Halloween
Tem uma professora no Instituto de Letras da UFBA, onde sou mestrando, que eu admiro muito. Ela conhece a área em que leciona como ninguém, e é muito bom ter um professor que de fato entende do que está falando – você se sente seguro, completo nas suas expectativas e ansiedades. Ser aluno dela seria um prazer indefinível, não fosse uma característica que quase anula todo o conhecimento que ela tem: ela é grossa, não tem quase nenhuma maturidade emocional e não sabe tratar com as pessoas. E isso é lamentável, porque todo conhecimento dela vai diretinho para o bueiro mais próximo, simplesmente porque ela não sabe tornar seus alunos de fato receptivos a todo aquele conhecimento. Corrigo: ela sabe sim, mas somente os alunos que de fato se destacam na matéria dela – que é muito difícil, diga-se de passagem. Esses são claramente tratados com uma diferença constrangedora. Eu, que não tive destaque – mesmo porque tratava-se de uma cadeira fora da minha área –, me senti por vezes tratado como um lixo. No início eu até achei que era impressão, e que eu estava apenas agindo como um menininho mimado. Mas não era: vi outras pessoas serem maltratadas também. Uma pena, uma grande pena.
Hoje tive de tratar com ela assuntos curriculares e mais uma vez ela usou de expressões tipo “meu filho”, que dita com uma entonação especial pode detonar a auto-estima de qualquer um, principalmente quando você está diante de alguém que você admira muito e, por isso, diante mão, já tem um certo poder sobre você, como é o meu caso. Mas não quero ficar aqui falando mal de ninguém, a intenção não é essa, mas eu tinha de escrever sobre isso, porque trata-se de algo que vem me incomodando há um ano, porque diante daquela mulher eu de fato me sinto o 'cocô do cavalo do bandido', e isso me incomoda. E eu andei me perguntando por quê. Encontrei a resposta na minha infância, quando eu sempre respeitei e temi excessivamente meus professores. Por considerá-los dotados de um poder especial (?), eu sempre os idolatrei de uma forma que os tornava 'inalcançáveis'. Tímido que eu era, qualquer olhar mais direto sobre mim me fazia tremer, gaguejar. Essa foi a relação que tive com meus professores até entrar na faculdade, pasmem! Neste momento, as coisas começaram a mudar, me sentia mais seguro e deixei a timidez de lado, aprendi a contestar, questionar e não ter medo de nenhum professor – porque o que de fato eu sentia antes era medo mesmo. Naquela época eu já estava me tornando um educador – estão sentindo aqui a complexidade da coisa? Pois então, anos depois de formado me bato de novo com este fantasma. O fantasma é o mesmo, mas está mais apaziguado. Sei contestá-la sim, sei perguntar e, apesar das reações dela, não me privo dos meus direitos de aluno (afinal, isso nem faria muito sentido para um homem de 30 anos...).É certo que na hora em que ela age dessa forma, a minha vontade – e não achem que eu não teria coragem pra isso – é a de perguntar porque ela me trata com aquele tom de voz, se ela tem algum problema, se ela é feliz, etc. Mas não posso, ainda não posso, principalmente porque ela não teria maturidade para conversar a respeito do assunto ou ter alguém que a contestasse tão diretamente – nesse mundo de universidades e de avaliações subjetivas, acho que vocês entendem que a última coisa que eu quero é alguém me perseguindo.
E fica a reflexão:o que faz a diferença, no exercício da minha profissão, é saber como lidar com emoções como impaciências, transferências, medos, ansiedades, quando você tem tamanha responsabilidade nas mãos. Um “meu filho” mal dito pode destruir a auto-estima de um aluno e condená-lo a nunca mais querer aprender inglês na vida, um tom de voz diferente pode gerar conflitos de tamanhos incalculáveis. Todos nós estamos suscetíveis a dias mais estressantes, dias em que a paciência está no limite, mas estamos lidando com vidas humanas, com sonhos em construção, com pessoas que se abastecem a cada dia com o nosso conhecimento e saber lidar bem com estas emoções é imprescindível. O compromisso de um educador é com a paz, com o bem-estar, com o ‘conforto emocional’ (termo que roubo de meu querido amigo mineiro Eduardo Galvão) de seus alunos. Para muitos – como para mim, como aluno – o professor é um herói dotado de super poderes – eu sei que de fato não é assim, mas essa é a metáfora mais próxima que eu encontro. Acho que só me resta agora rezar pela alma desta pobre criatura, e pedir a Nossa Senhora dos Educadores que dê a ela muita paz e serenidade para lidar com os desafios da vida.
