[de hojes]
Hoje o carro me deixou na mão. Hoje fechei os olhos e toquei as tuas mãos. Hoje meus olhos viajaram 497,10 milhas atrás desse teu cheiro que foi te seguindo a tantas por hora, hoje percorri de ônibus velhos quilômetros que nem mais via, apressado que sou dentro do carro, hoje tive um sonho revelador, um avião caiu e eu me salvei, ontem eu fiquei três horas no engarrafamento, ontem a cidade baixa era uma prisão onde se fazia uma festa imensa, hoje eu peguei ônibus, lembrei de pedir a mulher que me dê a bolsa que eu seguro, hoje fui liberado de um capítulo, hoje eu me deparei com a inveja e me arrependi de ter dito tanto, hoje eu quis ir à praia, mas te pus à frente de tudo e me contentei com um banho morno, hoje escrevi mil páginas e em cada toque vinha essa tua imagem semelhante, hoje esqueci da poesia e quis escrever uma prosa louca, hoje senti ódio, dor, tesão, paixão, tudo, então, me remetia a ti. Hoje eu dei um passo para trás e cortei o meu silêncio, combinei cantar no parque às onze horas, decidi ficar aqui na espera, fazendo meu mundo andar depressa para alcançar o seu sem pressa. Barriga na barriga, dente no dente, boca na boca. Horas a fio só nós dois, reduzindo a eu e tu, girando na rede, essas listas imensas do que faço sempre.