Não-Leo
Hoje tem festa! E festa das boas, com Margareth Menezes botando pra ferver no Pestana, no lançamento do Bloco Os Mascarados. Festa à fantasia, pra quem quiser pôr a máscara e fingir, fingir, até cansar. E eu, como bom fingidor que sou (bom, mas não tão bom quanto o poeta), não vou ficar de fora. De que eu vou? Acho que vou de não-Leo, vou fingir que não sou eu. Vou observar a reação das pessoas ao me verem vestindo a máscara do meu contrário, da negação do que eu sou. Vou fingir que não conheço amigos de velhos anos e tratá-los como se os tivesse conhecido ontem. Vou olhar para o mar do Rio Vermelho e saudá-lo como se saúda a um estranho; vou fingir que nunca me emocionei olhando do alto suas ondas lutando contra as pedras. Durante o show, não vou olhar para os lados, vou fingir que não quero nem um beijo na boca e que estou muito feliz só, obrigado. Por trás da máscara, estará o verdadeiro Leo, protegido, intacto. Do lado de fora, o mundo. Serei um Leo inventado, uma produção falsa, uma fantasia de carnaval. Feito de mentira, mas movido por uma verdade, uma alma. Qualquer gesto meu em falso poderá fazer a máscara cair e, com ela, se revelará a minha alma. Então, que se revele e, junto com esse não-Leo, de mãos dadas, formem o par mais improvável, beijem-se e reconciliem-se e sintam-se como há muito não se sentiam. Por que em fevereiro, para o Carnaval, as duas alegrias terão de estar unidas numa ilusão apenas, que durará até a terça-feira, quando se indispõem de novo, para viver os dias que seguem às cinzas.