se põe e da lua que muda de fases, a culpa, entenda, não mora em ninguém, mas se quiser, abrace-a com teus braços que já sentiram o futuro, mas se recuaram, ávidos para tocar teus próprios pisos quase subterrâneos que não marcam horas novas, mas velhas e repetidas horas de relógios tão antigos quanto essa tua vontade de pisar em chão de barro e pedra.