Hoje tive de tratar com ela assuntos curriculares e mais uma vez ela usou de expressões tipo “meu filho”, que dita com uma entonação especial pode detonar a auto-estima de qualquer um, principalmente quando você está diante de alguém que você admira muito e, por isso, diante mão, já tem um certo poder sobre você, como é o meu caso. Mas não quero ficar aqui falando mal de ninguém, a intenção não é essa, mas eu tinha de escrever sobre isso, porque trata-se de algo que vem me incomodando há um ano, porque diante daquela mulher eu de fato me sinto o 'cocô do cavalo do bandido', e isso me incomoda. E eu andei me perguntando por quê. Encontrei a resposta na minha infância, quando eu sempre respeitei e temi excessivamente meus professores. Por considerá-los dotados de um poder especial (?), eu sempre os idolatrei de uma forma que os tornava 'inalcançáveis'. Tímido que eu era, qualquer olhar mais direto sobre mim me fazia tremer, gaguejar. Essa foi a relação que tive com meus professores até entrar na faculdade, pasmem! Neste momento, as coisas começaram a mudar, me sentia mais seguro e deixei a timidez de lado, aprendi a contestar, questionar e não ter medo de nenhum professor – porque o que de fato eu sentia antes era medo mesmo. Naquela época eu já estava me tornando um educador – estão sentindo aqui a complexidade da coisa? Pois então, anos depois de formado me bato de novo com este fantasma. O fantasma é o mesmo, mas está mais apaziguado. Sei contestá-la sim, sei perguntar e, apesar das reações dela, não me privo dos meus direitos de aluno (afinal, isso nem faria muito sentido para um homem de 30 anos...).É certo que na hora em que ela age dessa forma, a minha vontade – e não achem que eu não teria coragem pra isso – é a de perguntar porque ela me trata com aquele tom de voz, se ela tem algum problema, se ela é feliz, etc. Mas não posso, ainda não posso, principalmente porque ela não teria maturidade para conversar a respeito do assunto ou ter alguém que a contestasse tão diretamente – nesse mundo de universidades e de avaliações subjetivas, acho que vocês entendem que a última coisa que eu quero é alguém me perseguindo.
E fica a reflexão:o que faz a diferença, no exercício da minha profissão, é saber como lidar com emoções como impaciências, transferências, medos, ansiedades, quando você tem tamanha responsabilidade nas mãos. Um “meu filho” mal dito pode destruir a auto-estima de um aluno e condená-lo a nunca mais querer aprender inglês na vida, um tom de voz diferente pode gerar conflitos de tamanhos incalculáveis. Todos nós estamos suscetíveis a dias mais estressantes, dias em que a paciência está no limite, mas estamos lidando com vidas humanas, com sonhos em construção, com pessoas que se abastecem a cada dia com o nosso conhecimento e saber lidar bem com estas emoções é imprescindível. O compromisso de um educador é com a paz, com o bem-estar, com o ‘conforto emocional’ (termo que roubo de meu querido amigo mineiro Eduardo Galvão) de seus alunos. Para muitos – como para mim, como aluno – o professor é um herói dotado de super poderes – eu sei que de fato não é assim, mas essa é a metáfora mais próxima que eu encontro. Acho que só me resta agora rezar pela alma desta pobre criatura, e pedir a Nossa Senhora dos Educadores que dê a ela muita paz e serenidade para lidar com os desafios da vida.
Desculpem-me o desabafo e obrigado por me ‘ouvirem', mas vão se acostumando, porque o Diário Evolutivo também é um divã. (Ah sim, e fiquem à vontade para contar sobre as 'professoras-bruxas' que cruzaram seus caminhos... sou todos ouvidos, ou olhos, se preferirem.)