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quarta-feira, 17 de novembro de 2004

Mãos ao alto, ou vai levar dendê quente nos cornos!!


Você já deve ter ouvido falar daquela lista de coisas que ninguém nunca viu e portanto são consideradas inexistentes: cabeça de bacalhau, enterro de anão e ex-viado. Pois aqui na Bahia existe uma quarta coisa, que é baiana assaltada. Aqui não tem ladrão macho o suficiente pra meter a mão no tabuleiro de uma baiana porque ela tem uma arma poderosíssima: dendê fervendo! Pois é, mas esse post não é sobre baianas assaltadas, mas sobre baianas que assaltam. E eu fui assaltado a quase mão armada na última semana em Stella Maris (praia local). Calma, não é que a baiana veio toda de branco com uma daquelas máscaras a la Irmãos Metralha e mandou que eu passasse tudo. Não é isso. Vou contar:

Eu estava em uma barraca na referida praia e para os que não conhecem a Bahia, é costume haver várias baianas de acarajé próximas a esses locais. Pedi um acarajé a uma delas e fui atendido na minha mesa. Comi o acarajé e algumas horas depois, surge uma baiana perguntando se eu queria mais alguma coisa:

- Quero sim, freguesa, quero te pagar logo.
- Foi com camarão, né? Dois e cinqüenta.

Saquei meus dez reais e esperei o troco, que veio, certinho. Meia hora depois, para minha surpresa, passa outra baiana:

- Viemos aqui pra fechar a conta.
- Como assim? Acabei de pagar a conta.
- O senhor pagou a quem, freguês?
- A uma das suas. Ta aqui ó, olha só o troco que você me deu.
- Eu mesma não. Vou ver se foi com a outra.

Não tinha sido com a outra. Pelo menos achava eu, na minha dispersão - já disse aqui que sou distraído e péssimo fisionomista?

- Deixa Vinis chegar então - disse eu, agarrando-me à minha última esperança antes que o acarajé de dois e cinqüenta passasse a custar cinco reais - mas o que é que pode ter acontecido? - pergunta eu, mais perdido do que cego em tiroteio com a tal da história.
- É que a outra baiana tem mania de fazer isso. Recebe por nós.

Ficou bonito pra minha cara. Eu não podia acusar ninguém, porque eu mal tinha olhado para quem eu tinha pagado e, se Vinis não lembrasse do ocorrido, teria de pagar novamente, porque eu não sou de acusar sem ter certeza. Avistei a minha possível salvação. Vinis apontou lá da escada e no olhar dele eu já sabia que ele sabia não só o que significava aquele auê embaixo do meu sombreiro, mas também quem era a baiana assaltante.

- Pode ficar aí que eu resolvo tudo. - falou, numa decisão virginiana.

Andou até a barraca, apontou o dedo na baiana ladra.

- Ei lembra que meu amigo te pagou o acarajé?
- Que hora foi isso? - perguntou a tal, com um ar pernóstico.
- Você não quer que eu te diga, quer? - ameaçou Vinis, estouradíssimo, já olhando na direção da bacia de dendê.
- Quanto a gente te deve? - interrompeu a 'baiana-mãe', oferecendo-se logo pra pagar.

Vinis recebeu o dinheiro e voltou para a barraca. Eu ainda fui lá e fiz várias perguntas, irritadíssimo, a tal da assaltante. E ela foi cínica e sarcástica. Que coisa feia. Imagine se é com um turista? Imagine se Vinis não tivesse lá? Mas isso não estragou o meu dia de sol. Aliás, nada, nem um acarajé de cinco reais poderia ter estragado. Porque eu acabei de lembrar de mais uma coisa que não existe: desperdiçar um dia de sol na Bahia por conta de uma baiana safada.