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sexta-feira, 28 de outubro de 2005

[bitter]

-Que lágrimas são essas e de onde é mesmo que elas vêm, se acabo de pingar uma delas na minha boca e o gosto é de fel, como se elas tivessem surgido de um poço cheio dele, cheio dessas tuas mágoas antigas que ainda não destilaste, nem foste capaz de transformar em perfumes que agradam ao mundo ao invés de detê-las como um velho gosto amargo na boca?

- Não é fel, não é perfume, é apenas o velho salgado de minhas lágrimas mesmo, é que nunca tiveste a coragem de experimentar a minha dor, e agora que a tens assim, tão presente e salina em tua língua, sabes exatamente o gosto que têm. Não é fel, mas mata se não souberes, como eu um dia soube, mantê-las o tempo exato na boca, a fim de sorver-lhes o mínimo de pesar necessário que elas têm a oferecer.

- Pois já cuspi o teu fel, já amassei as velhas rosas e agora na minha boca só entram novas salivas, respiradas, alheias ao veneno que mora em teu poço.

- Salivas respiradas apodrecem e viram veneno pior que fel. Fica de boca fechada mesmo e alimenta-te desse gosto antigo que tens ai. Esse velho gosto humano, nada divino, que tens e também tenho, mas que não se junta mais ao meu em química mortal, nem fica guardado na minha saliva esperando que o ventilem, pois já se descobriu volátil e mal-cheiroso pelo passar da brisa.
(amargo, não? sorry!)