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sábado, 15 de outubro de 2005

[mimetiza-me]

Era um siri e a cor dele era de concha. Portanto, para mim, ou para qualquer outro que andava na praia àquela hora, não era um siri. Era uma concha.

Mas para quem andava e parava, e não só olhava, mas via, de fato, tinha o prazer de notar uma concha que andava – sim, por alguns segundos a fantasia toma conta (é que somos seres que amamos as fantasias) – e se movia pra lá e pra cá, só para depois, num susto de realidade, notar que ali estava um siri e não pedacinhos de areia que se grudaram há anos e que agora andavam de mãos dadas. A realidade era o siri. A fantasia era que ele apenas fingia-se de concha.

Quanto a ele, se mimetizava para proteger-se. É que havia bem próximo dele uma cabeça de peixe ainda sangrando. Um banquete. E ia e vinha - às vezes pegando carona em uma onda – e comia um pouco e levava um pouco consigo. Mas só estava seguro enquanto parava e parecia uma concha, e entregava a mim o prato da ilusão. Ele comendo o peixe, eu comendo a ilusão de que ele era concha. Quando se mexia, sua condição de ser vivo gritava aos meus olhos. Eu poderia tê-lo esganado, pisado, maltratado, ou dito a ele mil vezes que não se mexesse, que siri que se mexe perde a camuflagem, entrega-se em sua condição verdadeira e um dia vira carcaça que alimenta outros siris.

Mas preferi ficar calado. Porque tinha o peixe sangrando, e tinha o banquete, e tinha o espetáculo da vida ali na minha frente. Vida que por vezes se camufla, vida que por vezes abre-se em asas, ou afoga-se em oceanos ou poças de tão pouca água. Mas vida que sempre oferece a cabeça sangrando do peixe que já morreu, o banquete que alivia a fome e prepara pra outras camuflagens ou saídas livres por aí.